Em tempos passados, ir ao dentista repercutia como uma tortura. Não é por menos, já que a existia a “prática do boticão” – instrumento antigo utilizado para extração dentária – era uma realidade constante na solução para dores de dente. A bem da verdade era este um dos únicos procedimentos realizados para a “cura” de grande parte dos problemas relacionados à cavidade bucal, e mais, todo procedimento era executado sem a utilização de anestesias. Era realmente Assustador!!
Contudo, mesmo com o avanço da odontologia, a introdução de novas técnicas, somadas confiança recíproca profissional/paciente. Ainda assim o antigo medo persiste em grande parte da população. Dados científicos refletem o pânico: cerca de 50% da população vai ao dentista com certa dose de ansiedade.
Segundo o psicólogo e dentista alemão Hermann Strobel, autor de Psicanálise da dor de dente, a boca, principal via de acesso ao interior do organismo, ocupa um espaço relevante no imaginário das pessoas: “Representa a ‘porta’ – que separa o dentro e o fora”. Do ponto de vista neurológico, a importância da área orofacial em relação a outras áreas do corpo é justificada, já que o córtex cerebral oferece representação superdimensionada. Na prática, equivale a dizer que somos extremamente sensíveis a tudo o que diga respeito aos estímulos na cavidade oral.
Por isso, é necessário que desde a infância se evite traumas relacionados ao consultório odontológico. Sendo assim, importante deixar as crianças se habituarem com o dentista. E acima de tudo, os pais devem saber instruir os filhos, a partir das orientações dos dentistas, levando sempre em consideração que frases como: “se não escovar os dentes te levo no dentista”, “se não comer te levo para tomar injeção”, podem estimular o medo nas crianças e, portanto, devem ser evitadas.
Vale constar que as consequências da ansiedade gerada pelo medo de ir ao dentista trazem consequências – diga-se de passagem: Nefastas – que são relevantes: uma pesquisa publicada na revista Community Dentistry and Oral Epidemiology analisou o impacto da odontofobia na saúde bucal. O quadro é desencorajador: pessoas que sofrem com o problema deixam de ir ao dentista e, por conseguinte, apresentam incidência de cáries, placas de tártaro, patologias gengivais, perda de dentes e abscessos de forma nitidamente superior à média. O estudo também confirmou uma progressão linear já esperada: quanto maior o medo do dentista, maior a tendência a adiar a consulta, com evidentes consequências para a saúde bucal.
Para vencer esse desconforto é necessária a tomada de algumas medidas, entre elas: i) confiar no profissional de sua escolha; ii) não consumir alimentos excitantes tais como: café, chá-mate ou refrigerantes antes das consultas; iii) expor ao dentista seus medos, receios e inseguranças (tal atitude por si só, em muitos casos já soluciona o problema) e, se não bastar, buscar um psicólogo que certamente irá auxiliar na busca daqui que desencadeia tais traumas.
Conclui-se, por tanto, que o medo pode e deve ser superado, sem que o paciente utilize de subterfúgios para evitar visitas frequentes (no mínimo, semestralmente) ao dentista, para que dessa forma consiga vencer seus medos bem como evitar que problemas que poderiam ser facilmente solucionados, causem intervenções mais invasivas e, portanto, mais temíveis.
Mariana C. de Lara Ferro, cirurgiã dentista, CRO 6508
Rua João Pessoa, 616, no Hospital São Marcos, no Centro. Telefone (66) 9959-4748.
