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, 19 julho 2025
 
 

Como iludir o povo (I)

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(*) Paulo Isaac

As eleições municipais se aproximam da reta final e nós, eleitores, ficamos confusos diante das propostas e credibilidade dos candidatos. Eles se identificam como direita, centro ou esquerda, exemplos de famílias harmoniosas, fervorosos crentes em Deus e defensores da pátria e do povo indefeso. À essas imagens de personificação positiva denominamos “utilização de arquétipos que habitam o inconsciente coletivo dos seres humanos” para criar uma falsa identidade com o eleitor. A identidade de um bom cidadão e de um representante ideal.

Essa utilização de argumentos e práticas comuns leva o eleitor a se perguntar: o que os diferenciam uns dos outros?
A resposta não é simples. A Ciência Política tem se ocupado há séculos dessa questão. Ela estuda as relações de poder e os mecanismos de manipulação utilizados pelas classes dirigentes para se apoderarem ou permanecerem nos cargos políticos estatais. Por isso, a maioria dos políticos odeia as ciências, visto que elas revelam a verdade.

Na antiguidade, os reis e imperadores tinham os seus conselheiros e sacerdotes encarregados de traçar estratégias para se manterem no poder opulento, enquanto a plebe – o povo – sofria com a escravidão, a servidão e os impostos que lhes tiravam o pouco que conseguiam para sobreviver. Os reis se diziam representantes de Deus (teocracia), eram protegidos pelos exércitos e convenciam o povo de que eram os heróis que protegiam a população dos seus inimigos.

Em 1532, no período da origem dos Estados Nacionais, o italiano Nicolau Maquiavel publicou um livro denominado “O Príncipe”. Essa obra revelou como os donos do Poder utilizavam, a seu favor, as leis e regras autoritárias, a força militar e o manto da religião para engambelar o povo. Na época, a elite dominante de Florença, governada por Lourenço de Médici, ambicionava a união dos reinos em torno de um Poder centralizado. Esta foi a primeira obra científica reveladora de estratégias de dominação política, artimanhas e intenções escusas contidos nas relações de poder. A obra de Maquiavel abriu as portas para o surgimento da Ciência Política. Por isso, o autor ganhou a alcunha de “pai da política”, inaugurando as bases teóricas e metodológicas para a análise científica das relações de poder, de dominação e subordinação.

Em maio de 1919, Vladimir Lênin escreveu a obra “Como iludir o povo com o slogan de liberdade e igualdade”. Nesse livro, de cerca de cinquenta páginas, Lênin revelou como os valores morais se tornam instrumentos ideológicos para manter a esperança do povo em meio à opressão da exploração econômica capitalista. Sua abordagem teórica e metodológica focalizou duas questões fundamentais: a econômica e a ideológica. A liberdade de um povo, segundo ele, só é liberdade se os trabalhadores tiverem pleno direito às riquezas por eles produzidas. No plano ideológico, o autor observou que, naquele momento histórico, a maioria dos russos tinha em suas casas duas fotos na parede da sala, uma ao lado da outra. A primeira era a do Czar (o Imperador); a outra era a imagem de Jesus Cristo. As duas fotos, lado a lado, eram uma representação simbólica emblemática. A intenção da classe dominante russa era fazer o povo acreditar que o Governante tinha o mesmo poder de Deus. Com a publicação dessa obra de Lenin, a Ciência Política ampliou a sua visão em relação à análise das disputas políticas pelo Poder. Ela passou a dar mais atenção às questões econômicas e ideológicas.
Passaram-se milênios. Contudo, os mecanismos para iludir o povo continuam, agora revestidos de tecnologias de comunicação mais poderosas. Para não ser iludido pelo discurso político convencional, baseado em estratégias de marketing de campanha, o eleitor precisa identificar contradições nos discursos e práticas dos candidatos, bem como os elementos que estão ocultos em seus pronunciamentos e em suas propostas fantasiosas. Trataremos desse assunto em outro artigo a ser publicado, denominado “Como iludir o povo (II)”.

