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, 16 junho 2024
 
 

“Não mãe…”

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Por mais que existam reflexões ou propósitos a respeito, sabemos que a repetição não se extingue. Quantas vezes o adulto atropela a criança – ou outro adulto! – por não deixar para trás a pretensão de saber mais, tudo compreender, tudo explicar…
No entanto, o que o outro tem a dizer, para surpresa daquele que se precipita tentando mostrar sua sabedoria pode ser muito interessante. Só o próprio sujeito tem autoridade para falar de si.
E a criança também pede tempo para falar: a menina que ainda não frequenta escola desenha sentada no chão enquanto a mãe trabalha no computador. Satisfeita com sua produção “artística” apresenta-a à mãe que acha que já compreendeu tudo e prontamente elogia “o sol” que enxerga na figura. A criança, lembrando O Pequeno Príncipe, que tem dificuldade em se fazer entender pelo adulto quando se trata de desenhos, retruca impaciente: “Não mãe… não é um sol… É um monte de ‘espematozóide’ tentando entrar no óvulo.”
Num primeiro instante poderíamos pensar que essa criança que ainda não começou a vida acadêmica já teve sua educação sexual iniciada através dos pais. Ledo engano!  Esse tema que acaba gerando polêmica entre pais e profissionais da educação e da saúde vem de um mal entendido. Enquanto se discute a quem cabe a educação sexual da criança e adolescente, cai no esquecimento o que sabemos na psicanálise: impossível educar a sexualidade.
Enquanto a escola transmite um ensino biológico sobre fecundação, nascimento e as funções do corpo humano seus alunos estão preocupados com outra questão, que passa por: “A quem tenho o direito de desejar?” O direito passa pela ética. No mais, para falar dessa sexualidade vamos pela vertente do desejo. E este vem de dentro, independente de qualquer determinação ou controle.   É aquele “mais forte que eu” que vem sem que se saiba o porque. Considerando que seria perda de tempo tentar explicá-lo ou dar-lhe sentido, podemos contribuir para que nossos filhos ou alunos se impliquem com suas questões e se responsabilizem pela forma como decidem resolvê-las, com as consequências inerentes a toda escolha feita. Portanto, podemos dizer sim que é perfeitamente possível lidar com a sexualidade com ética, esta fruto da educação.
Se fosse possível educar o desejo o parceiro poderia ser escolhido pelo currículo. Por acaso os pais conseguem educar o menino para não se apaixonar por determinados tipos de mulheres? Ou pedir que a filha se apaixone por aquele menino maravilhoso, filho dos amigos? Nem sequer conseguem definir a opção sexual dos filhos.
A educação “para a sexualidade”, ou seja, para o que fazer com essa sexualidade que aflora cada vez mais cedo é que pode ser pensada. Na atualidade a questão dos adolescentes deixou de ser “inicio ou não a vida sexual?” para estar muito mais próxima de “iniciei a vida sexual, o que faço com isso?” Dependendo do que assimilou antes em sua formação, pode se haver com as suas questões sexuais com naturalidade, sem, porém cair na promiscuidade, banalizando o sexo, como tem acontecido.
É muito fácil escorregar para a promiscuidade quando se pensa que o moderno é sair satisfazendo todas as vontades, na mesma velocidade que surgem. Não se educa a vontade. Educa-se a forma ética de lidar com ela. As crianças começam aprender em casa, inclusive vendo o relacionamento dos pais e demais adultos do convívio, o respeito pelo outro, a espera pela satisfação de suas vontades, enfim, o conjunto desses valores para a vida.
O que dizer do menino de três anos que desembrulha a balinha e guarda o papel no bolso porque não vê um cesto de lixo por perto, ao mesmo tempo em que vê um carro passar e um dos jovens jogar pela janela a lata de refrigerante? Certamente a referência familiar falou mais forte.
Decididamente, um lugar para a biologia, outro para a sexualidade!

*CRP 14/00435-0
Delegação Geral MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
66 3421 5684

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