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Rondonópolis
, 14 maio 2024
 
 

Análise da globalização e seus desdobramentos histórico-econômicos (I-VI) – introdução

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Este texto nos auxilia na compreensão da economia global dos Séculos XV ao XX, com destaque as origens do capitalismo, aqui analisado em três momentos: uma economia elementar e basicamente auto-suficiente, denominada de vida material, a da não-economia, cujo capitalismo criva suas raízes; da economia de mercado, com suas múltiplas comunicações horizontais, entre os diferentes mercados (oferta, demanda e preço), seguida de perto pela zona do antimercado onde circula e impera a lei das selvas. Nesse contexto, nossa preocupação não é identificar quando e como uma economia mundial de mercado ergue-se acima das estruturas primordiais da vida cotidiana, mas sim quando e como o capitalismo se constitui acima das estruturas da economia mundial de mercado preexistente, que com o passar dos anos, adquiriu seu poder de moldar de maneira nova os mercados e o mundo. Essa metamorfose européia, se transformou depois de 1500 não numa mera transição, mas produto de uma série de etapas, datando a primeira do início com Renascimento do fim do século XV, à exceção da Europa onde algumas nações foram impelidas à conquista territorial do mundo e à formação de uma economia mundial capitalista.
Considera, ainda que, a transição a ser elucidada não é a do feudalismo para o capitalismo, mas sim do poder capitalista disperso em algo concentrado, e que o aspecto importante desta transição é a fusão singular do Estado com o capital, que em parte alguma se realizou de maneira favorável ao capitalismo do que na Europa. O capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado, quando é o Estado. Na primeira fase, a das cidades-estado itálicas de Veneza, Gênova e Florença, o poder estava nas mãos da elite. Na Holanda do Século XVII, a aristocracia dos regentes governou em benefício dos negociantes, mercadores, e até de acordo com as suas diretrizes. Na Inglaterra, a Revolução Gloriosa (1688) marcou a ascensão dos negócios semelhante à da Holanda.
A fusão entre o Estado e o Capital foi vital da emergência de uma camada claramente capitalista sobre a da economia de mercado e em antítese a ela, ou seja, o capitalismo a serviço do Estado. Veneza/Gênova, Holanda, Reino Unido e EUA, pela ordem, foram as potências das sucessivas épocas, as quais seus grupos dominantes desempenharam, a liderança dos processos de formação do Estado e de acumulação do capital, cujos processos se deram em escala mundial atingiram seus limites, seguiram-se longos períodos de luta interestatal, das quais o Estado controlava ou passava a controlar as fontes ricas de excedentes de capital, como também adquirir capacidade organizacional necessária para promover, organizar e regular uma nova fase de expansão capitalista, de escala e alcance maiores do que o anterior.
Assim, existiram quatro ciclos sistêmicos de acumulação de capital durante a evolução do capitalismo como sistema mundial: um ciclo genovês, do Século XV ao início do XVII; holandês, do fim do XVI até decorrida a maior parte do XVIII; britânico, da segunda metade do XVIII até o início do XX; norte-americano, iniciado no fim do XIX e que prossegue na atual fase de expansão financeira. O regime genovês durou 160 anos, o holandês 140 anos, o britânico 160 anos e o norteamericano 100 anos. Existe um moderno sistema-mundo que se originou no Século XVI. De 1450 a 1640, denominado capitalismo. Capitalismo e economia-mundo são, pois, as faces de uma mesma moeda. O capitalismo foi, desde o início, um assunto da economia-mundo e não de estados-nações, o que se trata na verdade de um equívoco afirmar que somente no Século XX que o capitalismo se tornou mundial ou dizer, ainda que foi apenas com a emergência da moderna economia-mundo na Europa do XVI que se viu o pleno desenvolvimento e a predominância econômica do comércio.
O desenvolvimento do capitalismo como sistema mundial se originou na formação de blocos cosmopolitas-imperialistas (ou corporativos-nacionalistas) cada vez mais poderosos de organizações governamentais e empresariais, dotados da capacidade de ampliar o raio de ação da economia mundial capitalista, seja do ponto de vista funcional ou espacial. Em cada um dos ciclos de acumulação do capital, a expansão comercial e da produção ocorrida no início deu lugar no final a uma especialização concentrada nas altas finanças, isto é, na especulação e na intermediação financeira. Essa mudança de orientação ocorreu devido a queda nas taxas de lucro na expansão comercial e na produção. A economia capitalista mundial que passou a existir na Europa no Século XVI é uma rede de processos de produção integrados, unificados em uma simples divisão do trabalho. Seu imperativo básico é a incessante acumulação de capital que é centralizada via acumulação-primitiva, a concentração de capital e os mecanismos de troca desiguais. Sua superestrutura política é o sistema interestatal composto por “estados”, alguns soberanos, outros coloniais.
As zonas sob a jurisdição desses estados no sistema interestatal não têm sido economicamente autônomas, já que elas têm sido sempre integradas em uma divisão do trabalho da economia mundial. Esse sistema tem-se expandido em conseqüência de suas necessidades internas e tem incorporado novas zonas dentro da divisão de trabalho. Essas zonas tinham diferentes tipos de estruturas políticas no momento da incorporação e esses tipos de estruturas variaram do auto-suficiente império mundial com poderosa administração centralizada e longa herança histórica. Quando poderosas estruturas como a do Império Russo, Otomano, Pérsia e China foram incorporadas, as forças externas buscaram enfraquecer os poderes locais dessas estruturas estatais e fazer acordos nos seus limites. Essas estruturas estatais incorporadas tornaram-se o que Lênin denominou de “semicolônias”. Em zonas como o Caribe, América do Norte ou Austrália, as estruturas de poder dos nativos e parte de sua população destruídas e/ou incorporadas aos novos estados coloniais ali estabelecidos. Houve um grande número de zonas como no subcontinente indiano e, em muitas partes do sudeste asiático e africano onde foram estabelecidas estruturas políticas circundadas por outras fracas, pois essas áreas foram invadidas e reduzidas ao status colonial.

(*) Ney Iared Reynaldo, Dr. em História da América Latina, docente dos cursos de História e Bacharelado em Ciências Econômicas/ICHS/CUR/UFMT, email: [email protected]

(*) Vitor Pedroso Mella, orientando e acadêmico de História, email: [email protected]

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  1. Parabéns aos autores (Prof. Dr. Ney Iared e Vitor Pedrosos) do referido texto pela excelente explanação do assunto.
    Abraços,
    Aires José Pereira

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