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, 19 maio 2024
 
 

Mulher tem baixa representação na política

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Apesar de ter alcançado o posto máximo da Nação por 02 vezes, as mulheres ainda têm pouco a comemorar no Dia Internacional da Mulher (08/03) quando o assunto é a representatividade feminina em cargos eletivos. Em Rondonópolis, não há nenhuma mulher eleita vereadora no atual mandato da Câmara Municipal e, até hoje, nunca o município elegeu uma mulher como prefeita. Da mesma forma, em âmbito estadual, a nova composição da Assembleia Legislativa possui apenas uma mulher eleita e, até hoje, nenhuma mulher foi eleita governadora.
O contrassenso é que as mulheres são a maioria entre a população do Brasil, representando em 2010 um total 51% da população nacional. Em Rondonópolis, elas também representam a maioria do eleitorado, com 70.308 eleitoras (52,67%) – contra 63.185 eleitores (47,33%). Nas diferentes esferas, os partidos têm dificuldade até de cumprir a legislação eleitoral que prevê a cota de 30% de mulheres candidatas nas eleições. Os números mostram que a política partidária ainda é uma área em que as mulheres precisam conquistar seu espaço, especialmente em Rondonópolis.
Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, o Jornal A TRIBUNA ouviu a opinião de algumas pessoas de Rondonópolis sobre a baixa representação feminina na política, em âmbito municipal e estadual. Em geral, por que mulheres não votam em mulheres? Por que existem tão poucas candidatas? Como mudar essa situação? Confira as respostas:

“A mudança tem de partir das próprias mulheres”

Sandra Raquel Mendes, suplente de vereadora pelo PR e hoje filiada ao PV: as mulheres têm de passar a encarar as mulheres candidatas com olhar diferenciado
Sandra Raquel Mendes, suplente de vereadora pelo PR e hoje filiada ao PV: as mulheres têm de passar a encarar as mulheres candidatas com olhar diferenciado

A presidente de honra do Conselho Municipal da Mulher, Sandra Raquel Mendes, suplente de vereadora pelo PR e hoje filiada ao PV, acredita que, por mais que tenham conquistado espaços na sociedade, a luta das mulheres ainda é muito árdua. Em primeiro lugar, acredita que o principal responsável pela baixa representação da mulher na política seja ela própria.
“Mulher não vota em mulher! Temos 21 vereadores homens na Câmara, mas não sabem o que a mulher pensa, seja a respeito da saúde, necessidade de creches… A mudança tem de partir das próprias mulheres, pois elas são a maioria do eleitorado e podem mudar a realidade do Município, Estado e País”, argumenta.
Conforme Sandra Raquel, Rondonópolis precisa não apenas de vereadoras, mas também de ter a primeira prefeita da sua história. Para isso, ela diz que as mulheres têm de passar a encarar as mulheres candidatas com olhar diferenciado. “As mulheres têm de participar da política e se preparar: ver qual o melhor partido, entender a questão de legenda…”, analisa.
Além disso, afirma que os partidos precisam dar uma atenção maior em apoio e subsídio para as mulheres. Sandra Raquel afirma que as mulheres não podem apenas participar das eleições para preencher as cotas femininas dos partidos. Inclusive, defende uma mudança na legislação para que metade dos eleitos de cada partido seja obrigatoriamente do sexo feminino.

“Política é um universo um tanto estranho para as mulheres”

Maria Paulina da Costa, a Professora Paula, presidente do PMDB municipal por seis anos e atual secretária do partido: é preciso que as mulheres não se intimidem e busquem seu espaço na vida pública
Maria Paulina da Costa, a Professora Paula, presidente do PMDB municipal por seis anos e atual secretária do partido: é preciso que as mulheres não se intimidem e busquem seu espaço na vida pública

Presidente do PMDB municipal por seis anos e atual secretária do partido, Maria Paulina da Costa, a Professora Paula, argumenta, inicialmente, que é preciso fazer um resgaste histórico para entender a baixa representação feminina na política. Nesse contexto, lembra que a mulher conquistou o direito de voto muitos anos depois do homem no Brasil.
Não bastasse isso, Professora Paula observa que a mulher delegou durante muitos anos a função da ação política para os homens. “Por mais que a mulher tenha conquistado espaço na sociedade, não conquistou seu espaço na política. O universo da política é um universo um tanto estranho para as mulheres. A política é um espaço muito próprio, que acaba intimidando as mulheres”, justifica.
No entanto, Professora Paula entende que é preciso que as mulheres não se intimidem e busquem seu espaço na vida pública, uma vez que existem particularidades na vida das pessoas que somente as mulheres entendem, principalmente as questões sociais. Assim, afirma que a mulher precisa sair da zona de estagnação, articular e buscar o espaço na política.
“Nós temos uma presidente da República e não temos uma vereadora!”, pontua a militante do PMDB, entendendo que a mulher precisa começar a participar mais da vida pública em diferentes esferas.

