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Inglês mirradinho

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Jerry Mill de paleto - 10-04-13

Tenho abordado um assunto tão notório quanto delicado há mais de uma década: as diversas limitações no ensino e/ou aprendizado de línguas estrangeiras, e do inglês em especial, por parte de alunos e professores de nossa cidade e região, uma realidade que, infelizmente, atinge em cheio uma grande parcela da população brasileira. A continuar como está, nosso inglês há de permanecer diminuto, parco, mirrado por mais algumas gerações. Ou será que um dia conseguiremos mudar este quadro medonho e bisonho?
As justificativas para tamanha tragédia nacional, que é perceptível em outras disciplinas do calendário das escolas públicas e particulares, são figurinhas carimbadas: o tempo dedicado às aulas não é suficiente e faltam equipamentos para incrementar o estudo da matéria nas instituições de ensino. Isso sem contar os tão propalados baixos salários, o desinteresse do alunado, blá-blá-blá. Na prática, porém, poucos (pouquíssimos, na verdade) são os chamados ‘profissionais’ da área que realmente se dedicam a melhorar a sua didática e a compartilhar o seu conhecimento com seus colegas – como se a educação fosse mais uma atividade competitiva do que cooperativa. Quanto aos alunos, regra geral, eles sempre farão o que estiver ao alcance deles para agirem como alunos: dispostos a reclamar pelo desrespeito aos seus direitos, mas relutantes na hora de cumprir com seus deveres.
Segundo estimativas oficiais, há mais de 3 mil escolas de inglês registradas em todo o país, com cerca de 20 milhões de alunos que estudam o idioma. Parece muito, mas, segundo Carlos Wizard Martins, em seu livro Desperte o milionário que há em você (p. 80), somente 2% da população brasileira fala uma segunda língua. Sinceramente, acho que ele está sendo muito generoso, pois encontrar um brasileiro comum, no Brasil, que realmente speaks English é quase como encontrar uma agulha no palheiro. De qualquer forma, temos hoje levas e mais levas de crianças, jovens e adultos que, com o passar dos anos, foram atraídos pelas campanhas publicitárias, pela perspectiva de um futuro melhor, tanto pessoal quanto profissional, e a possibilidade de estudar no exterior, principalmente através de iniciativas governamentais como o Ciência Sem Fronteiras, ou programas de intercâmbio, como os que são promovidos pelo Rotary Internacional (RI) há algumas décadas.
Podem dizer o que disserem, mas o inglês continua soberano nas escolas franqueadas de idiomas, deixando muito para trás o espanhol, o alemão, o francês, o italiano e o mandarim. Atrevo-me a afirmar, inclusive, que nossa dificuldade em aprender a English language se dá mormente devido ao maior interesse pelo idioma ser motivado explicitamente pela indústria do entretenimento, ou seja, por causa de novidades tecnológicas como Internet, celulares, smart phones, tablets, home theaters, TVs em HD, TVs via satélite e videogames, além de itens tradicionais como filmes e músicas, baixados aos montes todos os dias. Agora me diga, como aprender algo que é visto mais como meio para se divertir do que para o real crescimento pessoal ou profissional (onde entram coisas ‘chatas’ como estudo sistematizado e necessidade de demonstração pública do que foi aprendido)?
Vou repetir, mas com outras palavras: a tão difundida dificuldade do brasileiro de aprender ou manter a fluência em qualquer língua estrangeira se explica pela sua tendência ao descomprometimento e ao isolamento, evitando a todo custo o compartilhamento de seus talentos e de suas deficiências ou dificuldades mais do que aparentes. Tais ações são perceptíveis também, em maior ou menor grau, em professores da disciplina que lecionam nas instituições municipais, estaduais e federais. A pergunta que não quer calar: quando é que eles se darão conta disso, e procurarão formar grupos de estudos, grupos de conversação, projetos sociais com foco na linguagem, etc.? Acho que já sabemos a resposta…
Recentemente, a Education First (EF), empresa de educação internacional fundada em1965, divulgou a versão 2014 da sua avaliação de proficiência, com foco na gramática, no vocabulário, na leitura e na compreensão de 750 mil adultos em 63 países onde o inglês não é o idioma nativo. Resultado do seu ranking: o Brasil ficou na 38ª posição, a mesmíssima de 2013, considerada de nível baixo. Trocando em miúdos, isso equivale a dizer que, entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), atingimos a pior colocação, atrás inclusive da Argentina e do Peru.
Para quem não sabe, segundo especialistas, a proficiência em inglês é um indicador da competitividade econômica de um país. Explicação óbvia: é mais fácil fazer negócio global ou internacionalmente quando as partes demonstram fluência no idioma bretão. Daí o porquê de muitas empresas (dentro e fora do Brasil) exigirem o inglês como condição básica para empregar um candidato. Lembrou do lema ‘time is money’?
Claro está que o Brasil precisa investir no ensino sistemático de inglês de qualidade nas escolas públicas de ensino fundamental e médio, afinal elas atendem a maioria da população. O problema é que nas escolas brasileiras, inclusive nas particulares, a disciplina não costuma ir muito além do verbo ‘to be’, falta experiência e dedicação à maioria dos professores e a perspectiva de investimento na formação e acompanhamento do desempenho do professor de nossas crianças e adolescentes é pouco promissora, ou aceita.
O mais impressionante nisso tudo é que nem os esforços dos programas federais para ensinar inglês por ocasião da Copa do Mundo foram suficientes para elevar o nível de dedicação e fluência de forma significativa. Quem sabe com a chegada das Olimpíadas, em 2016 (ou numa próxima encarnação, sei lá), nosso domínio do inglês tenha deixado de ser mirradinho e já não nos faça passar tanta vergonha.

(*) Jerry Mill é mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA) e membro da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras)

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