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“Havia um movimento muito grande de avião pequeno”

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A série de entrevistas com pioneiros de Rondonópolis enfatiza neste domingo um pouco da trajetória do comprador de gado Marco Antônio Miranda Soares, agora com 80 anos. Trata-se de uma história que começou faz 52 anos em Rondonópolis, com grande contribuição na pecuária regional e na religiosidade municipal. Também há um olhar sobre a realidade do município nas décadas de 1960 e 1970. Confira:


O pioneiro Marco Antônio foi um grande comprador de gado no estado de Mato Grosso – Foto: A TRIBUNA

O comprador de gado Marco Antônio Miranda Soares chegou em Rondonópolis com a família em 1965. Ele lembra que, naquela época, havia muita negociação de terra e a maioria das propriedades estava sendo formada, não havendo pavimentação nas estradas para fácil locomoção. Com isso, atesta que a movimentação de pequenos aviões chegando e saindo de Rondonópolis nas décadas de 1960 e 1970 era intensa.
Nascido em Uberaba, Minas Gerais, Marco Antônio viveu até os 12 anos com o pai na fazenda. Na sequência, mesmo com a realização dos estudos, aproveitava para acompanhar o pai, que era administrador de fazenda, na lida das atividades no campo. Em 1961, veio pela primeira vez a Rondonópolis, com o intuito de começar a abrir e formar uma fazenda junto ao Rio Jurigue, hoje Pedra Preta, onde o tio dele era sócio.
Em 1963, o pioneiro casou-se com Angela Maria Duarte Soares, professora e uma grande benemérita local. Na época do casamento, Marco Antônio tomou conta por cerca de dois anos de uma fazenda em Campos, no Rio Janeiro. Ao chegar em Rondonópolis, em 1965, tinha apenas um filho de cinco meses. “Vim a convite de um tio para administrar a fazenda, onde começamos do zero”, relata.
Quando da chegada, Marco Antônio lembra que Rondonópolis tinha apenas duas ruas principais, sendo a Amazonas e a Marechal Rondon, mas sem asfalto. “Tinha muitas pensões onde os peões ficavam para trabalhar nas fazendas”, observa. Na cidade, pontua que a energia elétrica era produzida por geradores e que somente funcionavam até as 10 horas da noite. “Muita coisa diferente, até por volta de 1970, tinha que trazer de fora, de Uberaba, como azeitona, doces, bacalhau…”, diz.
Para se chegar até a fazenda, em Pedra Preta, onde inicialmente a família se fixou, eram necessárias várias horas de carro, com um acesso muito ruim. Até por volta de 1972, Marco Antônio diz que ficou mais atuando na formação da fazenda, porém, na sequência, passou a se dedicar com afinco na atividade de compra de gado, para recria na propriedade e depois enviar para São Paulo. Comprava boi magro para recria na propriedade.
“Tinha ano que comprava entre 11 mil a 13 mil bois. Tinha que encher a fazenda aqui para no outro ano enviar para São Paulo”, explica. Com o tempo, também muita gente lhe confiou a tarefa de comprar gado. “Na pecuária, a gente trabalhava com pessoas de palavra. A gente comprava e as pessoas cumpriam os pagamentos”, recorda. Diante da grande demanda, das longas distâncias e da falta de condições das estradas, o avião também sempre foi algo obrigatório na vida de Marco Antônio.
Entre 1960 e 1980, o pioneiro relata que o movimento de aviões pequenos na cidade era muito grande. O aeroporto, na época, ficava onde hoje é a Rua Dom Osório, no bairro Santa Cruz. Além dele, muita gente vinda de regiões produtoras de gado do País também fazia uso dos aviões para diversos negócios. “Esse pessoal descia, amarrava o avião e ia para o hotel”, observa.

Marco Antônio, em um registro antigo no seu ambiente de trabalho, para a compra de boi magro – Foto: Reprodução

Com o tempo, Marco Antônio explica que chegou a comprar um avião para atuar na compra de gado. “Viajava muito na região comprando bois, a maioria das vezes de avião. Não tinha jeito. Para ir daqui para Poxoréu, gastava-se quatro horas de carro. Ficava até 12 dias fora. Voava mais de 100 horas por mês comprando gado. Até na Bolívia ia comprar boi”, atesta o pecuarista. Ele comunicava com São Paulo duas vezes ao dia com rádio amador e, depois, mais uma vez com a fazenda que tinha adquirido.
Foi em 1980 que ele comprou a própria fazenda em Araputanga, na região de Cáceres. Não por acaso, o transporte por avião faz parte de uma das memórias mais marcantes da família. Em 1980, quando três dos filhos estavam indo para a fazenda em Araputanga, o avião, logo após alçar voo, teve de retornar para a cidade e acabou sofrendo um acidente. O piloto morreu, e os filhos, com diversas fraturas, foram levados para São Paulo, ficando mais de quatro meses hospitalizados. Os pais não estavam no avião.
Quando da inauguração da exposição agropecuária de Rondonópolis, Marco Antônio era vice-presidente do Sindicato Rural. A partir de então, procurava participar de todas as exposições. Atesta que ajudava muito a propagar a feira, pedindo para os produtores trazerem gado para a festividade. Na área religiosa, atuou muito no Movimento de Cursilho de Cristandade, é frequentador assíduo das missas e colaborador das festas. “Deus sempre estava em primeiro lugar”, afirma.
Em relação a Rondonópolis, o pioneiro diz que sempre acreditou muito no crescimento da cidade. “No começo achava que ia ficar aqui uns 10 anos, não pensava que ia ficar o resto da minha vida aqui. As amizades, as atividades e a Igreja me fizeram ficar, criar amor na cidade”, argumenta. Nunca teve atuação político-partidária. “A gente fica desiludido com nossos representantes políticos… Acredito que a cidade cresceu bem, mas poderia estar muito melhor se tivesse administradores melhores”, entende.
O pioneiro e a esposa Angela tiveram seis filhos: Valdir José, Paula Adriana, Marco Antônio Junior, Marco Tulio, Marco Aurélio (falecido aos 8 anos) e Mariangela. Tem 11 netos, sendo seis mulheres e cinco homens. A esposa atuou por cinco anos em uma creche do padre Lothar e mais 25 anos na Fundação Maria Menina, criada por ela. Além do serviço social, Angela trabalhou por 42 anos no Cursilho de Cristandade em Rondonópolis.
A compra de boi é a maior paixão de Marco Antônio. Atualmente, ele não tem mais propriedade rural, mas continua tendo no cultivo da terra, com horta, jardim e pomar, outro grande hobby. Também continua atuando na compra de boi, mas pondera que reduziu bastante a atividade nos últimos anos, até em função dos leilões e da internet. “Eu falo que ninguém em Mato Grosso marcou mais gado do que eu. Comprava gado para várias pessoas, por ano eram mais de 13 mil cabeças de gado. Hoje ainda tem semana que marco 300 bois”, arremata.

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