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, 14 maio 2024
 
 

Análise da globalização e seus desdobramentos histórico-econômicos (II-VI) – conceito

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A globalização é um processo que se iniciou há mais de cinco séculos, que se aprofundou com a economia-mundo capitalista e se consolidou englobando todo o sistema econômico do planeta. Ao longo do processo de globalização, em diferentes momentos históricos, as classes dominantes da Holanda, do Reino Unido e dos EUA se substituíram na liderança da economia-mundo capitalista assumindo, com o decisivo apoio de seus Estados-Nações, a hegemonia da dinâmica de acumulação do capital. É um equívoco, considerar a globalização a um acontecimento recente, do Século XX, e simplesmente traduzi-la como sinônimo da hegemonia mundial dos estadunidenses na era atual. A existência dessa economia-mundo capitalista em processo de expansão ou de globalização foi um dos fatores determinantes do progresso econômico e social das economias dos países capitalistas centrais e de retrocesso ou atraso das economias periféricas ou semiperiféricas. O processo de globalização fez foi ampliar o poder das potências capitalistas e impôr reduzida capacidade de manobra em alguns países e regiões na promoção do desenvolvimento econômico e social.
Há que se dizer que muito antes do início, os continentes encontravam-se separados por intransponíveis extensões de relevos acidentados de terras e de águas, de oceanos e mares, que faziam com que a maioria dos povos e das culturas soubesse da existência uma das outras apenas por meio de lendas e relatos de viajantes como Marco Polo. Cada povo vivia isolado dos demais, cada cultura era auto-suficiente; nascia, vivia e morria no mesmo lugar, sem tomar conhecimento da existência dos outros. Esse processo de longo prazo de globalização que no Século XVI transpôs as fronteiras políticas e culturais cada uma à sua maneira, separavam e diferenciavam o mundo mediterrâneo.
Naquela oportunidade, globalização significava principalmente comércio de longa distância, lento aos padrões atuais, de metais preciosos, cereais e bens de consumo caros, bem como um sistema internacional de pagamentos em evolução, baseado em letras de câmbio trocadas entre banqueiros e comerciantes em pontos distantes do sistema. A economia mundial é uma soma de áreas individualizadas, econômicas e não-econômicas, estendendo-se para além das fronteiras de outras divisões históricas. A economia mundial é a maior superfície vibradora possível, que não somente aceita a conjuntura, mas, em certa profundidade ou nível, a cria, isto é, em todos os eventos que cria a uniformidade de preços numa área imensa.
No século XV podemos identificar cinco economias-mundo espalhadas pela Terra e separadas entre si: 1) Europa; 2) China e regiões tributárias; 3) Índia; 4) África árabe; 5) civilizações pré-colombianas da América. A expansão geográfica da economia-mundo européia significou, a eliminação de outros sistemas mundiais, bem como a absorção de outros sistemas menores. A economia-mundo Europa era composta pelas cidades italianas de Gênova, Veneza, Milão e Florença, que mantinham laços comerciais e financeiros com o mar Mediterrâneo e a costa da Ásia Menor, onde possuíam importantes feitorias comerciais. Ao norte, na França setentrional, encontrava-se outra área comercial significativa na região de Flandres, formada pelas cidades de Lille, Bruges e Antuérpia.
No Mar Báltico, encontrava-se a Liga de Hansa, uma cooperativa de mais de 200 cidades mercantes lideradas por Lübeck e Hamburgo, que mantinham um eixo comercial que ia de Novgorod, na Rússia, até Londres na Inglaterra. No sudeste europeu, agonizava o comércio bizantino, pressionado pela expansão dos turcos que terminaram por ocupar Bizâncio em 1453, enquanto a Rússia via-se limitada pelos Canatos Mongóis que ocupavam boa parte do leste do país. Outra economia-mundo era formada pela China e regiões tributárias como a península coreana, a Indochina e a Malásia, e que só se ligava com a Ásia Central e o Ocidente através da rota da seda. O seu maior dinamismo econômico encontrava-se nas cidades do sul como Cantão e do leste como Xangai, grandes portos que faziam a função de vasos comunicantes com os arquipélagos do Mar da China.
A Índia, por sua vez, graças a sua posição geográfica, traficava num raio econômico mais amplo. No noroeste, pelo Oceano Índico e pelo Mar Vermelho, estabelecia relações com mercadores árabes que tinham feitorias em Bombaim e outros portos da Índia ocidental, enquanto comerciantes malaios eram acolhidos do outro lado, em Calcutá. Seu imenso mercado de especiarias e tecidos finos, mas só pouca coisa chegava ao Ocidente. Foi a celebração das suas riquezas que mais atraiu a cobiça dos aventureiros europeus como Vasco da Gama. A África, dividida pelo deserto do Saara numa África árabe ao Norte, que ocupa uma faixa de terra à beira do Mediterrâneo e o Vale do rio Nilo, com relações comerciais com os portos europeus e, ao Sul, numa outra África, a África negra, isolada do mundo pelo deserto e pela floresta tropical, formava um outro eixo econômico à parte, voltado para si mesmo. Por último, mas desconhecida, encontrava-se a economia-mundo formada pelas civilizações pré-colombianas da América, a Asteca no México, a dos Maias no Yucatan e no istmo e a Inca no Peru.
De modo que antes do século XV, as economias-mundo desconheciam-se e nem imaginavam que algum dia poderiam estabelecer entre si relações. Portanto, numa longa perspectiva, pode-se dizer que a internacionalização do comércio e a aproximação das culturas são um fenômeno recentíssimo, datando dos últimos cinco séculos, ou seja, apenas 10% do tempo da história até agora conhecida. O processo de globalização se inicia com a expansão da economia-mundo européia no sentido de estabelecer relações mercantis com as demais economias-mundo, podendo-se afirmar que ele se desenvolveu em quatro períodos. De fato, processo de globalização nunca se interrompeu. Se ocorreram momentos de menor intensidade, de contração, foi limitada pela Guerra Fria e pelos movimentos de descolonização e de libertação nacional em diversos países, quando o planeta estava dividido em dois blocos, o capitalista sob a liderança dos EUA e o socialista sob a liderança da ex-URSS, o processo de globalização nunca chegou a cessar totalmente.

(*) Ney Iared Reynaldo, doutor em História da América Latina, docente dos cursos de História e Bacharelado em Ciências Econômicas/ICHS/CUR/UFMT, email: [email protected]

(*) Vitor Pedroso Mella, orientando e acadêmico de História, email: [email protected]

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