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Rondonópolis
, 15 maio 2024
 
 

Luiz Martinez: O agrimensor que demarcou a maioria dos bairros da cidade

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“Meus irmãos me deixaram aqui e foram embora. Eu tive que ficar aqui e gostei muito da ideia”, conta o pioneiro Luiz Lopes Martinez, hoje com 79 anos de idade – Foto: Denilson Paredes

 

O personagem da “Série Pioneiros” de hoje é o agrimensor aposentado Luiz Lopes Martinez, que demarcou a maioria dos bairros mais antigos da cidade e que teve grande influência pessoal e política no município, tendo sido inclusive vice-prefeito de Rondonópolis.

Natural de Itirapuã (SP), Luiz Lopes Martinez tem 79 anos, é casado com dona Iraci Correia Lopes há 54 anos, pai de três filhos e avô de sete netos. Criado na cidade de Franca, também em São Paulo, o pioneiro chegou em Rondonópolis no ano de 1963, aos 23 anos, logo após perder seu pai. A decisão de vir para cá se deu por conta de que o pai tinha adquirido um pedaço de terra na região de Pedra Preta, o que levou o agrimensor recém formado a se encher de coragem e vir para a próspera região construir sua vida.

 

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Sexto de um total de 11 irmãos, Luiz Martinez foi o escolhido para vir trabalhar na propriedade da família, se lembra que foi trazido para cá por dois irmãos e que a viagem durou três dias. “Viemos num jipinho e viajamos dia e noite. A estrada era toda na terra, com poucos trechos de asfalto. Por sorte, o carro não quebrou nenhuma vez, mas encravamos no areião algumas vezes. Meus irmãos me deixaram aqui e foram embora. Eu tive que ficar aqui e gostei muito da ideia”, contou.

Nos primeiros dias, ele se lembra que ficou no Kilômetro Hotel, mas logo encontrou amigos da época de escola, que tinham uma serraria próximo do Arareau, que o convidaram para morar com eles. Em seguida, começou a trabalhar na sua profissão e logo depois foi inaugurada a primeira agência do Banco do Brasil, que acabou contratando o jovem agrimensor para trabalhar como avaliador, emprego que conservou por dez anos, ao mesmo tempo que trabalhava na terra que era de seu pai, que conserva até hoje. “Eu fico mais tempo lá do que aqui hoje em dia”, conta, entre risos. Foi ali que conheceu aquela que viria a ser sua esposa, que era filha de seu vizinho de terra, em Pedra Preta.

 

Em 1966, ajudou a fundar a Cooperativa Mista Agropecuária de Rondonópolis, da qual foi o segundo presidente, que auxiliou muito os produtores rurais da época, fornecendo os insumos e depois ajudando na comercialização da produção. Em 1967, ajudou a fundar o Sindicato Rural, do qual foi diretor por diversas vezes. Foi Luiz Martinez que fez a demarcação para a construção do primeiro Parque de Exposições da cidade, que ficava na Avenida Bandeirantes, construída pelo ex-prefeito Hélio Garcia.

Foi Hélio Garcia quem tocou a obra de calçamento com paralelepípedos das principais ruas e avenidas do centro, ficando o serviço de topografia a cargo de Luiz Martinez.

 

A cerimônia de posse de Luiz Martinez (ao fundo) como vice-prefeito. Em primeiro plano aparece o ex-presidente da Câmara, Ildon Peres, e também o ex-prefeito Walter Ulisséia

ENTRADA NA POLÍTICA

Em 1969, ele decidiu aceitar um convite para entrar na vida política da cidade e foi candidato a vice do ex-prefeito Zanete Cardinal, disputando com o também ex-prefeito da cidade, Walter Ulisséia. “Eu recebi uma comitiva na fazenda, que queria que eu fosse candidato a prefeito, mas eu declinei. Aí, o Walter aceitou e eu topei ser seu vice. Eu era muito conhecido na época, era novo, cheio de vontade de trabalhar. Mas apesar de grande, aqui não tinha nem sete mil eleitores”, rememora.

Vitoriosos por uma pequena margem de votos, o pioneiro conta que a administração da qual participou foi muito boa. “Mas eu não era um político carreirista e fui até convidado para prosseguir na política, porém eu não quis. Não era para mim, pois para ser político o sujeito tem que ter o dom. Como eu nunca tive, fui cuidar da vida”.

 

DEMARCAÇÕES DE LOTEAMENTOS

Com a cidade crescendo, atraindo famílias de todas as partes do país, havia a necessidade de abertura de novos loteamentos para que essas pessoas pudessem construir suas casas. “Eu fiz um punhado de loteamento aqui, como a Vila São José, o Jardim Brasília, Vila Duarte, Jardim Assunção, que foram áreas que comprei e fatiei, no entanto fiz a topografia da Vila São Paulo, Santo Antônio, Santa Maria, Vila Cardoso, Bom Pastor, Santa Cruz, Jambalaia…tudo fui eu quem demarcou”, recorda.

Luiz Martinez lembra que quando chegou aqui havia poucas casas e muita área vaga, mas aos poucos a cidade se desenvolvia e ele foi uma das testemunhas desse crescimento. “Tinha umas três a quatro quadras só de casas. O resto era tudo terreno vago. Hoje é essa coisa de louco. A gente sabia que aqui ia crescer, porque um entroncamento rodoviário cresce mesmo. No começo, ia tudo devagarzinho, era só terra de cultura, mas depois que o cerrado começou a dar soja, a coisa explodiu mesmo. Aí colocaram capim na cultura e a lavoura foi para o cerrado”, externa o pioneiro.

