Hoje, com os olhos quase apagados,
Que o tempo não soube preservar,
Vejo a imagem do imenso rio Poguba
Que a lembrança e o tempo não souberam apagar.
Sinto o vento em meus cabelos a balançar,
A verde mata, que tão grande, nos meus pequenos anos,
Medo me dava e fascinava.
Na lembrança, ainda vejo os meus parentes no velho bote chegar,
Peixes à vontade pra moquear;
Sem armas de fogo ou facas para matar,
Somente arcos, flechas e hábeis corpos bóe a usar.
Eles nos traziam alimentos, que a natureza não reclamava dar.
No centro do bororo, o povo punha-se a cantar,
Agradecidos com a oferta farta trazida do rio e da mata.
Vi o homem branco chegar …
Barulho ouvi e movimentos pra lá e pra cá, eu vi!
Vi o meu povo, o progresso receber,
Vi os peixes, os animais e a mata encolher.
O rio foi ficando tão pequeno
Que posso atravessá-lo andando
Eu e ele, minguando.
(*) Sônia Borcardt Naburetaga (Braedo, nomeada Bóe) – reside na Aldeia Indígena Bororo de Tadarimana