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, 30 maio 2024
 
 

O Enem e as cotas

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“se o governo colocar o ensino básico como prioridade nacional e conceder cotas de bolsas, para capacitação dos seus professores, a educação brasileira passa a ser competitiva e podemos até em pensar em um Prêmio Nobel”

Fui procurado por um jornalista para conversarmos sobre os dois assuntos do momento: o Enem e as cotas nas universidades.  A grande mídia não tem tido espaço para uma ampla discussão sobre nossos mais sérios problemas educacionais, devido à agenda cada vez mais cheia de escândalos públicos. Dizem os entendidos que a cada semana um ministro será ‘homenageado’ pela Veja. Como são quase quarenta ministros, temos uma novela de boa duração.
O favorito para uma explicação sobre o que se passa com a educação brasileira, com o ensino superior em greve há mais de noventa dias, o Enem, as cotas e a péssima qualidade da nossa educação pública, é o novo Ministro da Educação. Com relação ao Enem existe um fator que a nossa cultura popular tem a solução ideal: “Numa casa de caboclo, um é pouco, dois é bom e três é demais.”
Anular três provas sucessivas do Enem é demais! Novos rumos precisam ser tomados. Em um país onde os resultados das eleições para presidente da República são conhecidos após quatro horas do início da apuração, é inaceitável a anulação nacional ou regional, de uma simples prova do Enem.
Não há motivos justificáveis para esse procedimento extremo, a não ser por desconfiança de corrupção. Quando esse mal contamina a educação, o prognóstico de uma sociedade mais justa com oportunidades para todos, fica distante da esperança da nossa gente. Um bom ensino fundamental e médio, com avaliação feita pela própria escola, automaticamente acabaria com o vestibular ou Enem.
Na universidade, os alunos que não atingissem as metas do conhecimento, seriam eliminados do sistema, e aproveitados, com dignidade, no mercado de trabalho não universitário. O trajeto educacional seria a educação infantil, ensino fundamental, médio e o ingresso na universidade. Esse modelo um dia já funcionou no Brasil, e foi abandonado por falta de investimentos na educação.
Como consequência, temos professores com excesso de carga horária, desmotivados e com pouca ou nenhuma oportunidade de atualização. Escolas com espaço físico inadequado ao ensino, onde faltam laboratórios, bibliotecas, museus, auditórios, quadras poliesportivas e locais para atividades de recuperação de aprendizagem.
Como o governo não investe em educação básica e continua priorizando a criação de faculdades de medicina, direito e engenharia, inventaram essas avaliações tipo Enem para acesso na universidade, que é um lugar proibitivo para a maioria dos jovens brasileiros. E a qualidade do nosso ensino, em todos os níveis, cada vez piora. É uma vergonha a colocação do Brasil no ranking mundial, e o governo na maior cara de pau apresenta números e mais números para esconder o que todos vemos e sentimos.
As cotas nas universidades é o resultado dessa desastrosa política educacional. Se o governo colocar o ensino básico como prioridade nacional e conceder cotas de bolsas, para capacitação dos seus professores, a educação brasileira passa a ser competitiva e podemos até em pensar em um Prêmio Nobel.  O lamentável é o governo fazer tanta marola e enganação, tentando resolver esse sério problema pelo ápice da pirâmide educacional.
Simplicidade e modéstia, gestores oficiais do século XXI! O mundo tem bons exemplos para corrigir essa doença: – Aluno em tempo integral no ensino básico, com escolas dignas e professores qualificados e bem remunerados.
Não percamos tempo discutindo o ingresso dos alunos na universidade, enveredando pelo caminho da discussão política e esquecendo-se do seu futuro, que hoje desembocam em vistosos diplomas e festas para comemorar o título de analfabetos funcionais. Diz o ditado popular que o início começa pelo início. Assim é a educação. A boa educação inicia-se pelo início do processo, que é a educação infantil – e oportunidade de estudar para todas as crianças. Quando a lei não é cumprida, enfrentamos o Enem e cotas, para entrarmos no sistema universitário público, que só abriga 30% dos nossos universitários.