Com o crescimento de Rondonópolis, logo apareceram concorrentes na sua área, e mais para frente mudou a forma como se faz a demarcação de terras, que hoje é feita pelo GPS, muito diferente da época em que tudo era feito na base da trena, da baliza e do teodolito. “No meu tempo era dureza. Tinha que abrir picada no meio da mata e se você encontrasse uma árvore grande no caminho, você tinha que derrubar. Era um dia no machado, pois não existia motosserra. Era bem mais difícil que hoje, mas era um serviço que eu gostava de fazer. A maior parte das fazendas que tem aqui por perto foi eu que medi. Fiz isso até pouco tempo, mas agora estou aposentado, o joelho já não deixa eu andar tanto. Hoje em dia, só cuido da minha fazenda mesmo”.

 

Testemunha ocular do crescimento de Rondonópolis


 

Nessa foto, do ano de 1976, o pioneiro Luiz Martinez aparece ao lado da esposa e seus três filhos

Na economia, ele assistiu a pequena Rondonópolis se consolidar como município, se tornar por um tempo a “Rainha do Algodão”, título que a cidade carregou por décadas, até que a pecuária tomou conta das terras, antes da década de 70, quando chegaram os sulistas para plantarem soja no cerrado, o que gerou o boom econômico que rendeu o novo título de capital do agronegócio.

“A gente fica contente de ver o tanto de escolas que tem hoje, a medicina está muito avançada. Eu, graças a Deus, tive meninos todos saudáveis e não tive problemas com isso, mas naquele tempo não tinha o SUS, era tudo pago. Quando cheguei aqui, tinha 3, 4 médicos só. Mas em compensação era muito tranquilo. E era tudo muito poeirento, mas aí quando o Hélio (Garcia) fez o calçamento no centro, melhorou um pouco, mas ainda ficou muita poeira”.

Aqui, o pioneiro aparece ao lado da família e amigos curtindo um banho no Arareau, um das poucas opções de diversão que a cidade oferecia antigamente

Dessa época, ele faz questão de ressaltar que as pessoas todas se conheciam e quase não havia crimes na ainda pequena cidade. “O que era melhor antigamente era a paz que a gente tinha. Era um sossego, podia dormir de janela aberta. Às vezes, você podia sair e encontrar dois mortos na rua, mas era gente da pesada, era encrenca. Ninguém entrava na casa de ninguém para roubar. Isso era raridade. Depois tivemos um delegado aqui, o tenente Adib, que fez uma limpeza na cidade. Isso era o melhor daquela época, mas hoje em dia você tem conforto. Antigamente, você tinha que ter um mosquiteiro para dormir, não tinha nem ventilador. Com esse calor que faz aqui e os pernilongos que tinha naquela época, ninguém aguentava”, diz Luiz Martinez.

Apesar de elogiar o progresso que a cidade que adotou como sua experimentou desde que surgiu, ele critica o fato de possuir poucas praças, mas diz que Rondonópolis é sua casa e não pretende mais sair daqui. “Grande parte dos prefeitos pegou as praças e loteou, e eu achei isso muito errado. Precisa dessas áreas para as pessoas se encontrarem, levarem as crianças. E além de serem poucas, são mal cuidadas. Elas podiam ser mais bonitas. No entanto, acho que a saúde está boa, tem bastante escolas, tem tudo quanto é faculdade. Está muito bom como está. O que eu podia fazer eu já fiz lá atrás, não fiz inimigos, fiz só amizades. Nunca pensei em ir embora daqui, porque me senti ligado à essa terra. Pretendo ficar por aqui mesmo, deixar meus ossos aqui mesmo, lá no Cemitério da Vila Aurora”, concluiu.

Como surgiu a Avenida Aeroporto

O pioneiro conta que nos primórdios da cidade o aeroporto ficava onde hoje é o bairro Santa Cruz e ia da Rua Dom Pedro II até próximo de onde hoje é o pátio da Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder), e após demarcar a área para ser loteada, o pioneiro fez questão de deixar isso registrado na história de Rondonópolis.
“Aquela avenida ali fui eu que coloquei o nome. Eu loteei ali e coloquei esse nome porque era ali que acabava a pista de pouso do aeroporto. Por causa disso, ela ficou com o nome de Avenida Aeroporto. Na época, era tudo chácara por ali, não era nada loteado. O pessoal não queria lotear, mas o prefeito da época, que era o Candinho (Cândido Borges Leal), me chamou para demarcar ali e ficou bonito, tudo certinho, bem diferente do que era antes, que era tudo bagunçado, não tinha ruas certinhas como tem hoje em dia”, relembrou o pioneiro Luiz Martinez.

 

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2 COMENTÁRIOS

  1. MEU PAI , NILO GONÇALVES DE QUEIROZ. NASCIDO AÍ EM RONDONÓPOLIS, FAZENDA DE RONDON EM 1923, CARPINTEIRO, EU COMO FILHO MAIS VELHO HOJE COM 67 ANOS, CONHECEMOS TODOS ESSES PIONEIROS, DESSA NOSSA QUERIDA CIDADE.

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