“Alegremo-nos todos no Senhor; hoje nasceu o salvador do mundo, desceu do céu a verdadeira paz”. Celebrar o Natal é fazer memória dos fatos libertadores realizados por Deus através de seu filho Jesus. A humanidade celebra a experiência de ser amada por Deus, pois Ele quis morar no meio de nós para trazer vida, esperança, justiça, paz e salvação. Neste tempo de pandemia, de medo, incertezas, isolamento e perdas as comunidades vivem a experiência do Natal. Experiência nova, diferente. O estamos aprendendo? Que desafios permanecem?
Em Lucas 2,15-21 o evangelista menciona a teia comunitária do nascimento que envolveu o nascimento de Jesus: “Não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Símbolo de porta fechada, lugar do egoísmo. Maria e José bateram nas portas, procuraram ajuda, mas não encontram acolhida. Então buscam a simplicidade e lá numa gruta encontram espaço, acolhida… Foi nessa realidade que nasce o Salvador, aquele que veio reconstruir a comunidade humana.
A liturgia da noite de Natal enfatiza três palavras-vida-significado: “não tenhais medo”, “eis que vos anuncio uma notícia que será alegria” e “hoje nasceu-vos o Salvador”. Todos podem ter coragem e alegria, porque a salvação de Deus irrompeu hoje no mundo. “Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo”. Porém o anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo”: E qual esta alegria? “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”.
O profeta Isaías transforma o medo em esperança: “Pois nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is 9,5-6). São Lucas faz questão de afirmar. ”De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado”. Quando os anjos se afastaram deles, para o céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura”.
O silêncio do mundo, dos pobres, dos povos indígenas, dos desempregados, dos doentes, idosos, dos hospitalizados, moradores de rua. O silêncio na gruta de Belém irrompeu num novo anúncio de esperança.
Neste tempo de Natal somos convidados a ir a Belém ou a ficar no palácio como Herodes; ou fechados em si como àqueles que não quiseram abrir a casa, a hospedaria para receber Maria, José e o menino a nascer. Nossa atitude como os pastores dos campos nos arredores de Belém: Prontidão para a missão, para a prática da justiça, para uma Igreja em saída, para ir ao encontro, formar comunidade. Superar as desculpas banais. Noite feliz-eternidade feliz, vida feliz para todos. Lá do silêncio da gruta, lá na pobreza, lá do meio da noite surge o canto da esperança “Glória a Deus nas alturas, eis que vos anuncio uma grande notícia, nasceu-vos o Salvador, Ele é o Príncipe da Paz, é Deus-conosco”.
Natal é nascimento, vida, esperança, cuidado, proximidade. Anjos chamam os pastores. Pastores se comunicam, se reúnem em comunidade e caminham para a gruta nas montanhas de Belém. Estar reunido é superar o medo. “Não tenhais medo, pois encontrareis um recém-nascido, um menino.. numa manjedoura, ele é o príncipe da paz”. É o Deus que desce para se encarnar e libertar a humanidade.
Um feliz e abençoado Natal a todos os leitores/as, mulheres e homens de boa vontade que acreditam na construção de um mundo renovado.
(*) Dom Juventino Kestering é bispo diocesano
