Contrassensos do Brasil

Gerou muito o que falar a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentando o pagamento de auxílio-moradia para juízes federais e estaduais, conforme publicado esta semana pelo Jornal A TRIBUNA. O teto do benefício será R$ 4.377,73, podendo ser pago nas cidades onde não há residência oficial à disposição dos magistrados. Segundo estimativas, o pagamento terá impacto de R$ 350 milhões por ano nas contas públicas.
A concessão do benefício gerou certa indignação em grande parte da sociedade, uma vez que os magistrados brasileiros já ganham salários considerados satisfatórios dentro da nossa realidade. Em geral, juízes brasileiros em início de carreira ganham, no mínimo, 10 vezes mais que a renda média de um brasileiro. Isso sem considerar ganhos acessórios dos magistrados que elevam ainda mais o abismo entre as classes.
Não estamos desmerecendo a importância do papel dos juízes em nossa sociedade, os quais realmente devem ser valorizados e prestigiados, até para não estarem suscetíveis à tão propalada e preocupante corrupção brasileira. O exercício de pensamento aqui colocado é no sentido das disparidades ainda existentes na nossa sociedade. Ademais, os trabalhadores brasileiros, independente da localidade, precisam arcar através dos seus próprios salários com todas as despesas inerentes à manutenção pessoal e da sua família, em especial relacionada à moradia.
São diferenças que geram uma incompreensão em grande parte dos cidadãos brasileiros, que sofrem uma série de injustiças, sendo onerados por uma alta carga tributária. Um exemplo pertinente a essa situação é a aposentadoria de grande contingente de brasileiros com ganhos superiores ao salário mínimo que, a cada ano que passa, é corroída pela inflação.
Os salários dos nossos juízes são mais que justos. A incompreensão aqui, assim como da grande massa de brasileiros, é diante das distorções criadas a partir de benefícios que evidenciam que a sociedade brasileira ainda continua privilegiando os interesses de poucos em detrimento da coletividade.