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Não foi acidente

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(*) Ricardo Viveiros*

Antes ocorria apenas após os “feriadões”, mas agora é a mesma coisa em qualquer época: as estatísticas fortalecem o noticiário da mídia que informa graves acidentes de trânsito, e muitos com motoristas alcoolizados. A falta de educação, reforçada pela imprudência e sensação de impunidade, rouba muitas vidas e deixa um rastro de sangue nas estradas, cicatrizes nos corações e mentes dos que sobrevivem à perda de parentes e amigos.

Essa dura realidade continua cada vez pior. Dados oficiais divulgados regularmente indicam que as mortes de jovens em acidentes de trânsito, nos últimos 10 anos, cresceram mais de 30%. O progressivo agravamento da violência no tráfego das vias públicas levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a proclamar 2011/2020 a Década de Ação pela Segurança no Trânsito.

Há 28 anos perdi um filho e uma neta em desastre de carro na cidade de São Paulo. Ele com 26 anos, e ela com 7 meses. Ricardo, ilustrador e cartunista, era casado e tinha três filhos. Mariana, que morreu com ele, era a caçula.

Naquela madrugada de 1996, um lacônico telefonema anunciou: morreu Ricardo Filho, morreu Mariana. O irresponsável que avançou o semáforo vermelho e os matou fugiu, desapareceu. Enterrei filho e neta juntos, um ato contra a lei da natureza. Longos 15 anos depois, após uma luta sem trégua marcada apenas pela busca de justiça, jamais de vingança ou reparação financeira, o criminoso foi encontrado e julgado. Respondeu em liberdade à condenação de apenas um ano e nove meses.

Jamais aceitei a condição de vítima. Sofri tudo o que era possível, cheguei ao fundo do poço e voltei, sobrevivente, para seguir meu destino. Contudo, cabe mudar a realidade que vivemos neste país: o investimento em educação precisa ser, no mínimo, 10% do PIB, as leis de trânsito precisam ser mais rigorosas, as penas maiores e realmente cumpridas.

Em 2021, o número oficial de mortos no Brasil, vítimas de acidentes de trânsito, foi de 33.813; porém, sabe-se que são contabilizados apenas aqueles que morrem no local do acidente. Muitos acreditam que esse número passe dos 50 mil mortos anuais. A irresponsabilidade dos motoristas não deve/pode ser tratada pela lei como simples acidente, quando na verdade é crime.

Muitos me perguntam o porquê de relembrar a tragédia que vitimou a nossa família. A resposta é simples: na semana passada, por exemplo, um jovem provavelmente alcoolizado segundo apurações policiais, com um potente veículo esportivo, colidiu em alta velocidade na traseira de um modesto carro de aplicativo. Matou o motorista, que estava trabalhando para sustentar sua família. Lembrar o passado significa um alerta para que o mesmo não aconteça de novo com outras pessoas.

Cabe à sociedade, em sua legítima defesa, lutar por mais educação e pelo cumprimento de procedimentos que garantam os meios de provar a culpa dos motoristas alcoolizados, dos que dirigem de maneira insana. Também é preciso, insisto, que as leis de trânsito sejam mais duras, as penas mais rigorosas e de fato cumpridas. Por você, por nós, pelo futuro do Brasil.

(*) Ricardo Viveiros é jornalista, professor e escritor. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, ocupa a cadeira nº 30 da Academia Paulista de Educação e é autor de vários livros

 

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