Ouço tantas vezes essa pergunta. Teria ainda, em pleno século XXI, algum sentido doar a vida para ser padre? Talvez, muitas pessoas possam achar que isso não faz nenhum sentido. Para mim e para tantos outros, isso ainda faz todo o sentido. E o motivo é uma coisa só: vocação.
Quando contemplamos o universo, o mundo, a criação, podemos notar que existe uma harmonia em todas as coisas. Elas tem um sentido. Deus, em sua perfeição, criou o mundo dotado de harmonia e sentido. Tudo tem um propósito, nada é por acaso. Isso é válido também para nós, seres humanos, a nossa existência tem um propósito, a nossa vida nesta terra tem uma razão de ser. Nenhum ser humano está neste mundo por acaso. Todo tem um chamado, uma vocação!
Certa vez disse Jesus: “Quem se agarrar à vida irá perdê-la, quem a perder por mim a conservará” (Mt 10,39). Num tempo em que as pessoas mais do que nunca buscam a felicidade, buscam uma vida realizada, uma carreira bem sucedida, o bem estar e tantas outras coisas do mesmo gênero, estas palavras de Jesus soam, no mínimo, como um ideal ultrapassado de uma época onde o obscurantismo religioso dominava as pessoas. Que sentido teria perder a vida, entregar a vida nas mãos de outros, se eu posso ser livre, independente, autônomo? O melhor caminho para ser feliz não seria aproveitar a vida “adoidado”, aproveitar a juventude e preservar a vida ao máximo?
Que grande ilusão a nossa! Quanto mais nos apegamos à nossa vida, quanto mais lutamos para “salvar a nossa pele”, quanto mais quisermos viver para nós mesmos, fechados no nosso egoísmo, mais nos perdemos. Foi assim com Adão e com Eva no paraíso, foi assim com tantas pessoas que tinham tudo, fama, beleza, riqueza, poder e nunca alcançaram a felicidade, é assim com todos nós. Todas as vezes que buscamos preservar a nossa vida, que a todo custo queremos fugir do sofrimento, evitar a dor, ter uma vida muito prazerosa, todas as vezes que tomamos este caminho, estamos, na verdade, nos destruindo.
Somos um dom de Deus, nossa vida é um presente, e o presente só tem sentido quando ele é doado. Só realizamos a nossa vida plenamente à medida que fazemos da nossa existência uma doação a Deus e aos outros em Deus. O tão buscado segredo da felicidade já nos foi revelado há quase dois mil anos: “Quem se agarrar à vida vai perdê-la, quem a perder por mim a conservará”, sábio mestre Jesus!
Jesus diz esta frase logo após convidar os discípulos a tomarem a Cruz e segui-lo. Vocação é exatamente o caminho que Deus preparou para seguirmos Jesus gastando a nossa vida em favor Dele e do nosso próximo.
Se entendermos o que é vocação, então podemos entender o que é o sacerdócio, e por que ainda hoje tem sentido tornar-se sacerdote. Como disse o Papa Bento XVI: “Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir” (carta aos seminaristas, 18 de outubro de 2010).
Vida sacerdotal, religiosa, matrimonial, missionária, são caminhos preparados por Deus para nos doarmos e desta forma encontrarmos o sentido da nossa vida. Para cada um de nós, Deus preparou um caminho! Cabe a nós responder se queremos trilhá-lo. Seja qual for o caminho que Deus nos dá, será um caminho de doação de si, mas um caminho que nos dará a felicidade plena e eterna, a felicidade que o mundo não pode dar.
(*) João Henrique Corrêa, diácono, será ordenado padre no dia 21 de março de 2014, na Igreja Bom Jesus, Juscimeira
