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, 14 maio 2024
 
 

Desvio de foco

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Anteontem, tive uma breve, mas interessante conversa, com uma colega de trabalho. Visivelmente preocupada, ela me perguntou se eu já havia lido um livro – que carregava em mãos – sobre o foco, ou o grau de concentração, das novas gerações. Eu disse que não havia lido aquele livro, mas que, há algum tempo, o tema vem me intrigando.

Durante nossa conversa, a colega relatou a dificuldade de concentração por parte de muitos de seus estudantes. A maioria, conforme seu relato, passa o tempo todo da aula com os olhos grudados na tela de celulares e congêneres. Muitas vezes, ela se percebe falando para as paredes, embora os acadêmicos estejam ali, bem à sua frente. O resultado imediato não poderia ser outro: acentuação na já visível dificuldade para absorção dos conteúdos.

Pois bem. Particularmente, ainda não tive esse tipo de problema, o que é raro. O comum é a reclamação geral dos professores; afinal, já desde pequenos, nossos alunos – cada vez mais livres de limites sociais – portam tais objetos. Nada contra a democracia das novas tecnologias. Tudo contra a falta de educação para o uso adequado das mesmas. Mas em sala de aula, e rapidamente, como poderíamos minimizar ou mesmo eliminar o uso indevido de aparelhos celulares? Por meio de pactos pré-estabelecidos. Ainda creio nisso.

Já no primeiro contato com as turmas de estudantes, devemos conversar sobre tais usos. Nessa primeira conversa, que deve ser amigável, mas com firmeza semelhante aos avisos que proíbem o uso de celulares durante a exibição de uma peça de teatro, o professor deve propor o acordo do não-uso de celulares por parte de seus estudantes durante o transcorrer das aulas.

Agora, como pactos só podem ser estabelecidos por pelo menos duas partes, antes de tudo, a parte proponente – professor – precisa ser coerente do começo ao fim dos trabalhos. Um docente deve evitar o uso do celular quando estiver ministrando uma aula, uma palestra. Isso seria desrespeitoso; abriria precedentes. A autovigilância deve ser constante.

A postura coerente de nossa parte é a base da confiança para nossos estudantes. Aliás, a meu ver, esse é o maior dos problemas na relação professor/aluno. Em geral, os estudantes têm pouca ou nenhuma confiança nos professores. Do contrário, quando nossos alunos confiam em nossa coerência/postura, grande parte dos problemas, inclusive o que ora está em pauta, já está resolvida. Todavia, paralelo aos pactos, que podem e devem ser propostos entre as partes imediatamente envolvidas (no caso, professor/estudante), acredito que as instâncias governamentais do país já deveriam ter pensado em propagandas educativas para o uso das novas tecnologias. Praticamente, quase nada há sobre isso.

Vou mais: tais propagandas precisam ser feitas na mesma perspectiva que serve de base para o combate de vícios, como a bebida alcóolica (“Se beber não dirija”), como o cigarro (“A indústria do cigarro convida você para entrar e depois tranca a porta”), como o uso de drogas socialmente vistas como mais pesadas (“Seja diferente: drogas não”; “Drogas, tô fora”).

Digo isso porque já há estudos acadêmicos – e sérios – que enquadram um grande contingente de usuários das novas tecnologias – principalmente os mais jovens – como viciados. Assim, a escola/universidade catalisa mais um gigantesco problema. Afinal, qualquer tipo de dependência atrapalha os desenvolvimentos físico, emocional e intelectual de um ser humano. Se não estancarmos os estragos, no presente, é fácil prever o que nos aguarda no futuro.

(*) ROBERTO BOAVENTURA é professor de Literatura da UFMT em Cuiabá e doutor em jornalismo

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