(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso)

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5 COMENTÁRIOS

  1. Infelizmente, Dr. Gabriel, os investimentos em Educação estão na forma invertida da pirâmide. Sempre questionei isso: alunos de universidades públicas têm direito a professores bem formados e bem pagos, com carga horária reduzida em sala de aula para dedicarem tempo ao aperfeiçoamento profissional, RU (restaurante universitário), moradia (casa do estudante universitário)… e por aí vai.. E isso para um grupo já privilegiado, filhos de famílias com situação financeira favorável que tiveram condições de pagar escola particular no Esnino Fundamental e médio e que teria condições de continuar mantendo isso. Mas……. Vai entender, né?????????

  2. A desmotivação do professor está relacionada ao salàrio, excesso de carga horária, espaço físico inadequado em todas as áreas, alunos baderneiros protegidos por leis que deixam o professor sem dominio de classe. O professor precisa trabalhar três turnos para que possa ter um salario razoavel, assim sendo fica sem tempo para se atualizar profissionalmente. Atualmente com o ENEM, onde todos que terminam o ensino médio recorrem aos cursinhos preparatórios para o mesmo, sugiro que seja modificado o sistema de ensino, onde terminado o fundamental o aluno passaria três anos no preparatório para o Enem, assim ganharia tempo e conhecimento baseado nas questões complicadas de nível intelectual e desconhecidas do ensini médio público.

  3. Um verdadeiro voltar ao passado essas “cotas” (“negro e branco pobre não não são capazes de ler”) era o que diziam no passado, hoje dizem: precisam de cota, não são capazes de competir com ricos! Na verdade o que precisa é aperfeiçoar o ensino de base, formar cidadãos críticos, todos somos capazes. Mas parece que, para a grande maioria dos politicos o objetivo é formar cidadãos em numeros e não em qualidade. As pessoas estão sendo induzidas a reinvindicarem “cotas” em vez de qualidade no ensino. Temos que repensar esse assunto.

  4. Concordo com o senhor quando culpa a imprensa pela falta de espaço para um debate nacional sobre a Educação, pois os grupos jornalísticos escamoteiam o assunto que é da mais alta importância nacional em detrimento de um “besteirol” que Sérgio Porto dizia assolar o país desde os anos 1960. Claro que isso tem um preço e ao que consta o governo anda pagando regiamente o “jabaculê” exigido. Não entendi sua primeira abordagem sobre o ENEM. E também, acredito que o exame está desacreditado por culpa exclusiva da incompetência de Fernando Haddad (PT/SP), ex-ministro. Mas, quero lembrar que o ENEM foi criado para avaliar a qualidade do Ensino Médio e essas bestas petistas do MEC o transformaram, em 2009, em forma de acesso ao Ensino Superior. Óbvio que a corrupção está campeando as ações daquele ministério nesse tocante ou é pura incompetência. A Universidade de Brasília tem um sistema de acesso seriado que parece estar dando certo, ou seja, já temos solução tupiniquim para tal problema. Pelo que sei o aluno que não atinge a nota mínima de rendimento na universidade é reprovado e se passar do tempo permitido para integralização curricular tem que ser jubilado. Se não fazem assim é por corrupção, burrice ou incompetência, ou tudo junto. Há lei que garante uma certificação daqueles que não chegaram ao final de um curso, mas cursaram boa parte do Ensino Superior, se não usamos a lei deve ser por preguiça ou má-fé. Sei lá. Sobre o trajeto educacional, parece que nunca foi outro. Eu fui estudante de escola pública com alta qualidade. Logo isso é possível. Mas, sem investir o dinheiro dos impostos arrecadados na educação a coisa não vai. Eu não vejo o governo priorizando porra nenhuma em educação, muito ao contrário. Só reage às críticas e aos fatos. É um governo acuado, sem saber a que veio, como foram os 8 anos do Lula, por exemplo para a ALFABETIZAÇÃO, pois aquele energúmeno conseguiu aumentar a quantidade de analfabetos no Brasil. Sobre as cotas só posso aplaudir a conclusão chegada: a péssima qualidade da Educação Básica pública é o único motivo das cotas. Mudar isso tem que envolver os professores, ou nada vai acontecer. Abraços.

  5. Concordo até em partes principalmente sobre a questão da educação de base , porém o que fazer com as pessoas que já terminaram o ensino médio nesses últimos 10 anos? De qualquer maneira a questão das cotas e ENEM, talvez ñ seja o melhor remédio entretanto é algo que para muitos como eu(que passou dos 30) é uma oportunidade que com certeza ñ tínhamos quando terminamos o ensino médio.

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