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Referência no combate à hanseníase anuncia aposentadoria

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O enfermeiro alemão Manfred Robert Göbel está em Mato Grosso desde 1979 – Foto: Deivid Rodrigues

Em janeiro de 2019 o coordenador no Brasil da Associação Alemã de Assistência aos Hansenianos e Tuberculosos (Dahw), Manfred Robert Göbel, deve receber a merecida aposentadoria, após quase 40 anos de ativismo e dedicação no combate a hanseníase em Mato Grosso. Ele chegou em 1979 em Rondonópolis, onde iniciou um trabalho que revolucionou o tratamento da doença no Estado. Manfred conta que o Governo de Mato Grosso, após a divisão do Estado, em 1978, e com o único centro de tratamento localizado em Campo Grande (MS), na época ainda com internação compulsória, procurou a organização com intermédio dos padres Franciscanos de Rondonópolis e Campo Grande para que o atendimento para os hansenianos fosse realizado no novo Estado de forma ambulatorial.

“A Dahw já era conhecida no mundo inteiro e eu, que tinha vontade de trabalhar fora da Alemanha, recebi a proposta para trabalhar em Mato Grosso e acabei contratado. Cheguei inicialmente em Campo Grande, fui para Bauru, no interior de São Paulo, e lá conheci a minha esposa, a médica Marisa Balardin Göbel. Iria ficar apenas dois anos no Brasil, mas acabei permanecendo”, explica. Manfred recorda que quando chegou a Rondonópolis, a cidade tinha em torno de 60 mil habitantes e nenhuma estrutura de saúde. “Na época, o Sistema Único de Saúde não existia e os doentes eram internados nas ‘colônias de leprosos’ ou viviam isolados em situação precária na periferia, já que se viessem para a região central eram presos e levados para o sanatório. Não foi fácil no começo, sem tratamento há muito tempo os pacientes estavam mutilados e o povo tinha medo. O preconceito foi um grande obstáculo no tratamento, ainda é!”, disse.

Quando iniciou o trabalho na cidade, Manfred conta que viu a necessidade de construir um centro para tratamento, que foi levantado anexo ao Centro de Saúde Guanabara em 1983. “A partir desse momento começamos a tratar bem os pacientes, na época eram 240 pessoas. Hoje, Rondonópolis tem sete mil casos catalogados”, conta. Inicialmente o atendimento era voltado para a questão da higiene, tratamento com plantas medicinais, mas na década de 80 com a implantação de mini postos de saúde que foram equipados pela organização, o avanço no disgnóstico precoce foi grande. “Investimos fortemente aqui na cidade nesses 40 anos de Brasil e de trabalho junto ao Ministério da Saúde e outras organizações internacionais”, relata. O enfermeiro ainda não definiu a cidade em que viverá para curtir a aposentadoria, mas destacou o carinho que tem pelo Estado. “Mesmo se eu não ficar, não vou esquecer Mato Grosso, afinal são 40 anos, tenho amigos aqui e outros projetos que vou continuar apoiando”, disse. Manfred tem 65 anos, e teve junto à esposa Marisa dois filhos e um neto.

SITUAÇÃO ATUAL – Conforme Manfred, hoje Rondonópolis tem uma média de 45 casos de hanseníase para cada 100 mil habitantes. Já Mato Grosso tem 103 casos para cada 100 mil. “Se Mato Grosso fosse uma ilha, já teríamos erradicado, mas somos uma área endêmica, sendo Rondonópolis uma porta de entrada devido a grande circulação de pessoas de vários locais. Temos esses números, mas acredito que os casos são o dobro do que temos notificados, porque a busca ativa ainda precisa melhorar muito. É preciso intensivar o diagnóstico precoce, investir em campanhas e na divulgação dos sintomas, para que as pessoas busquem ajuda. Com a estrutura que temos hoje, precisamos aproveitá-la muito mais, já que os dados nos mostram que o diagnóstico é tardio e não conseguimos interromper a cadeia de transmissão”, diz. O Brasil concentra hoje 93% dos casos de hanseníase das Américas e é o 2º país com maior registro de casos no mundo, ficando atrás da Índia e a frente da Indonésia.

A DAHW – O escritório da organização, com a aposentadoria de Manfred, será transferido para Belo Horizonte (MG) e um brasileiro será o seu sucessor no comando. A organização não-governamental foi fundada em 1957 na cidade alemã de Würzburg. Com recursos provenientes de doadores físicos e privados de toda Alemanha, a Dahw construiu ao longo de décadas uma sólida reputação de credibilidade e eficiência reconhecida mundialmente. Atualmente a organização que está há 60 anos no Brasil registra atividades em mais 20 países. “Os recursos foram reduzidos nos últimos anos e as doações para a América Latina caíram consideravelmente. A prioridade da organização agora é a África, local de onde partem os refugiados que chegam na Alemanha. Temos poucos projetos agora, mas a organização segue no Brasil. O investimento que a Ong faz hoje em Rondonópolis é insignificante, quando chegamos era realmente necessário e fez a diferença, mas penso que tudo tem começo, meio e fim, e acho que a organização cumpriu o seu papel”, destacou. Ele aproveitou para reforçar também o empenho das equipes que atuaram ao longo desse período e destacou que a cidade tem ótimos profissionais no trabalho de combate a hanseníase. Para Manfred, o município tem estrutura para seguir sozinho com o trabalho, necessitando melhorar a busca ativa e as campanhas educativas.

HOMENAGENS – Em abril deste ano, em uma cerimônia realizada no Palácio Paiaguás, em Cuiabá, Manfred foi homenageado pelo Governo de Mato Grosso pelo trabalho de prevenção e controle de hanseníase, que contribuiu para a estruturação de toda a saúde pública no país. Cerca de 16 mil profissionais da saúde do Estado foram capacitados para o combate à doença e mais de 100 mil hansenianos foram tratados na parceria entre a Dahw e o Estado, desde 1979. Ele também recebeu, em 2002, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), o título de cidadão Mato-grossense.

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