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Desaprendendo com as crianças

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Sueli ignoti - 29-11-11

Inegável o fato do filhote do ser humano ser aquele que nasce mais indefeso, precisando de décadas para conquistar sua independência, ainda que continue a viver sem prescindir de seus semelhantes. E há uma diferença fundamental entre se encaixar num mundo pronto girando em função do que convém e criar um mundo seu, fiel aos valores e desejos próprios.
Justificada então a preocupação dos cuidadores em ensinar sempre? Sabemos que é a educação recebida, inicialmente na família, que insere o pequeno ser na cultura diferenciando-o das demais espécies da terra.
E então? O que pode? O que não pode? O que faz parte da boa educação? E da etiqueta? Como ensinar a conciliação da demanda gritante do mundo externo e o ruidoso desejo que faz pulsar? As crianças ficam perdidas entre o aceitável, o esperado e o inadmissível para os adultos de seu círculo. Ainda que o empenho dos pais seja inesgotável, impossível prever resposta para cada situação. Para a vida, essa caixa de surpresa, não existem respostas prontas para o inusitado. Pior, por que aquilo que é terminantemente proibido numa família parece simplesmente natural na família do amigo?
O que é natural… Para os animais irracionais o privilégio da proteção da natureza. Um código genético a ser seguido e tudo sai nos conformes da espécie…
Para o humano a complicação de “preparar” o filho para inventar respostas frente ao inesperado. Como dar ferramentas para tanto? Quais são os aparatos a serem tirados da cartola quando viver exige inovação?
Quantas vezes o adulto, evidentemente bem intencionado, aprendeu demais sobre o que fazer com o previsível. Como se fosse possível prever tudo para não ser pego de surpresa. E isso pode gerar constante alerta com as próprias atitudes e daqueles que estão sob seus cuidados.
Embora “ser pai não seja um concurso de popularidade” como prega o pai durão no filme “Doze é demais”, pode ser válida a experiência de ter um espaço com os filhos sem a preocupação de ensinar. Ao contrário, aprender com eles, ou melhor, desaprender tanta teoria sobre educação…
Lembro-me de uma situação preocupante para pais e coordenadores de uma escola de pequenos. As crianças de cinco anos tinham a professora que jamais seria esquecida: estava mais ocupada com as crianças do que preocupada com o que ensinar. Como as crianças aprendem porque amam quem ensina, o rendimento era ótimo. Em meados do segundo semestre a professora foi chamada a assumir, na  semana próxima, seu lugar num concurso feito no ano anterior. Reuniões de emergência entre coordenação/professora e pais de alunos. Adultos preocupados com as consequências da separação.  Infinitas hipóteses, perguntas sem respostas. O drama acabou quando alguém resolveu perguntar para uma das aluninhas o que achava da partida da professora querida. Nenhuma hipótese levantada até então foi corroborada:
– É bom e é ruim. Ruim porque a tia vai embora… Bom porque vamos conhecer outra tia…
Talvez possamos pensar para as crianças naquela liberdade vigiada que só faz bem. Precisam sim do respaldo dessa referência familiar, base de toda estrutura humana, mas o espaço para exercitarem as próprias ferramentas é fundamental…
E, para nós adultos, as infinitas possibilidades de desaprender com as crianças e os poetas, como sugere Manoel de Barros: “Dou respeito às coisas desimportantes/e aos seres desimportantes/Prezo insetos mais que aviões/Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis/Tenho em mim esse atraso de nascença/Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos/Tenho abundância de ser feliz por isso./Meu quintal é maior do que o mundo.”

*CRP 18/00078
Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
66 3421 5684

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