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Rondonópolis
, 11 maio 2024
 
 

A cultura é parte da biologia humana, e ela não nos liberta da rocha de Sísifo

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(*) Fabio Angeoletto

No livro “A different kind of animal: how culture transformed our species” (Princeton University Press, 2017, 248 p.) Robert Boyd, que é professor de evolução humana na Universidade do Arizona, descreve como, através do aprendizado social e da evolução cultural cumulativa, as sociedades se adaptam a ambientes em mudança e desenvolvem ferramentas e tecnologias cada vez mais sofisticadas. Nossa capacidade de aprender por imitação e nossa psicologia de confiança são usadas para explicar a centralidade das normas sociais e ademais por que e como os seres humanos têm sido há muito tempo “supercooperadores”. Milênios de evolução cultural cumulativa ajudaram a criar uma vasta rede mundial de especialização e intercâmbio. Os seres humanos são os únicos em que as pessoas cooperam em grandes grupos de indivíduos com escasso ou nenhum parentesco para fornecer uma enorme variedade de bens, materiais e informações.

Para Boyd, os seres humanos adaptam-se a uma grande variedade de ambientes não principalmente aplicando a inteligência em um nível individual para resolver problemas, mas via “adaptação cultural cumulativa” e, em longo prazo, haveria uma seleção darwiniana entre culturas com diferentes normas sociais e valores morais. Isso quer dizer que a inteligência na escala individual é menos importante do que a inteligência coletiva, aquela que deriva de um grupo. O principal mérito de Robert Boyd é situar a cultura no âmbito da natureza. Seu livro é uma afirmação contundente de que a cultura é parte da biologia humana, opondo-se a um discurso tolo e frequente entre acadêmicos das ciências humanas, aquele de que a cultura suplantou a biologia, no caso do Homo sapiens.

Uma contraposição vigorosa ao enlevo de Boyd com a capacidade sui generis de acumulação cultural da espécie humana pode ser encontrada nos livros “Cachorros de Palha: reflexões sobre humanos e outros animais” e “The Silence of Animals: On Progress and Other Modern Myths”, ambos do filósofo britânico John N. Gray. Para Gray, é verdade que os humanos são distintos dos demais animais, sobretudo pela sua capacidade em acumular conhecimentos. Contudo, assim como os demais seres vivos, prossegue o filósofo, os humanos não são capazes nem de controlar seu destino, e nem de utilizar a sabedoria acumulada através dos milênios para viver melhor. Desnudando o que denomina de mito do progresso, Gray observa que a história humana é como um ciclo que se repete, sem evoluir. Ou, dito de outra forma, embora o crescimento do conhecimento seja real (ele é cumulativo, como assinala Robert Boyd), e melhorias nas sociedades e governos ocorram, elas são fugazes (de um ponto de vista histórico). Períodos ilustrados são seguidos por tempos de barbárie. Assim, a história dos primatas humanos não seria uma seta inexorável rumo ao progresso ou ao declínio, mas um balanço circular inescapável entre perdas e ganhos recorrentes. Estaremos condenados sempre a uma fuga adiante? Para sempre condenados a reinvenções decorrentes da cultura, mas sempre empurrando a rocha de Sísifo? Igualmente como as questões formuladas por Robert Boyd em seu livro, essas não são perguntas triviais.

(*) Fabio Angeoletto é professor do Mestrado em Geografia da UFR

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