O vereador Jailton do Pesque Pague (PDT), que passou a noite de anteontem e o dia de ontem morando nas ruas de Rondonópolis para, segundo ele, conhecer a fundo a realidade dos moradores de rua, afirmou ontem que voltou da experiência com uma visão completamente diferente daquela que é conhecida hoje pelo poder público sobre as pessoas que vivem nesta condição.
“Durante este período, tive o contato e conversei com mais de 100 moradores de rua e percebi que, no que diz respeito ao assistencialismo, estão bem servidos, a ponto disso ser hoje um atrativo da cidade para este tipo de público, pois pelo que pude perceber em Rondonópolis, o que está imperando é um ‘turismo de rua’, onde pessoas estão na qualidade de vivente de rua por opção. Elas vão e voltam para outras cidades porque aqui ganham passagens, têm entidades que dão alimentação e albergue noturno. Quando não acham locais para dormir, essas pessoas relatam que a cidade possui muitas casas abandonadas que dá para morar mais de dois meses. Acredito que a forma de assistencialismo que a cidade hoje oferece deve mudar e estabelecer limites”, disse o vereador.
De acordo com Jailton, ele vai sugerir ao poder público mudanças na política de assistencialismo. A primeira delas é colocar limite nas doações de passagens a cada pessoa no Centro Pop. “Acredito que é preciso fazer um cadastro destas pessoas e limitar o tempo que elas poderão ser beneficiadas com passagens. Durante o tempo que estive como morador de rua, ouvi deles que a cidade é um município onde se pode ir e voltar a qualquer instante, pois sempre ganham passagens. Além disso, muitos declararam que a cidade é acolhedora tanto na Casa do Bom Samaritano para fazer as refeições, como no Albergue São José Operário para pernoitar. Conclui que, hoje, quem mora nas ruas é por uma escolha própria, com exceção de um entre os cem que falei, que realmente estava em condição de mendigo”, relatou o vereador.
Na avaliação de Jailton, a qualidade de vida do morador de rua em Rondonópolis aumentou, porém a situação mais preocupante é com as pessoas com dependência química ou do álcool. “Estas pessoas precisam de uma atenção mais especial com auxílio do poder público e casa de recuperação”, avaliou.
PERAMBULANDO
O vereador Jailton disse que começou a sua jornada como morador de rua anteontem, por volta das 23 horas, na região do Ginásio de Esportes Marechal Rondon. Pernoitou em um banco na Praça Brasil. Durante o dia, tomou café da manhã na Casa do Bom Samaritano e depois voltou ao local para almoçar. Também fez uma visita ao Centro Pop onde não foi reconhecido, mas depois se revelou. No órgão publico, chegou a pedir uma passagem para o estado da Bahia e foi informado que era necessária uma triagem. Jailton esteve com moradores de rua na Praça da Saudade e Praça dos Carreiros, locais públicos onde percebeu o maior índice de dependentes químicos fazendo uso de entorpecente.
Durante a sua experiência, ele narra que teve vários momentos de emoção, um deles logo quando chegou às vias públicas como morador de rua e foi acolhido por um deles dizendo: ‘Olha temos morador novo aqui’. “Mas, o que mais me emocionou foi o que ocorreu na Praça Brasil. Era por volta das 4h30 de hoje [ontem], quando dois jovens aparentando terem usado entorpecente, com olhos bem vermelhos, pararam e falaram, ‘olha o velhinho, será que está vivo ou morreu de frio’. Quando perceberam que eu estava vivo, um deles tirou a camisa e deu para eu me cobrir e foi embora sem camisa. Foi um ato de solidariedade. Também percebi um bom acolhimento dos moradores de rua em todos os locais que percorri”, conta o vereador.