(*) Paulo Augusto Mario Isaac – Psicoterapeuta junguiano, professor doutor aposentado pela Universidade Federal de Mato Grosso, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Rondonópolis, membro da Academia Rondonopolitana de Letras (cadeira nº 5, patrono: Dr. João Antônio Neto)

 

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33 COMENTÁRIOS

  1. Paulo , o seu texto possui a simplicidade necessária para que se possa entender os meandros utilizados pelos diferentes grupos que desejam permanecer ou conquistar o poder . A única forma de combate a esta realidade é buscarmos orientar os que nos rodeiam a buscar o conhecimento para que possam desenvolver o poder do discernimento.

  2. O processo civilizatório está em crise neste século. Weber na obra Política como vocação, imaginava que a ética da responsabilidade se sobreporia a ética da vocação, e a dominação se tornaria cada vez mais racional e democrática. Marx, por outro lado, imaginava que a classe trabalhdora, aos poucos, a medida que o capital fosse se concentrando nas mãos de poucos , tomaria consciência da sua exploração e se revoltaria num processo revolucionário tirando o poder das mãos da classe dominante. Nenhuma coisa, nem outra aconteceu. Acontecerá? O que sabemos hoje é que vivemos uma crise resultante do capitalismo global, seguida de uma crise política, na qual a esquerda tem responsabilidade. Não bastasse os erros da esquerda no Brasil, vieram a crise moral, a crise de valores, a expansão da religião pentecostal , e a comunicação de massas (redes sociais) comandadas pelos conservadores, a extrema direita com viés fascista, cujo o lema é “Pátria, família e Deus acima de tudo”. Aí fechou círculo da dominação carismática que Weber também identificou no século XX. Ou seja, retrocedendo 50 anos em 5 anos dessa ideologia de idolatria de figuras que continuam presas na Caverna de Platão. Ainda, estamos sujeitos, por enquanto, a qualquer momento, a perder tudo que conquistamos as custas de ferro e sangue, em 1988 com a redemocratização do país.

  3. Acontece que povo sempre foi massa de manobras e sempre será. O eleitor gosta de ser enganado, a grande maioria não vota em propostas concretas e exequível, gostam mesmo é de ser enganados e de ser sempre chicoteados. Eu não vejo motivo para tanta gente ter tanto ódio pelo PT que apesar dos seus defeitos ainda defende os trabalhados e diferente daqueles que só defendem a hegemonia do capitalismo selvagem e assim o povo elege sempre a maioria defensores do capitalismo que os explora.

  4. Para não ser enganado pelo marketing político, o eleitor precisa analisar de forma crítica os discursos e ações dos candidatos, identificando contradições e avaliando promessas irrealistas, descobrindo inconsistência por meio da biografia.

  5. Prezado Professor Paulo Isaac. Obrigado por publicar seus artigos e tentar informar a População e os Eleitores. Infelizmente, os políticos estão usando as tecnologias de comunicação com discursos vazios e populistas tentando iludir os Eleitores. Vê-se estratégias de campanha oportunistas, personalistas e demagógicas por todo o lado. Quando em debates o que vimos foram acusações e tentativas de diminuir os outros candidatos, SEM APRESENTAR propostas honestas e bem estruturadas. Muito importante o que o senhor destacou no artigo, temos que “identificar contradições nos discursos e práticas dos candidatos, bem como os elementos que estão ocultos em seus pronunciamentos e em suas propostas fantasiosas”. Vamos fazer nossa parte e compartilhar notícias verdadeiras e dialogar com que está desinformado ou dominado pelas fakes news. Que tenhamos uma postura crítica e responsável na eleição que se aproxima. Parabéns pela publicação.

  6. Iludire: Pejudicar. Política e políticas. O fetichismo pelo poder. A corrupção do campo político. Quem prejudica quem? E continuamos a rolar pedras morro acima.

