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Falta de diálogo – o prelúdio do fim

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19/04/2016 – Nº 408 – Ano 10
17/05/2016 – Nº 412 – Ano 10

Não há entrevista, discurso ou artigo sobre política, economia ou sociedade que o diálogo, essa palavrinha singela, não seja utilizada com obstinação e, muitas vezes, alçada a redentora da hora. Vale dizer que, além da consciência e também por causa dela, um dos aspectos que nos diferenciam dos outros animais, é a capacidade do diálogo elaborado e complexo com nossos semelhantes.  Fomos evoluindo e nos refinando ao longo do tempo. Na antiguidade, por regra geral, éramos mais broncos, menos afeitos ao diálogo e a compreensão. E por isso, as divergências tinham lugar e hora certa para serem resolvidas.

Se individuais, as praças de combate, e se coletivas, os campos de batalha. Mesmo nesses casos o diálogo tinha papel preponderante, seja na estratégia, seja para permutar a luta sangrenta por algo menos bárbaro. Muitas disputas são amainadas pelo diálogo. É normalmente o caminho mais adequado, embora muitas vezes demorado, para resolver a maioria das discórdias ou mesmo para conquistar avanços e dobrar opiniões contrárias. A falta dele revela empáfia, desprezo e certo nível de arrogância para com os demais. Quem não está aberto ao diálogo, embora com a razão ou perto dela, tem dificuldade para fazer evoluir suas opiniões e levar a cabo seu intento no campo prático. Normalmente sofre resistência das outras partes (que muitas vezes nem mesmo são contrárias num primeiro momento) simplesmente pelo fato destas não serem ouvidas. Como não consegue avançar, muitas vezes tenta fazê-lo pela força.

Sentir-se parte do jogo é motivo para que as pessoas possam eventualmente colaborar com as ideias dos outros. Sem isso, normalmente, se opõem, mesmo que não haja razão evidente para isso. É comum que apenas apoiam, sem o respectivo diálogo, aqueles que possuem algum interesse evidente ou quando sabidamente obterão algum benefício. O nosso cenário político, da história recente até a atual, e de como chegamos nessa situação, é em boa medida um retrato da utilização do diálogo, seja em dose adequada ou pela escolha da abstinência.

Aliás, se isolarmos o restante conjuntural (ceteris paribus, como os economistas definem) veremos que a era Lula, por exemplo, somente se materializou no momento em que a carranca foi trocada pela simpatia e o diálogo. Reconhecendo inclusive a contribuição dos diferentes.

Num determinado momento, mesmo optando por um caminho questionável, foi capaz de arrastar consigo, na base do diálogo (alguns dirão da negociata), um grupo suficiente para se perpetuar no poder e fazer sucessão. O ocaso do modelo se iniciou definitivamente quando o diálogo foi abandonado e ressurgiu a prepotência com força total. Nesse momento, mesmo os aliados de outrora se mostraram incapazes de sustentar um já difícil argumento. Como é natural nesse ambiente, se bandearam para o outro lado.

A chefia-mor, com pouca habilidade nesse campo, foi incapaz de trazê-los de volta, além de ainda oferecer munição adicional, combatendo e menosprezando as opiniões e sugestões de quem ainda poderia contribuir ao seu lado. Nesse momento, mesmo os aliados mais fiéis arrefeceram na tenacidade da defesa. Deu no que deu. Aqui também já tivemos exemplos claros dessa natureza. Embora com uma gestão excepcional não se vergaram para o diálogo, se fecharam, e por consequência, acabaram derrotados por quem utilizou em demasia. O resultado disso tudo nós já sabemos: todos perderam.

Voltando ao cenário nacional, todos estão temerosos em emitir qualquer opinião sobre o futuro do novo governo (provisório, por enquanto). Nesse ambiente não há mágica e no atual cenário crítico (dadas as condições políticas, econômicas e de corrupção – de parte a parte – em que o processo de substituição ocorreu), o remédio haverá de ser amargo, sem dúvida. Mas há um aspecto em especial que me dá ânimo e esperança por ora: a disposição clara, prática e reconhecidamente necessária do presidente em exercício de utilizar o diálogo como ferramenta principal para construir um futuro melhor. Para o bem de todos, vamos fazer a nossa parte e torcer para que os demais também o façam.

Boa semana e até a próxima.

(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor, workshopper e palestrante – [email protected].

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