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, 20 maio 2024
 
 

64 ainda está entre nós

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“como jovem de vinte e poucos anos, me empolguei com o movimento e lutei bravamente pelo fim do que chamávamos Ditadura Militar de 64. Cabelos encaracolados, calça jeans, chinelo de dedo e uma bolsa a tiracolo cheia de panfletos revolucionários. Eis as armas que usava contra os fuzis”
“como jovem de vinte e poucos anos, me empolguei com o movimento e lutei bravamente pelo fim do que chamávamos Ditadura Militar de 64. Cabelos encaracolados, calça jeans, chinelo de dedo e uma bolsa a tiracolo cheia de panfletos revolucionários. Eis as armas que usava contra os fuzis”

Ao entrar na Universidade Federal de Mato Grosso, participei ativamente do movimento estudantil. Eram os anos finais do governo militar, tendo ainda no poder o General de Cavalaria João Baptista Figueiredo (1980/1985).
A participação das universidades brasileiras nos movimentos de redemocratização do país era grande e juntamente com o movimento sindical, e parte do antigo partido Movimento Democrático Brasileiro, hoje PMDB, reivindicavam a volta de eleições diretas para todos os cargos, anistia aos os presos políticos e a volta dos exilados.
O movimento estudantil da época tinha um engajamento político, atrelado a diversas correntes de esquerda. Uns ligados ao Partido Comunista Brasileiro, afinados com a URSS; ou ao Partido Comunista do Brasil, afinados com a Albânia (Um pobre países comunista do leste europeu). Um grupo minúsculo fazia parte do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro- morte de Che Guevara), protegidos do MDB. E por fim um grupo não alinhado a nenhuma dessas tendências que depois formarão o Partido dos Trabalhadores. O Bicho pegava naquela época.
As brigas pelo controle do Diretório dos Estudantes eram ferrenhas e até megafone era usado como arma na cabeça do adversário. Havia concordâncias e divergências. Todos concordavam que era urgente fazer a mudança, e ela deveria ser socialista, com o fim do regime militar no Brasil. O problema era a forma, a condução, o caminho a ser trilhado.
Como jovem de vinte e poucos anos, me empolguei com o movimento e lutei bravamente pelo fim do que chamávamos Ditadura Militar de 64. Cabelos encaracolados, calça jeans, chinelo de dedo e uma bolsa a tiracolo cheia de panfletos revolucionários. Eis as armas que usava contra os fuzis.
Nas assembleias estudantis, seja as do parque aquático da UFMT, ou no Restaurante Universitário (RU), o clima era de grande euforia e esperança que a revolução chegasse e acabasse com o medo, a insegurança, a pobreza e a desigualdade de modo geral.
Hoje refletindo sobre os acontecimentos e com a devida abstração sobre os atos vividos, tenho algumas dúvidas e opinião mais calejada sobre a tal ditadura do passado.
Em primeiro lugar é bom lembrar que o ato de 1964 aconteceu na madrugada de primeiro de abril, e os militares ao perceberem que a data seria vista como chacota e brincadeira, insistiram com a data anterior que é 31 de março de 1964. Falavam de revolução, mas o que prevaleceu nas escolas, na mente da maioria dos brasileiros foi à ideia de golpe.
A política de esquerda e seus lideres pregavam uma mudança política no país retirando os militares ditadores, mas tinham como referência de substituição política para o Brasil, de regimes também ditatoriais, como o da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, China, Albânia e outras formas socialistas, ou comunistas como queiram. Portanto pregavam o fim da ditadura no Brasil, e queriam a implantação de outra.
A esquerda que tomou o poder com Lula e está ainda ai com a Dilma, percebeu que somente quando mudou de discurso conseguiu tomar o poder. Criticaram tanto o capitalismo, e hoje, Lula passeia com o antigo rei da soja para Cuba e chama Paulo Salim Maluf de amigo. Como dizem os jovens hoje, “ai que nojo”. Mudança de curso ou traição?
Os tempos na época eram, ou usar a força para continuar com o capitalismo, ou usar a força para implantar o socialismo. A violência era algo comum dos dois lados.
Excessos aconteceram, as torturas que já se praticavam contra presos comuns, foram usadas contra presos políticos, hoje a polícia faz uso cotidiano contra todos que caem em suas garras. Isso não mudou.
Cinquenta anos se passaram, mas parece que foi ontem, pois o ontem é ainda meu dia a dia, pois continuo vivo e ainda vivendo outra ditadura. Agora a de mercado, que divide o mundo entre os que têm muito dinheiro, e os que lutam pela sobrevivência. O que me faz lembrar alguém que me disse certa vez: Ditadura é quando você manda em mim, e democracia é quando eu mando em você.
Acredita?

(*) PEDRO FELIX é escritor em Cuiabá.

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