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Rondonópolis
, 19 maio 2024
 
 

Qual racismo você conhece?

(*) Graziely Lemes

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Quando falamos em racismo, automaticamente, pensamos em cenas odiosas de agressão verbal ou física entre algumas pessoas ou famílias, no entanto, outros rostos compõem essa estrutura de uma maneira mais maquiada. Violências acontecem o tempo todo debaixo do nosso nariz sem que, muitas vezes, a gente se dê conta disso.

Por exemplo, a violência racista está presente quando a escola pública, principalmente em bairros mais afastados do centro, não tem quadra coberta, salas de aula adequadas e suficientes para atender todas as pessoas que usam esse espaço, sem falar nas condições que a equipe escolar costuma enfrentar, muitas vezes sem recursos básicos e uma lista infinita de obstáculos que só mesmo quem conhece os azulejos dos trabalhos na escola pública e periférica é capaz de nomear.

Os bairros em que essas escolas ficam costumam ser morada de pessoas que ganham muito pouco se comparado aos bairros onde as “melhores escolas da cidade” e seus frequentadores moram. Isso significa que nesses bairros existem mais pessoas negras porque, desde sempre no Brasil, pessoas negras ganham menos (também) porque tem menos condições de acesso à educação, o que reflete em maiores dificuldades em encontrar um trabalho com salário como o das famílias cujos filhos estudam nas “melhores escolas da cidade”. Este é um ciclo vicioso, não é?

O que quero dizer é que entendo que precisamos nos esforçar e nos dedicar a perseguir nossos objetivos. Mas não dá pra comparar as possibilidades de uma pessoa que tem microscópios e uma sala específica para cada atividade educacional com as possibilidades de uma pessoa que estuda em salas superlotadas em ambientes muitas vezes abandonados pelo poder público.

A grande sacada disso é que muitas vezes o racismo opera como uma dança secreta e eficiente. Quando a educação pública tem redução de verba, congelamento de gastos, paralisação do crescimento e todas essas coisas que as autoridades políticas dizem diante os palanques, ainda que não sejam coisas direcionadas diretamente para pessoas negras, são decisões que funcionam para não quebrar o ciclo vicioso que mantém as pessoas negras fora das “melhores escolas da cidade”. Isso precariza ainda mais a educação de quem sempre teve menos direito nessa terra colonizada, aumenta a diferença entre quem pode e quem não pode estudar, ir pra faculdade pública ou escolher o que quer (ser) da vida.

Quando as famílias precisam se engalfinhar para conseguir uma vaga na creche pública, na escola do bairro ou quando ali nem tem creche ou escola precisamos desconfiar dessa falta. Quem são essas crianças que tem seu direito à creche dificultado ou negado? Quem é a juventude que está nas piores condições de ensino? Quem são as pessoas que não vão pra faculdade pública? Quem são as pessoas que se formam nas profissões mais bem pagas? Qual a cor dessas pessoas todas? Qual a cor de seus antepassados?

Precisamos nos fazer essas perguntas para perceber que o racismo existe para muito além da raiva de um insulto ou do riso amargo de uma ofensa humorada. O racismo é uma estrutura complexa que se movimenta na tentativa de manter pessoas negras em posição constante de inferioridade, material e intelectual, e está sempre pronta para se disfarçar de qualquer outra coisa com um nome menos manjado.

Aguçar nossos sentidos para essas questões é muito importante para entendermos porque o racismo é um assunto sempre em alta e nos dar condições para mudar a realidade do nosso entorno e, quiçá, do mundo para algo mais justo em um cenário onde ser anti racista seja mais comum que o racismo em si.

(*) graziely dos reis lemes é bacharel em Psicologia, mestranda em Educação pela UFMT.

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1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns pelo artigo, nota dez. Temos a obrigação de meter a boca no trombone para que a realidade seja posta a público e cobranças das autoridades, pois se ficarmos calados nada muda.

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