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Doces e salgadinhos

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Todo fim de ano eu faço um retrospecto positivo de como as coisas mudam. Não é que eu seja totalmente contra tradições – algumas até são boas -, mas é que eu tenho alguns “traumas” de infância relativos às festas dessa época.

Meus pais recebiam parentes em casa e preparavam comidas “tradicionais”, inclusive pernis colossais, que assavam por horas. Depois, a gente passava semanas comendo o que sobrava: refogado, acebolado; em omeletes, tortas…

Eu reclamava daquele exagero e das comidas “pesadas” em pleno verão, mas diziam que aquilo era tradição: mais uma das que herdamos do Hemisfério Norte, onde é inverno.

Quando descobri que a tradição gaúcha para a época é fazer grandes churrascos, foi como se os ventos da liberdade perfumassem o ar com aromas mais agradáveis, ao menos para mim.

Mas as festas – não apenas as de fim de ano, mas as de aniversários também – tinham outra coisa em comum: tudo era feito em casa!

Imaginem uma família de sete pessoas e miríades de parentes. Agora, pensem em fazer comida para toda essa gente!

Pois é… Minha mãe começava a preparar as coisas no dia anterior e todos os filhos eram arregimentados nesse “esforço de guerra”. No cardápio: doces e salgadinhos de vários tipos. Mais tarde, os salgadinhos foram substituídos por pizzas, igualmente feitas em casa, inclusive a massa. Mas, até essa “evolução logística”, fiquei especialista no ciclo produtivo de massas e recheios para empadas, coxinhas, pastéis de massa cozida, croquetes.

Que dureza era mexer as massas de coxinhas e rissoles nas panelas: era preciso de muque!

O preparo dos docinhos era menos dramático, até divertido. Os brigadeiros eram os preferidos, seguidos de perto pelos “beijinhos de coco” e ”olhos de sogra”. Moldá-los exigia perícia e palmas de mãos constantemente untadas, para não grudar. O acabamento era feito com chocolate granulado, para uns; confeitos coloridos, para outros; ou ainda, açúcar, refinado ou cristal. Os “beijinhos” eram “coroados” com bolinhas de confeito prateadas ou “cravos da Índia”, que eu não gostava, pois lembravam o gosto de remédio para dor de dente. Mas não era nem no preparo, nem na moldagem e tampouco no ato de devorá-los durante a festa que residia o grande prazer dos docinhos: o êxtase estava em rapar as panelas onde a massa era feita!

Os bolos também tinham seu ritual: três camadas de pães-de-ló umedecidas com uma mistura de água, açúcar e vermute; recheadas com creme e cobertas com glacê, com ou sem frutas picadas.

Na hora da festa, depois de todo aquele trabalho, ainda nos revezávamos a pilotar frigideiras e forno. Depois, vinha a pior parte: lavar todo aquele monte de pratos, formas, forminhas…

Hoje, receber em casa ainda dá trabalho, mas nem tanto. Quase tudo pode ser contratado em variedade, quantidade e qualidade. As festas continuam tradicionais, mas os cardápios são mais adequados e sem excessos. Mas uma lembrança permanece: meu pai sempre dizia que em sua casa poderia faltar tudo, menos comida!

De fato, não tínhamos alguns “luxos”, como TV em cores, viagens de férias, carro… Meus pais os trocaram pela opção de casa própria. E trabalharam muito para isso!

Mas, além da fartura de comida eles não pouparam em educar para a vida, em incentivar ao estudo, ao trabalho honesto e ao respeito ao próximo, mesmo quando outras “tradições” indicavam que existiam caminhos mais “fáceis” a serem seguidos.

Apesar de suas origens simples, e formações rígidas, eles nunca nos limitaram ao que conheciam, como muitos fazem, com medo de perderem ascendência sobre os filhos. Pelo contrário, eles se deslumbravam a cada etapa que vencíamos. Ainda o fazem!

Essa, sim, é uma tradição que merece ser seguida, pois vale em qualquer lugar ou tempo.

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