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Rondonópolis
, 16 maio 2024
 
 

“Está precisando haver um amadurecimento dos homens que governam a cidade”

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A Série Pioneiros, do Jornal A TRIBUNA, traz hoje uma entrevista com o advogado aposentado e escritor Ailon Bispo Carmo, o Ailon do Carmo, pessoa muito conhecida e ativa da sociedade local. Nascido na vizinha Guiratinga, ele se mudou ainda criança, aos dez anos de idade, para Rondonópolis, cidade onde fincou raízes e desenvolveu relações de amizade, se tornando rondonopolitano de coração e adoção. Aos 74 anos, pai de cinco filhos, avô de quatro netos e já com uma bisneta, Ailon tem se dedicado à literatura e prepara mais um livro sobre a História de Rondonópolis, que tem consumido muito do seu tempo e energias. Confira:


Ailon do Carmo, que chegou em Rondonópolis há 64 anos – Foto: Roberto Nunes/A TRIBUNA

O hoje advogado aposentado Ailon do Carmo chegou em Rondonópolis há 64 anos, no distante ano de 1953, ano da emancipação política e administrativa da cidade, que até então era distrito de Poxoréu. Quando chegou aqui, a cidade estava nos seus primórdios, e cidades como Guiratinga e Poxoréu eram bem maiores que Rondonópolis, que era pouco mais que um aglomerado de pessoas.

Dos primeiros anos aqui, ele se lembra com carinho das brincadeiras e do futebol, que jogava com amigos onde hoje é o centro da cidade. “Eu era bem jovem, não tinha muito entendimento das coisas. Mas uma coisa que eu gostava muito era jogar bola no campo de futebol que ficava onde hoje é a Escola EEMOP. Era um campinho rústico. Ali na frente da Matriz também não havia nada, era um terreno sem nenhuma construção”, relembra, se referindo ao local onde há tempos existe a Praça Brasil.

Na foto, Ailon aparece junto do desembargador Juvenal Pereira da Silva, amigo dos tempos de faculdade de Direito – Foto: Acervo Pessoal

Outra boa lembrança dos primeiros anos em Rondonópolis eram os banhos no Rio Arareau, que foi por muitos anos a principal diversão das famílias e dos jovens da cidade. “A grande atração nessa época por aqui era tomar banho no Arareau. Eu mesmo ia quase todos os dias, mas o pessoal ia mais em peso nos finais de semana. Havia uma pedreira ali próximo de onde fica a Rua Fernando Correia da Costa, que era o lugar onde as mulheres lavavam a roupa, mas em toda a sua extensão por aqui ele era muito bom para banhar. Eu era muito jovem e a gente pulava da ponte, a garotada se divertia muito. Era uma festa para a juventude da época”, contou.

Sobre a cidade que adotou, Ailon a descreve como uma cidade que sempre teve a vocação para o progresso. “Rondonópolis sempre foi uma cidade que esteve preparada para aquele momento. À medida que a cidade ia crescendo, ela ia evoluindo em muitos aspectos. Na região, era aqui onde as pessoas encontravam as coisas, tanto é que ela foi atraindo as populações de outras cidades da região até se tornar o polo que é hoje em dia”.

Aqui, Ailon aparece ao lado de amigos seresteiros, como o jornalista Denis Maris, com quem formaria a Ronda da Seresta, que animou muitos bailes na cidade de outrora – Foto: Acervo Pessoal

Depois de estudar os primeiros anos por aqui, ele foi estudar num internato de padres salesianos na cidade de Alto Araguaia, para iniciar os estudos no Científico, equivalente ao ensino médio, no Colégio Liceu Cuiabano, na capital, para vir concluí-lo aqui, no antigo Colégio Estadual, que ficava onde hoje é a Escola Emanuel Pinheiro. Após concluir os estudos iniciais, ele ficou afastado dos bancos escolares por doze anos, antes de retornar para Cuiabá, dessa vez para fazer a faculdade de Direito, para novamente retornar a Rondonópolis e trabalhar como advogado especializado na área trabalhista e do direito familiar. “Como advogado trabalhista, eu tive um bom reconhecimento e até hoje meus antigos clientes me reverenciam muito. Cumpri bem meu papel, mas já faz uns quinze anos que eu parei de advogar e estou me dedicando mais a escrever meus livros. Nessa época, até ganhei algum dinheiro, cheguei a ter casa boa, algumas chácaras e sempre tive dois carros bons na garagem, mas eu costumo dizer que o escritor faliu o advogado e hoje sobrou muito pouca coisa. Eu estou pagando caro pela minha vocação de escritor, mas pago satisfeito”, diz, entre risos.

Homem das letras e da noite, Ailon também foi compositor, tendo escrito diversos sambas-enredos de escolas de samba no final da década de 60, para depois compor grupos de samba com a velha guarda da cidade, como o radialista e jornalista Denis Maris, com quem viria a compor a saudosa Ronda da Seresta, grupo de samba e serestas que embalou festas na década de 80 na cidade. “Houve um período de boemia e nós nos apresentávamos em vários lugares da cidade. Depois veio o Ronda, que foi formado pelo Denis e que eu atuava mais como cantor. Foi um período muito bom, em que encontrávamos os amigos e fazíamos novas amizades tocando e alegrando as pessoas na noite”, lembra o pioneiro.

