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Por que você trabalha?

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Porque preciso!
Será que alguém ainda se contenta com uma resposta tão simplória e reducionista? Convenhamos, no mundo capitalista em que vivemos trabalhar e ganhar dinheiro para suprir suas necessidades básicas faz parte do contexto da maioria das pessoas. Mas seria só isso?
O que faz um jardineiro transplantar uma muda com o mesmo cuidado que o pediatra acolhe o bebê na sala de parto, e o outro se limitar a podar, conseguindo matar qualquer planta que ouse mudar de vaso?
Há algum tempo a revista Você S/A trazia na capa a estampa de um coração feito com uma gravata vermelha e a manchete: “A paixão faz a diferença”. Não, não se trata de romantismo adolescente. Os grandes administradores percebem o aumento de produtividade entre as pessoas que escolheram a profissão sem esquecer o coração. É preciso mais que títulos de aperfeiçoamento e produção mecânica.
Quantos adolescentes ainda ouvem dos mais velhos, supostamente sábios com a experiência acumulada, que devem escolher uma profissão decente. De que decência se trata? Para a demanda do Outro profissão decente pode ser aquela que garanta rentabilidade mínima para uma vida igualmente decente, possibilitando a aquisição dos bens ditados pela mídia do momento. Passar grande parte da vida ocupado em ganhar dinheiro e ter poder de compra? Isso basta para estar bem?
Quando criança admirava um senhor pelo brilho de seus olhos quando falava de seu trabalho braçal com os animais da fazenda. Para desespero de sua esposa, gastava parte de seu dinheiro com esses animais e justificava com satisfação: “Mais vale um gosto que o dinheiro no bolso.” Em Psicanálise, Jacques Lacan interroga: “De que serve o dinheiro senão para pagar aquilo que é de seu desejo?”
Busquemos na arte a denúncia do que se repete a cada dia com um número infinito de pessoas que abrem mão daquilo que as impulsiona, em nome de uma demanda externa, que embora não possa ser ignorada, pode sim ser conciliada com a honestidade para com o desejo que vem de dentro e opera a diferença.
Ainda que não tenha sido um sucesso de crítica, o filme “A última dança” com direção de Lisa Niemi – 2004 faz pensar o quanto o trabalho, mesmo sendo uma paixão, quando produzido mecanicamente tem seu resultado comprometido. A bailarina Crhissa, (Lisa Niemi), na segunda parte do filme, em conversa com um colega que se torna o diretor artístico da Dance Motive, companhia para a qual voltaram depois da morte repentina de seu diretor, recorda a descoberta da dança no início da adolescência quando ali colocava sua alma e era outra pessoa no palco. Necessitando ganhar dinheiro com seu trabalho decide ir para New York. Na escola em que vai dar aulas não agrada porque a cobrança pesa sobre a produtividade.
A garota apaixonada por dança resolve aprender o que faltava “para ser igual a todo mundo” que parecia se dar bem correspondendo à expectativa da empresa enquanto ela não estava se dando bem colocando a alma naquilo que escolhera como ofício.
Persistente, a isso dedica anos de sua vida. Na idade madura percebe que conseguiu se transformar apenas na garota que dançava, concluindo: “Eu aprendi, mas me sentia uma trapaceira. Uma grande trapaceira por que deixei tudo que era importante para trás.”
Já não basta ser a garota que dança, mas teme não conseguir fazer de outra forma. A resposta emerge de si mesma quando o colega pede que mostre aos jovens bailarinos sua arte como sabe fazer. Embalada pela música resgata a si mesma nos movimentos, a cada passo da dança: “… e isso me fez perceber que eu não matei aquilo que deixei para trás. Então por que tenho que sentir medo? Não tenho nada a temer.”

*CRP 14/00435-0
Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise – Psicoclínica – 66 3421 5684

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