22.2 C
Rondonópolis
, 17 junho 2024
 
 

Lembranças da Ditadura

Leia Mais

- PUBLICIDADE -spot_img

Você já reparou que, quando acontece uma confusão, a pessoa se lembra primeiro de Deus e, logo em seguida, da polícia. Já ouviram aquela frase?: “ai meu Deus… chamem a PM… ou então, liga pro 190…

Interessante é que, passado o sufoco, tanto Deus quanto a policia geralmente são esquecidos, sem querer aqui comparar fazer comparações entre a instituição e Deus, não me entendam mal.

Era de se esperar que, por serem o para-choque social, os cabos, soldados, sargentos fossem reconhecidos tanto pela sociedade como pelos superiores, mas não é isso que ocorre.

A verdade é que o policial militar é pouco valorizado, não vejo ninguém querendo casar a filha com um soldado, já se for tenente – coronel então… O pai estufa o peito e diz: minha filha é noiva do tenente fulano… Se for um soldado, ele nem diz em que trabalha; fala que é funcionário público.

Para o soldado, este tratamento não chega a ser uma surpresa; quando ele presta o concurso, já sabe que a vida vai ser dura.

Se vivêssemos em um país em que os jovens tivessem farto leque de opções trabalhistas, eu diria que o sujeito que escolhe ser policial militar tem uma queda pelo masoquismo.

A Policia Militar evoluiu muito, o nível de instrução hoje é alto e de forma proporcional cresceu a qualidade do serviço; o trato com o cidadão é outro, não dá nem para comparar com os tempos onde falar em PM era sinônimo de truculência e pancada.

Porém, se melhorou para a população, dificultou para os coronéis, que estavam acostumados a tocar a “tropa” na maciota, pois uma tropa sem instrução, para tocá-la basta um pulso firme e um bom chicote. O profissional militar hoje tem outro perfil: ele questiona, ele não é apenas um soldadinho de chumbo; com isso o conflito se estabelece.

Os coronéis tem uma ferramenta muito… Eu diria até perversa, que é o regulamento que rege a corporação, uma peça regulamentar do inicio do século passado; é um regulamento que não condiz com a nova realidade pela qual passa a corporação.

Com este regulamento em mãos os coronéis continuam a tocar a PM da mesma forma que há 100 anos atrás, ou seja pela força, impingindo medo.

Hoje os soldados estão aterrorizados – pelo menos esta é a realidade vivida pelo batalhão da cidade de Rondonópolis, pois o comando geral começou uma política de transferências de desafetos e, como se esta punição não fosse o bastante, está usando o artifício de desacreditar os policiais, espalhando o boato de que estão sendo transferidos por má conduta, o que não é verdade; trata-se de conflitos internos mal administrados.

Todo este inferno por qual passa a PM aqui em Mato Groso se deve à falta de habilidade de boa parte dos coronéis, pois querem fazer prevalecer a força e, com isso mostrar, ao governador que possuem “a tropa na mão” – hoje possuem mesmo, a “tropa” está apavorada: se o comandante pedir pra um sargento ou soldado lamber suas botas, ele vai lamber, porque precisa dar de comer para a família e sabe que, se não o fizer, corre o risco de ser mandado para Santo Antonio do Leste, Nova Santa Helena, Aripuanã… Com isso a qualidade do serviço cai, os números estão aí prá confirmar.

O comando geral tem dado diferentes versões para as transferências feitas dentro da PM, onde soldados e sargentos são mandados para lugares distantes até 1500 quilômetros do local onde residem. Ouvi uma destas versões. Um deputado estava conversando com um grupo de policiais e resolveu ligar para o comandante, deixando o celular no viva voz. O comandante falou o seguinte: sabe, deputado, esses policiais fazem parte de um grupo cujo as fichas estão muito sujas; são casos graves de desvios de conduta e, em breve, lhe mostrarei a ficha deles. Na verdade, estou ajudando eles – dando a entender que, ao invés de abrir o competente inquérito policial militar, estava optando por transferi-los. Sou novo na área do direito, mas que eu saiba estava ali ele confessando uma prevaricação, não estou inventando; tinha 30 pessoas na sala e ouviram isso.

Está difícil o comando explicar. Ora diz que é má conduta, ora é porque existe deficiência de policiais. Se existe má conduta o correto é o procedimento administrativo e não transferi-los ou será que os outros municípios são obrigados a ficar com a escória da PM? Mas com isso o coronel não se preocupa, porque ele sabe que está mandando policiais de primeira linha; o “má conduta” é apenas o argumento para justificar a medida.

Quem vai pagar a conta disso é o governador Blairo, que está de marido traído, pois, se tivesse acesso a uma informação limpa, com certeza não permitira isto. A população de Rondonópolis na verdade já está pagando pelo fraco desempenho emocional dos coronéis ao gerir pessoas, já que a maioria destes soldados transferidos está na lista porque falou questionou ou desagradou algum superior.

Fiz a lição de casa e dei uma de Tarso Genro no caso Battisti. Fui verificar o nível de perniciosidade dos solados. O que encontrei? encontrei um monte de coisa requentada das quais os soldados já responderam aos processos, e vários deles não tem nada na ficha que os desabone. Aliás, encontrei muitos elogios nessas fichas.

Já dizia um pensador: o verdadeiro principio da justiça é a mais firme pilastra de um bom governo. Tomara que o governador acorde a tempo e coloque pessoas desprovidas de vaidade para conversar com os PMs, pois a forma de agir com estes soldados lembra bem a época da ditadura, ou seja, não concorda comigo?: – Então vou lhe exilar! O que irrita é a desfaçatez, tentam desacreditar o profissional como pessoa; é o mesmo Modus operandis. Naquela época, os generais mandaram prender Gilberto Gil, Caetano Veloso, pois eram elementos perigosos à segurança nacional – o Gil era tão perigoso que virou ministro depois.

Acredito que o governador poderia interferir na questão, que os remanejamentos sejam feitos dentro do polo em que o soldado esteja lotado. Se é pros coronéis mostrarem pulso firme, o intento já foi conseguido: os soldados estão até doentes… de medo. E uma solução desta seria muito bem aceita, pois para quem mora em Rondonópolis ou Cuiabá é bem melhor ser transferido para Primavera do que para Colniza.

(*) José Antonio dos Santos Medeiros é suplente de deputado federal e presidente do PPS Rondonópolis.

- PUBLICIDADE -spot_img
« Artigo anterior
Próximo artigo »

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

- Publicidade -
- PUBLICIDADE -

Mais notícias...

Brasil agora tem política nacional para Alzheimer e outras demências

Demência é um termo geral que engloba várias doenças neurodegenerativas que ocasionam a perda gradual de funções cerebrais. É...
- Publicidade -
- Publicidade -spot_img

Mais artigos da mesma editoria

- Publicidade -spot_img