Sobre a paixão que carregou consigo por toda a vida e a qual se entrega agora com mais afinco, a de escritor, Ailon do Carmo diz estar se dedicando dia e noite a concluir seu segundo livro sobre a História de Rondonópolis, que tem lhe roubado preciosas horas de sono. “Eu tenho 12 livros lançados, e são livros mesmo, pois sempre tive a preocupação de escrever livros com conteúdo, volumosos, pois há companheiros por aí que escrevem fascículos e chamam de livro. A maioria é de História, eu não sei te dizer por quê, mas sempre tive essa tendência para historiador, mas foi o livro Dicionário de Rimas e Noções Básicas de Como Versejar, que tem mais de 400 páginas, que me abriu as portas da Academia Mato-grossense de Letras, da qual faço parte desde 2002, tendo conquistado a cadeira 12. Esse foi um dos meus livros que mais repercutiu, por assim dizer. Eu fui o primeiro escritor de Mato Grosso a escrever um dicionário desses. Ele é essencial para a poesia e para o poeta conhecer a poesia”, informou. Outras obras importantes do escritor são os livros História de Rondonópolis, publicado em 2005, e o livro História de Guiratinga, publicado em 2009.

Nesta foto, Ailon aparece fantasiado de índio nos famosos carnavais da extinta Associação Bancária Rondonina (ABR) – Foto: Acervo Pessoal

Em Rondonópolis, ele é membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL), que foi fundada em novembro de 2013. “Eu reuni um grupo de pessoas que a gente via escrevendo no Jornal A TRIBUNA, principalmente, e disse a eles que a gente já poderia formar uma Academia e, inclusive, ela foi formada aqui, no auditório do A TRIBUNA. Ela tem uma relevância no contexto da sociedade, pois poderemos ter a partir dali ótimos escritores e ela funciona como uma forma de desenvolver a literatura na cidade e no Estado. O escritor é uma figura fundamental na sociedade, pois todo o conhecimento que temos está resumido nos livros, que é trabalho dos escritores”, definiu.

Sobre a sua relação com a cidade, Ailon do Carmo afirma que ele mesmo se estranha com a ligação que tem com ela, que é tão forte que nunca o permitiu ir tentar a vida em outras terras. “Eu já tive propostas para ir para outras cidades e não saí daqui. Logo depois que me formei, fui convidado por uma família poderosa para ir trabalhar e morar em outra cidade. Vieram me buscar de avião, fiquei lá uma semana, eles empolgados comigo e com meu trabalho, mas eu achava tudo estranho lá, não me acostumei com nada. Eu sentia falta das paisagens, da família, dos amigos, das amigas principalmente, pois o poeta sempre foi chegado às amigas. E não teve jeito, voltei para Rondonópolis. Talvez tenha sido a maior oportunidade de progresso na minha vida, mas dispensei, por causa de Rondonópolis”.

Já sobre a cidade que conheceu quando chEgou por aqui, ele diz não ser saudosista e viver em harmonia com os dias atuais. “Olha, eu vejo reclamações e saudosismos: ‘porque a gente vivia à vontade, janelas abertas, tomava banho no rio’. Eu não sou assim, eu vou acompanhando a evolução da cidade, me adaptando. Claro que não gosto de cidade turbulenta, como a cidade está ficando, se não forem tomadas providências para descentralizar a cidade, levando os órgãos públicos para as periferias. Querem construir tudo no centro da cidade, quando tínhamos que buscar as periferias, como forma de esvaziar o centro da cidade. Aí, fica esse centro tumultuado, com grande fluxo de veículos e gente que todos detestam. Não cabe mais nada no centro, tem que descentralizar”, defendeu.

Para o futuro da cidade, ele diz entender que a mesma precisa ser urgentemente preparada para dobrar de tamanho, o que vai exigir medidas administrativas e projetos urbanísticos que a preparem para essa nova realidade. “Está precisando haver um amadurecimento dos homens que governam a cidade. Até hoje ninguém falou na construção de ruas de grande porte nas periferias da cidade, pois a cidade vai crescer. Falta projetos de uma grande cidade. As cabeças pensantes não pensaram isso ainda, não projetaram a cidade para o futuro. O que estamos vendo é só a criação de núcleos habitacionais populares e está faltando a criação de ruas largas, para fluir o tráfego. Eu tenho certeza que a cidade logo chega a 500 mil habitantes”, diz.

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1 COMENTÁRIO

  1. Imagine um homem de caráter íntegro, cheio de valores éticos e morais, que tem a honestidade como uma de suas maiores virtudes: esse é o Dr. Ailon.
    Ele foi autor de uma história de grandeza, digna de um vencedor, que nos enche de orgulho e que com toda certeza, ainda será ouvida por muitas gerações e jamais esquecida. Vida longa ao Dr. Ailon do Carmo.

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