“São poucas mulheres que aceitam postular cargos públicos”

Ana Carla Muniz, secretária municipal de Educação e primeira-dama municipal: é fundamental a participação da mulher na política partidária, dado que os temas da política envolvem muito a questão feminina
Ana Carla Muniz, secretária municipal de Educação e primeira-dama municipal: é fundamental a participação da mulher na política partidária, dado que os temas da política envolvem muito a questão feminina

Filiada ao PPS, Ana Carla Muniz, hoje secretária municipal de Educação e primeira-dama municipal, já foi eleita deputado estadual e também ocupou Secretaria no Governo do Estado. Mas também reconhece as dificuldades para a participação das mulheres na vida pública.
Ana Carla entende que falta hoje um mecanismo de financiamento de campanha mais adequado. “A mulher pensa duas vezes em gastar um recurso que possa comprometer a reserva da família. Acredito que, com um financiamento de campanha justo, com os mesmos direitos e espaços entre homens e mulheres, haveria uma maior participação feminina”, analisa.
Para a secretária, é fundamental a participação da mulher na política partidária, dado que os temas da política envolvem muito a questão feminina, como a necessidade de uma boa educação, de saúde e todas demais áreas que o poder público precisa atender e proteger. “Seria muito importante essa participação porque o olhar feminino contribui muito”, alega.
No geral, Ana Carla pensa que deve haver uma reforma política no Brasil, que possa priorizar as mulheres, assim como mudança de postura das mulheres. Para exemplificar, ela informa que o PPS tem muitas mulheres filiadas, mas, na hora da campanha, é muito difícil elas aceitarem postulações políticas. “São poucas que aceitam… As cotas de mulheres nos partidos também são muito difíceis de serem preenchidas”, lamenta.

“Não basta participar votando, precisa mudar a cultura política”

Professor Plínio José Feix, doutor em Ciências Políticas no campus de Rondonópolis da UFMT: não basta ter direito, as mulheres têm que assimilar que precisam estar representadas
Professor Plínio José Feix, doutor em Ciências Políticas no campus de Rondonópolis da UFMT: não basta ter direito, as mulheres têm que assimilar que precisam estar representadas

O professor Plínio José Feix, doutor em Ciências Políticas no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Rondonópolis, analisa que a baixa representação da mulher na política esteja ligado principalmente ao “machismo” e ao desinteresse pela política de forma geral no País, formando um clima desfavorável para as mulheres avançarem também nesta área.
Conforme Plínio Feix, esse machismo começa nas organizações partidárias, que privilegiam os homens. Ele avalia que não há muito interesse dos partidos em fomentar a participação das mulheres nas eleições, principalmente os partidos mais conservadores. “Parece que existe o entendimento que política é para homem. Em boa parte, as mulheres incorporaram isso”, analisa.
Também observa que a lei de cotas para mulheres geralmente não é cumprida e que as mulheres lançadas são apenas para auxiliar na eleição de homens (embora estabeleça o percentual de mulheres candidatas, a legislação eleitoral não prevê sanção severa aos infratores). Nesse contexto, pontua ainda que muitas das mulheres eleitas o são por causa da influência do marido, do pai ou algum homem.
Uma mudança nesse cenário, segundo o professor Plínio Feix, depende fundamentalmente das mulheres. “Não adianta ter as cotas para mulheres, não adianta colocar só na lei. As mulheres tem que conquistar seu espaço por luta e interesse delas”, avalia o professor, acrescentando da necessidade de as mulheres se imporem, criarem condições populares, viabilizarem candidaturas e se candidatarem.
“A maioria do eleitorado é de mulheres, mas maioria delas tem introjetado o machismo. Não basta participar votando, precisa mudar a cultura política”, arremata Plínio. “Espaço há na política para as mulheres. Agora esse machismo é milenar. A mudança é um processo lento. Não basta ter direito, elas têm que assimilar que precisam estar representadas”, acrescenta.

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