Mentira curricular e network

A mentira tem perna curta afirma um adágio popular. Talvez por isso as relações entre as pessoas nunca tenham sido tão valorizadas como agora e tampouco a confiança e o conhecimento técnico foram importantes a esse ponto, para as empresas como para os potenciais candidatos às vagas de trabalho.
Dado o ambiente competitivo intenso, a trajetória pessoal, principalmente no trabalho, o currículo vitae revelou-se aspecto relevante e muitas vezes central no momento da seleção das empresas. Contudo, também tem sido motivo de dor de cabeça para quem seleciona e muitas vezes até inútil para o candidato, principalmente pelas inverdades ou os exageros registrados nele.
Também no currículo, a máxima de prometer pouco e fazer muito é fundamental para garantir uma boa reputação e assim facilitar as indicações. De outro lado, é fundamental para os selecionadores conferir todas as informações relevantes apresentadas no currículo.
A questão é tão séria que além da mentira em si, de colocar o que não fez no currículo, muitos candidatos são capazes de garantir a conclusão de cursos de pós-graduação, por exemplo, mesmo quando apenas freqüentaram as aulas e ainda não defenderam o trabalho de conclusão, ou sequer o elaboraram. Para os selecionadores, é importante ter em mente que a parcela que realmente conclui os cursos de pós-graduação é bastante reduzida, mas sentem-se confortáveis em colocá-los nos seus respectivos currículos, o que pode revelar muito da sua índole profissional.
Há uma recíproca perniciosa nessa relação que muitas vezes chega a promiscuidade. As empresas precisam checar mais as referências e de outro lado serem mais sinceras e objetivas na hora de fornecer informação quando checadas sobre um ex-colaborador. É lógico que é necessário também cuidado adicional para fornecer a informação adequadamente e evitar complicações com informações conflituosas de seus funcionários.
Segundo empresas especializadas em análise curricular praticamente 50% dos currículos possuem algum tipo de distorção em relação aos fatos da vida do candidato e a mentira especificamente atinge mais de 20% deles.
Ainda assim é provável que estes índices estejam vinculados a um determinado nível de cliente que estas empresas possuem (executivos) e dada a experiência nessa relação, leva a acreditar que na média, considerando todos os tipos de currículo, esses números sejam bem maiores.
Mentiras ou exageros desse nível, podem até garantir entrevistas, mas dificilmente garantem uma vaga, sem falar que mesmo havendo contratação, quando aquela habilidade for testada evidentemente o colaborador terá problemas e será desmascarado.
Mais importante que tentar enganar, omitindo, distorcendo ou mesmo mentindo sobre a sua vida  profissional, é interessante realizar uma boa carta de apresentação apontando os pontos de colaboração e os resultados nas áreas que o candidato está se propondo a trabalhar, uma vez que cada empresa tem as suas necessidades e por isso uma distinção dessa natureza é importante.
A falsidade na apresentação dos currículos é um dos fatores pelos quais parcela crescente das contratações ocorre por indicações da network dos candidatos. Uma pesquisa realizada em 2009 pelo Grupo Catho revelou que 44,5% dos entrevistados conseguiram o emprego atual pela indicação de amigos.
Assim, criar e manter uma boa rede de contatos profissionais enquanto se está trabalhando pode ser mais decisivo do que um bom currículo. Agora lembre-se que indicar deve ser entendido como uma espécie de corrente que representa poder, conhecimento e integração.
Dito de outro modo, as pessoas somente indicarão você a alguém se tiverem alguma vantagem implícita. Ou seja, há uma espécie de orgulho envolvido, de que está apresentando alguém especial, considerando que a pessoa indicada realmente possa representá-lo bem na empresa em que está indicando.
Para garantir boas indicações há necessidade de que o seu comportamento revele mais do que conhecimento técnico. Deve evidenciar acima de tudo, ética, boa imagem pessoal, diferenciais de dedicação e compromisso, além de pro-atividade responsável.
Um cuidado adicional. Não basta que a pessoa a indicar o seu currículo seja da empresa em questão. É fundamental que ela também goze de boa reputação. Assim, primeiro escolha bem quem será o seu contato e verifique o nível de influência e reconhecimento para que realmente possa interferir favoravelmente.
Mas antes de tudo, tenha em mente que você nunca deve pedir uma vaga. Pelo contrário, devem se sentir importantes, assim o ideal é deixar evidente de que está procurando novos desafios e sondá-lo sobre oportunidades que ele conheça ou mesmo sugestões e direcionamento de carreira.

Boa semana de Gestão & Negócios.

(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É diretor de relações com o Mercado do IBG, professor e palestrante – [email protected]