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, 24 maio 2024
 
 

Aposentadoria

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“aposentadoria é coisa complicada. Tem que se preparar para atividades alternativas. O grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de recados, babá dos netos, contínuo da mulher”
“aposentadoria é coisa complicada. Tem que se preparar para atividades alternativas. O grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de recados, babá dos netos, contínuo da mulher”

Muita gente pensa que na aposentadoria vai descansar e usufruir o bom da vida. Mas, após alguns dias, se estrepa. Esquece que o trabalho é também um hábito de difícil descondicionamento. Na minha idade já me aposentei meia boca, pois sei que mudar de hábito é perigoso. Ninguém em condições perfeitas de saúde física e emocional consegue suportar um corte violento nos seus afazeres diários e se acostumar a ficar em casa bestando e sem ter o que fazer. Para ficar calmo o aposentado tem que ser, no mínimo, síndico do edifício onde mora. Recomendo essa função, que produz aborrecimentos o dia todo, para a prevenção da Doença de Alzheimer.
O idoso perde milhares de neurônios diariamente e, para repô-los, a indicação é estimular a fabricação de novos. Nada melhor que uma contrariedade permanente de intensidade forte. É o santo remédio. O aposentado sofre discriminação dos mais jovens, que o julga como uma espécie de trânsfuga, merecedor de repulsa, especialmente pelos seus colegas de trabalho da ativa. Então, o ex-servidor ou profissional liberal, agora aposentado, começa a fazer o supermercado, frequentar a feira, passear com os netos e, principalmente, ficar em casa.
O velho parece pijama, banco de praça, bengala, chapéu e jornal na banca. Quando tira férias ninguém acredita. Pensam em ausência para tratamento de saúde. Na vida é preciso saber subir e também saber cair. Aposentadoria é coisa complicada. Tem que se preparar para atividades alternativas. O grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de recados, babá dos netos, contínuo da mulher.
É um excelente companheiro para carregar compras. Quase todo o seu tempo é destinado a realizar obrigações domésticas. Cuida da cozinha, limpeza da casa, manutenção dos eletrodomésticos, jardim, animais pequenos e o pagamento dos inúmeros tributos para viver com dignidade. Enfim, considero a aposentadoria como ela é uma conquista indesejável.
“Nada há pior que gente vadia – ou aposentada, que é a mesma coisa. O tempo cresce e sobra, e se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, já dizia Machado de Assis.

(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico em Cuiabá, foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

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