Partindo do entendimento de que a política desde a antiguidade Clássica é compreendida como a ciência, a arte e a virtude do bem comum e que todo ser humano é definido pelas suas relações de pertencimento, pode-se afirmar que a construção da identidade social do humano tem uma relação direta com a concepção de educação, sociedade e política apropriada ao longo da história.
Embora estamos em outro momento histórico, em se tratando da esfera política é fundamental revisitar o passado para compreender o presente e projetar o futuro. Logo, se somos herdeiros da tradição, não podemos perder o vínculo histórico quando enfocamos a educação do presente. Para assumir espaço de poder na polis, discutir e deliberar sobre a vida cotidiana, faz-se necessário formar a nova geração ancorada a dimensão da aratê – “capacidade, qualidade, valor que faz de um indivíduo o mais excelente, o coloca num patamar de excelência corporal, intelectual, psíquica, ética, moral, política, artística”. Enquanto educador na e para a cidadania é isso o que se espera de um cidadão que ocupa um espaço e cargo na esfera pública, professor, deputado, senador, prefeito etc.
A mesmice do mesmo significa compreender hoje o legado delineado no mundo Grego, no tocante a política, ética e educação como dimensão constituinte da argamassa da vida pública. Diante da realidade e mobilização política na atualidade, pode-se pensar como é tarda essa geração de político para entender que desde outrora a política é a mais alta Expressão de caridade que deve ser exercida respeitando o bem coletivo. Portanto, torna-se urgente reformar a consciência política. Como diz Morin repensar a reforma implica reformar o pensamento.
É evidente que nesta sociedade da “decepção, do hipermercado” precisa ser discernido que nas relações sociais cotidianas temos ao mesmo tempo, numa relação de simbiose, a elevação e dissolução da ética. Portanto, é importante estar alerta que no mundo contemporâneo impelido pela mudança rápida das crenças, valores, identidades e concepções estão emergindo um novo tipo de homem, um novo tipo de pessoa propensa a trilhar pela arena do vale tudo, enquanto instrumento silenciador de qualquer resquício ético, visando exaltar como referência máxima o universo do hedonismo.
Penso que constitui um desafio, mas que precisa ser enfrentado com certa brevidade, é superar a adesão cínica presente no discurso e prática no mundo da política e negócio em nossa sociedade. O que tem prevalecido é o discurso do fetiche da representação. Pensa e apresenta-se como verdadeiro, mas finge-se o tempo todo. Desafio urgente é educar a nova geração para ser guardiã da polis e da existência social, enquanto protagonista da mudança integral da sociedade. Como diz Mounier “mudança ao mesmo tempo moral, política e ética”.
Enfim, se tivesse o poder de determinar outro tempo da vida, sem dúvida, que tenho a certeza da escolha a ser feita, a mesmice do mesmo. E para selar essa magnífica decisão faria uma grande festa, visando agradar todo fetiche da vaidade humana possível. Aqui para despertar o seu desejo, apenas digo que a festa tem banho de cachoeira no espelho d’água construído na adjacência do Congresso para impedir a mobilização da força popular e vôo de asa delta sobre o Planalto Central. Como meus recursos são parcos já encontrei uma solução imediata que se pode curtir aqui, obra inadequada, projeto revisado e aditivado. O problema é que a determinação ética que cinge a minha formação do caráter herdado da tradição familiar e pressupostos da Teologia da Libertação atua como termômetro para minhas ações que me levam a perguntar sempre, Quero? Devo? Posso?
Pensa. Reflita. “Integridade é o princípio ético para não apequenar a vida, que já é curta”.
(*) Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho é morador em Rondonópolis