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Rondonópolis
, 18 maio 2024
 
 

Quem sou eu

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Outrora um jovem sonhador. Ambicioso? Não! Apenas um jovem que queria ser alguém na vida, de modo que o que conquistasse seria através de seu talento, persistência e trabalho, pois desde berço esses valores lhe foram transmitidos por seus pais e avós. Possuir o suficiente para levar uma vida digna e, dentro do possível, estender a mão aos mais necessitados, pois somente assim tudo faria mais sentido. Para atingir seus objetivos estudou e trabalhou bastante. Cursou o 2° grau e a faculdade no período noturno. Foram anos a fio, mas o esforço valeu a pena. Os horizontes se ampliaram e as oportunidades surgiram. Agarrou algumas delas e esse foi um dos motivos de sua vinda para o Mato Grosso nos anos 70, mais precisamente em 1972.
“Quem sou eu” percorreu os dois Estados, pois dividiram Mato Grosso em dois em 1977. Conheceu cidades em franco desenvolvimento e pessoas vindas de todos os recantos do país. Assimilou costumes e ampliou ainda mais os horizontes. Viu o cerrado virar lavouras de perder de vista. Arroz e soja alavancaram o progresso, junto com a pecuária existente em franco desenvolvimento. Armazéns e silos foram construídos para acomodar a produção agrícola. Logo a seguir surgiu a safrinha de milho (período de entre safra).  Estradas foram surgindo pelos Estados, algumas delas asfaltadas. Caminhões de grande porte passaram a fazer parte da paisagem, pois transportavam a produção agropecuária para fábricas, frigoríficos, para os portos de Santos e Paranaguá e para os grandes centros consumidores do país. Era o progresso a passos de gigante.
“Quem sou eu” gerenciou empresas, algumas de médio e grande porte. Gerou postos de trabalho e riquezas, tanto para as empresas como para os dois Estados (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) em forma de impostos. Teve bons salários e adquiriu alguns bens imóveis ao longo dos anos. Não só gostava do que fazia, mas amava com todas as suas forças, pois via que suas realizações rendiam bons frutos. Era feliz. Desfrutava de bons e maravilhosos momentos, pois a vida é feita de momentos.
Nesse meio tempo houve muita reviravolta no país, dentre elas as atrapalhadas do então presidente da República Collor de Mello, com toda a sua arrogância, ao sequestrar o dinheiro suado da poupança dos brasileiros que, da noite para o dia virou pó. Centenas de milhares, talvez milhões de pessoas passassem a vender seus bens para honrar compromissos e empobreceram de tal maneira que, para muitas delas passou a faltar o alimento em suas mesas. Filhos deixaram de frequentar a escola particular e passaram para a escola pública. Esse “quem sou eu” faz parte dessa triste estatística.
Os anos se passaram e veio à aposentadoria por tempo de serviço. No início até que era aceitável, mas ao longo dos anos, os “famosos” índices oficiais foram minguando a aposentadoria da maioria dos aposentados que recebia mais de um salário mínimo a ponto de, nos dias atuais, não atender mais às necessidades básicas, muito menos medicamentos. Lazer, então, nem pensar. E para dificultar ainda mais a situação “quem sou eu” se submeteu a uma cirurgia do coração, com duas pontes de safena e uma mamária, a um custo elevado, em que a família ajudou financeiramente, mas mesmo assim teve que vender entre outros bens o seu carro, permanecendo a pé por diversos anos.
“Quem sou eu” encaminhou documentos para se beneficiar de medicamentos da rede pública (Alto Custo e Portaria 172). Algum recebia mais precisamente dois de uma lista, não todos os meses e os demais adquiriam em farmácia de modo não regular, pois não dispunha de numerário suficiente, motivo pelo qual entrou na justiça para consegui-los há um ano e até a presente data tudo continua no mesmo, isto é, sem receber os medicamentos ou o dinheiro necessário para adquiri-los. Esse é apenas um exemplo de tantos outros “quem sou eu”, anônimos, que labutaram a vida inteira, para na velhice estarem sem os devidos meios de uma sobrevivência digna, alguns amparados por familiares, outros não, à espera que “talvez” um milagre possa acontecer, pois a esperança é sempre a última que morre. Ao menos se espera morrer com dignidade, nesse mundo de extremos.
“Quem sou eu” hoje é uma triste lembrança do passado não com ressentimentos, mas com orgulho, pois advém de um tempo glorioso, de trabalho árduo e honesto, mas no presente faz parte de uma legião de esquecidos. Um ou outro talvez escrevendo suas memórias ou uma obra literária, mas é raridade e mais raro ainda alguém expor suas ideias em algum jornal ou revista, pois atualmente se exige, na maioria das profissões graduação, pós-graduação, doutorado, pós-doutorado, especialização no exterior, falar fluentemente diversas línguas, etc. e etc.
