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, 20 maio 2024
 
 

O espírito rotário

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Jerry Mill de paleto - 10-04-13
Há uma conhecida expressão na língua portuguesa que nos convida a pegar o espírito da coisa. À primeira vista, tal construção parece estranha e sem sentido, principalmente para os estrangeiros ou aqueles brasileiros não muito chegados ao pensamento e à análise da realidade que nos cerca. Afinal, de que coisa estamos falando? E será possível pegar o seu espírito? Espírito não é algo, digamos, abstrato?
Poderíamos também falar do Espírito Santo, do espírito de Natal e do espírito de porco, bem como de quem é pobre de espírito ou notadamente tem presença de espírito, mas este não é o meu estado de espírito hoje. Quero abordar tal construção linguística com base no sentido e sentimento rotário.
Embora a palavra tenha mais a ver com abstração e carregue em si um quê de religiosidade, entendo o espírito rotário como um compromisso moral, pessoal ou coletivo, que faz com que um indivíduo ou um grupo de pessoas cumpra um contrato inexistente, e se empenhe em fazer algo que, cedo ou tarde, vai trazer benefícios para toda a coletividade. Muito antes de ser abnegação ou alienação, trata-se da exatidão de pensamento que nos faz reconhecer o quanto a nossa pseudo insignificância faz diferença na vida de tantas pessoas que cruzam os nossos caminhos durante a nossa existência, mesmo daquelas que tentamos evitar.
É compreensível que nem todo indivíduo, e por extensão nem todo rotariano, tem ou está disposto a ter o mesmo nível de altruísmo e benevolência que figuras como Gandhi e Madre Teresa de Calcutá demonstraram quando ainda estavam entre nós. O espírito rotário, porém, não exige muito e nem mesmo faz da filantropia um fim em si mesmo. Muitas vezes incompreendido, ele se propõe simplesmente a tentar ajudar, a unir forças com outros membros, voluntários e parceiros do Rotary na oferta de serviços que vão trazer melhorias efetivas e evidentes no campo da saúde, educação, meio ambiente e paz mundial, por exemplo.
Engana-se redondamente aquele que vê no Rotary Club e no Rotary Internacional uma forma fácil e rápida de obter dividendos pessoais, sociais, políticos ou financeiros. Não que isso nunca aconteça ou tenha acontecido, convenhamos. Entretanto, assim como devemos acreditar que há mais trigo do que joio quando da nossa colheita, prefiro acreditar que somente indivíduos (e rotarianos) de espírito fraco e ética pueril é que caem com facilidade nas graças (ou garras) das tentações que nos rodeiam.
No mundo rotário, palavras como companheirismo e tolerância não podem ou devem ser empregadas de forma aleatória e inconsequente – ditas da boca para fora, como se diz no português cotidiano. Companheirismo se põe em prática em todos os momentos, e não apenas quando são feitas reuniões informais em chácaras, sítios ou quetais, e o verdadeiro companheiro é aquele que nos repreende ou chama a nossa atenção quando disso precisamos. Por outro lado, tolerância não ocorre quando somos contrariados e aceitamos passivamente, ou somos ofendidos e nos calamos. Entendo a tolerância no sentido de reconhecer minhas limitações e meus defeitos, e saber que as outras pessoas (rotarianas ou não) são semelhantes a mim, daí elas merecerem que eu conte até dez antes de dizer ou fazer alguma coisa quando minha intenção é revidar verbal ou fisicamente. Agora, já parou para pensar o quanto somos contraditórios todo santo dia?
Em resumo, tenho percebido que a bondade e a fraternidade são princípios básicos que norteiam o espírito rotário, esta entidade abstrata que apenas se materializa diante de cada um de nós quando alguém, por algum motivo, deixa de pensar em si por alguns instantes e resolve dar de si. Em outras palavras, me arrisco a dizer que há o espírito rotário em cada um de nós. Às vezes ele parece estar reprimido, esquecido, tímido, isolado ou controlado. Alguns o demonstram com enorme alegria e senso de realização; outros preferem guardá-lo para mais tarde – quando já pode ser tarde demais, tanto para si mesmo quanto para quem dele necessita.
Pense nisso: quando o sol não está presente, seja a luz na escuridão. Identifique, acalente e demonstre o seu espírito rotário…

(*) Jerry Mill é  Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado representativo e oficial de intercâmbio do Rotary Club Rondonópolis (D4440)

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