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Rondonópolis
, 20 maio 2024
 
 

Escola: doces lembranças

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“Apesar de todas as suas lutas, desafios, conquistas e em alguns momentos retrocessos, a escola pública tem sido um dos espaços socioeducativos fundamentais na promoção do conhecimento científico e mediação dos valores éticos”
“Apesar de todas as suas lutas, desafios, conquistas e em alguns momentos retrocessos, a escola pública tem sido um dos espaços socioeducativos fundamentais na promoção do conhecimento científico e mediação dos valores éticos”

São exatamente cinco horas da manhã, levantei com uma doce lembrança dos meus tempos de escola. Lembrei-me de professores, colegas e de uma realidade pedagógica, que apesar do rigor em alguns momentos, transcendeu aquele período histórico.
Parece que foi ontem que muitos de nós dávamos os primeiros passos no ambiente escolar, e ali começávamos a entender o valor do conhecimento, da amizade, do respeito e uma série de valores que iriam corroborar para o nosso crescimento enquanto cidadãos do mundo.
Estudei em duas escolas que ainda hoje fazem parte do cenário estudantil rondonopolitano: a Escola Estadual de I Grau Lucas Pacheco de Camargo e a Escola Estadual de I e II Graus Daniel Martins de Moura. Aliás, pertenci à primeira turma da escola Lucas Pacheco de Camargo, alunos do ano de 1985.
Tive bons professores que não apenas dominavam o conteúdo programático, mas, que sabiam interferir de modo positivo na construção do nosso caráter. Dentre muitos, não consigo esquecer, por exemplo, da professora Dora que com objetividade, paciência e diálogo me alfabetizou, o que me proporcionou a entrada num cenário que estava restritivo àqueles que dominavam o mundo das letras. Tenho saudades do modo como ela nos olhava e do seu sorriso carinhoso que transmitia uma espécie de cuidado e de preocupação.
Não me esqueço do professor Antônio, e que se não me engano, lecionava Ciências. Como era incomum, bom e surpreendente, quando ele com o seu violão, além de nos transmitir os conceitos básicos do campo biológico, cantando, nos ensinava, valores como igualdade, companheirismo e justiça social, ao recitar a letra de uma música que diz: “irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra, um novo lar. E nesse dia, os oprimidos, a uma só voz irão cantar. Na nova terra o negro não vai ter corrente, e nosso índio vai ser visto como gente, na nova terra o negro, o índio e o mulato, o branco e todos vão comer no mesmo prato.”
Seria injusto se não citasse a presença de profissionais da educação, que no anonimato escolar também transmitiam valores éticos com suas palavras, gestos e trabalho diário; senhoras que cuidavam da alimentação escolar e limpeza da escola, denominadas naquele período como merendeiras. Ainda estão gravadas as palavras e rostos das merendeiras, Dalva, Firmina, Izabel e Iracema, dentre outras. Elas nos ensinaram valores como: organização, paciência, respeito e moderação, tudo isso numa simples fila, enquanto esperávamos ansiosamente pela merenda servida naquelas cumbuquinhas e colheres azuis.
Apesar de todas as suas lutas, desafios, conquistas e em alguns momentos retrocessos, a escola pública tem sido um dos espaços socioeducativos fundamentais na promoção do conhecimento científico e mediação dos valores éticos. Ela é desafiada todos os dias a não se condicionar ao ideal de sua origem e propósito, não se limitando apenas aos rigores positivistas, cartesianos e empíricos que perfazem um modelo de uma educação tradicionalizante, que não leva em conta, o significado da autonomia, alteridade e do momento histórico presente.
Nesse sentido, é importante afirmar que milhares de pequenos cidadãos vivem diariamente um bom tempo de suas vidas neste local. Por vezes, muitos professores submetidos a uma carga horária desgastante, não conseguem ver o resultado final de suas ações, e talvez, por conta deste trabalho a longo prazo acabam perdendo o entusiasmo, a esperança e a convicção de que são agentes sociais importantes na mediação e construção de um novo tempo.
Portanto, a vocês professores e a todos profissionais envolvidos com a educação, dedico essas doces lembranças, de ações, gestos e de valores que atravessaram a minha vida estudantil e contribuíram para a construção permanente de quem eu sou. Aquilo que vocês fazem todos os dias no interior de uma sala de aula, de algum modo está influenciando, como numa revolução silenciosa, o desenvolvimento de uma consciência crítica, reflexiva e autônoma.
O nosso grande desafio é o de transformar essa conscientização que às vezes se revela, num processo longo, no reconhecimento reflexivo a médio prazo, para que as mudanças se efetivem conscientemente agora, e não apenas vinte oito anos depois, como no meu caso. Deste modo, ainda temos a oportunidade de produzir doces lembranças no processo educacional brasileiro e vermos a promoção de um novo Estado, sociedade e educação.

(*) Emerson de Arruda é pastor da Igreja Presbiteriana Luz e Vida, no Bairro Jardim Rondônia, bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia, psicopedagogo clínico e institucional, mestre em Educação pela UFMT e doutorando em ministério.

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