Dá-se mais ênfase aos títulos do que à pessoa, como um ser dotado de carne e osso que tem sentimentos e necessidades em meio a esse mundo globalizado, cada vez com menos calor humano, frio e calculista, cujo objetivo é apenas o lucro, em que as pessoas são marionetes robotizadas, facilmente substituídas. Dignidade, sentimentos e desejos ficaram num passado distante.
O mundo vive em constante transformação, a natureza é o melhor exemplo, mas o ser humano, com várias e maravilhosas exceções, continua egoísta, dominador, invejoso, inescrupuloso, mau caráter, mentiroso, hipócrita e ladrão. Mas os bons tempos de “quem sou eu” a palavra empenhada era cumprida ao pé da letra e da lei, hoje sendo documentada e registrada em cartório deixa a desejar. A educação familiar atualmente é falha em comparação à antiga. Os jovens não respeitam os pais, muito menos os professores e as pessoas de mais idade. Alegam que os tempos agora são outros, é a era da modernidade, que tudo evoluiu, mais liberdade, nada de limites e assim por diante. Vive-se tão somente o dia de hoje, sem olhar o amanhã. Muitos enveredam pelo mundo da prostituição, das bebidas e das drogas, uma estrada de mão única, para desespero e destruição de centenas de milhares de jovens e suas famílias. A indiferença já tomou conta da maioria de nossa gente, pois o dia a dia nos apresenta horrores, aos quais nos acostumamos igual gado no matadouro. O Anormal passou a ser normal, como se fosse uma regra, infelizmente.
A Justiça já não é respeitada, muitos riem dela e juízes se sentem impotentes em fazer cumprir a Lei, pois existe todo um aparato nos governos e no privado em descumprir o que a Lei determina como é o caso dos medicamentos em Mato Grosso ou com a Saúde de nossa gente, por exemplo. Em esferas governamentais mais elevadas, a blindagem de determinadas personalidades engravatadas que embolsam milhões de reais do Tesouro Nacional é tão às claras e acima da Lei que o cidadão decente e honrado se pergunta a que ponto chegou e se sente impotente ante a essa avalanche da falta de caráter, de imoralidade e impunidade.
Realmente hoje em dia os tempos são outros, pois muita gente perdeu a vergonha e a decência por completo, cuja ambição pelo poder e dispor de tudo, a qualquer preço, não tem limite. Para essas pessoas os meios justificam os fins e não se importam se pessoas morrem nos hospitais por falta de atendimento, nas rodovias mal conservadas ou por falta de segurança pública. Honra jamais existiu como também sentimento humano para com o próximo. O “eu”, somente “eu” individual fala mais alto e ponto final. Nada os afeta, pois o coração e a mente estão empedrados, dominados pela ambição.
“Quem sou eu” está ultrapassado aos padrões atuais, cujos valores morais e éticos de outrora são simples lembranças, mas são raízes fortemente plantadas. Talvez, com o devido tempo, se possam resgatar esses valores antigos, mas para que isso possa acontecer é necessário que haja educação de fato em família (respeito, decência, honra, limites, responsabilidade, etc.), nas escolas ensino de qualidade, voltado a formar profissionais de fato e vida cristã.

(*) ORLANDO SABKA é morador em Rondonópolis –  E-mail: [email protected]

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  1. Sr.Orlando Sabka- São pelos frutos que conhecemos a Árvore, mas de que seria toda uma floresta se as “raízes” deixassem de levar a seiva necessária, para que a vida da natureza fosse mantida? Ontem, hoje e amanhã o seu exemplo de vida, a sua essência, é o principal alimento para manter viva toda a nossa história, que mesmo com avanço do progresso depende de referências como a do Sr. para nutrir e conservar esses méritos “ad perpetum”.Muitos parceiros dessa sua luta já se foram, como o meu pai Levanir, mas a sua permanencia ativa é em larga escala o alicerce de toda nossa origem. Que Deus o abençoe e coloque sobre o seu peito todas as medalhas de um eterno e autentico cidadão de Rondonópolis!Meus parabéns e o meu muito Obrigada!

  2. Que bom o jornal “A TRIBUNA” publicar matérias como esta do “Quem Sou Eu”, porque dá oportunidade às pessoas, aos leitores de conhecer trajetórias das pessoas, o que pode, sim, traduzir em bom aprendizados, em assimilar experiências vividas…
    Arnaldo Gomes Santana – Advogado e Procurador Federal (aposentado nas duas funções).

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