  7. Ótimo texto para reflexão! Sabemos que os políticos usam de certas artimanhas pegando o ponto fraco da população, iludindo e muitas vezes mentindo para conseguirem o poder a qualquer custo. E quem já está no poder não quer deixar de forma alguma pois tem grandes privilégios o que o cidadão comum não tem. Eles tem o poder de iludir a população com falsas promessas.

  8. As estratégias para as classes dominantes se manterem no poder não mudaram muito ao logo da História, apenas se adequaram ao uso da tecnologia contemporânea. Parabéns pelo texto, aborda com clareza temas da ciência política e elementos de dominação psicológica que fazem uso de arquetipos da religião.

  9. Paulo, por outro lado tem a escola socratica e platonica que em o livro a republica fala quem e como deve ser um hovernate: Platão
    apresenta a busca de Sócrates por uma forma de governar que atenda a
    todos e, para isso, é necessário esclarecer o que
    é a Justiça em si. São apresentadas formas de governar uma cidade, a divisão dos poderes e os tipos de caráter que devem predominar entre os ocupantes de cargos públicos. Poisé kkkk os políticos saem da mesma sociedade desatenta desenformada onde caráter, justiça, fraternidade são instâncias desconhecida. Portanto meu Caro professor estamos longe de termos homens e ou mulheres aptos a governar nesse desgoverno.

  10. Maquiavel escreveu “O Príncipe” para esclarecer ao povo como funciona o poder . Lenin, com princípios Marxistas, trata a igualdade e liberdade como forma de dominação . E com isso o ESTADO passa a ser o dominador . E nasce o populismo , o autoritarismo ……….que também são dominantes e iludem o povo com discurso da “ Democracia Relativa “ . Escolham bem seus candidatos pela sua respectiva história……….

  11. Detalhou historicamente como os políticos são gananciosos pelo poder e querem permanecer. Porém, como o “povo” não consegue perceber esse jogo sujo? Por que a mídia não convenceu ou revelou para o povo essa história? Quem está comprometido para fazer o bem?

  12. Ótima reflexão acho que além das estratégias levantadas no texto que os politicos usam pra ludibriar o povo, vejo também a presença de muitas promessas mentirosas que retrata principalmente dos candidatos a prefeito da falta de manuseio da peça orçamentária, pois tem promessas que a lei não permite aplicá-las.

  13. A reflexão é interessante, e percebo que a maioria da população evoluiu e aprendeu a distinguir os políticos que priorizam a enganação. Porem, a maioria dos políticos não acompanhou a evolução da população e continuam na mesmice. Com o discurso da mudança, sem apresentar propostas e se valendo de Deus, Patria e Familia.

  14. Uma importante reflexão foi aberta sobre o eleitor precisar identificar contradições nos discursos político, nas propostas oficializada no tribunal eleitoral, nas práticas dos candidatos que já fazem a política. A Fake News, sempre ganha destaque com a “desinformação” e quem perde, como sempre, é o povo. Ilusão ou alusão a ideais político?

  15. O difícil é para uma população não preparada educacional e moralmente entender isso! Muita gente foi criada ao longo da vida para não questionar, discutir o certo ou errado e acabou passando esses valores para geração seguinte o que fez uma geração de alienados. Como se resolve isso!???

  16. Esse artigo, é uma radiografia verdadeira dos fatos da política eleitoral e reflete a verdade do poder de dominação durante o período histórico abordado pelo autor. A educação política se faz necessária em nível mundial e nacional.

  17. Muito bom e oportuno o texto! Impressionante que mesmo com o passar dos séculos essa prática continua e muito mais instrumentalizado do que no passado. Quando vamos aprender?

    • Já estou ansioso para ler a segunda opinião do Dr Paulo, especialmente para descobrir se há antídoto para escaparmos das artimanhas dos políticos profissionais.

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