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Rondonópolis registra o seu 2º caso de doação de órgãos

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O marceneiro José Carlos da Silva, pai de Sara Fernanda Ribeiro da Silva, de 20 anos, cujos órgãos ajudou a salvar vidas em vários estados do País - Foto: Deivid Rodrigues/A TRIBUNA
O marceneiro José Carlos da Silva, pai de Sara Fernanda Ribeiro da Silva, de 20 anos, cujos órgãos ajudou a salvar vidas em vários estados do País – Foto: Deivid Rodrigues/A TRIBUNA

O município de Rondonópolis teve nesta semana o segundo caso de doação de vários órgãos de um dos seus moradores. Desta vez, a iniciativa partiu do marceneiro José Carlos da Silva, que teve a filha Sara Fernanda Ribeiro da Silva, de 20 anos, morta após um acidente de trânsito no município. Ela teve o coração, o fígado, os rins e as córneas doados para pessoas que residem no Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Cuiabá.
Sara Fernanda sofreu o acidente por volta da 1h deste sábado (25/2), na MT-270, após o parque de exposições.

A estudante rondonopolitana Sara Fernanda Ribeiro da Silva morreu após um acidente de trânsito no município de Rondonópolis - Foto: Divulgação
A estudante rondonopolitana Sara Fernanda Ribeiro da Silva morreu após um acidente de trânsito no município de Rondonópolis – Foto: Divulgação

Ela estava sozinha na hora do acidente, quando perdeu a direção do veículo em que estava e bateu em um caminhão. Foi encaminhada para o Hospital Regional de Rondonópolis, onde ficou inicialmente no box de emergência por falta de vagas na UTI. O diagnóstico final de morte encefálica veio apenas nesta segunda-feira (27/2).
Em entrevista ontem ao Jornal A TRIBUNA, José Carlos contou o que lhe motivou a doar os órgãos da filha. “Não sou egoísta. Quem é egoísta não pensa nos outros. Procurei ver a fragilidade dos outros. Em segundo lugar, ela faria o mesmo, se pudesse. Meus dois filhos são de coração supergenerosos”, explicou o pai, contando que agora ficou com o filho Luiz Fernando, de 22 anos. A mãe de Sara já é falecida.
Depois de tomada a decisão pela doação, José Carlos repassa que teve o apoio do deputado federal Valtenir Pereira, que é primo dele. O pai conta que, inicialmente, o primo parlamentar lhe garantiu o apoio visando salvar a vida de Sara e, quando se constatou que não havia mais nada a ser feito, começou a intermediar os procedimentos para que a doação dos órgãos ocorresse.
Conforme o pai de Sara, após a constatação da morte cerebral na segunda-feira, os procedimentos burocráticos foram tomados, sendo possível a retirada dos órgãos nesta terça-feira (28/2), no próprio Hospital Regional (veja matéria nesta página sobre a operação especial feita para o transporte dos órgãos para os outros estados). Exames também são necessários para constatar as condições clínicas ideais ao transplante. “A doação dos órgãos foi uma decisão minha. Sempre tive essa ideia de fazer doação”, disse à reportagem.
O deputado federal Valtenir Pereira, que intermediou o processo, conta que o caso de Sara foi o primeiro de doação de coração em Mato Grosso. Ele diz que o desafio existente hoje é ajudar o Ministério da Saúde a reestruturar os procedimentos de captação de órgãos em Mato Grosso. Além disso, aponta que a doação e captação de órgãos é um tabu que vai sendo quebrado à medida que casos como o de Sara ocorrem e são tornados públicos, pois não são algo rotineiro no estado, bem como havendo a consciência de que, apesar da perda, uma parte da pessoa querida vai continuar viva.
As doações de órgãos podem ser feitas quando da constatação de morte encefálica. Conforme Valtenir Pereira, se não há atividade cerebral, a morte é constatada. A morte encefálica, segundo o parlamentar, depende de duas avaliações clínicas e um exame complementar que pode ser feito através de aparelho de arteriografia, doppler ou eletroencefalograma. Em Rondonópolis, uma das dificuldades é que o serviço de arteriografia não é conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, foi usado o eletroencefalograma.
Fechado o diagnóstico, a Central Estadual de Transplantes disponibiliza os dados do doador junto à Central Nacional de Transplantes. No caso de Sara, o deputado conta que manteve contato com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, que deu encaminhamentos. Contudo, ele pontua que o mais importante aos interessados é a determinação de buscar informações, acionando a Central Estadual de Transplantes. “A doação de órgãos é um gesto muito bonito. Você está doando vida. A maior herança da Sara é o seu coração, fígado, rins e córneas”, avalia.
Do acidente até a retirada dos órgãos, foram quatro dias de esperança para José Carlos, que culminaram com a doação. “Foi uma despedida aos poucos. Não foi algo brusco [a notícia da morte]. Tive esse espaço de tempo para acalmar o coração”, entende o pai. Apesar disso, ele conta que hoje fica menos doloroso saber que partes da filha continuam gerando vida. “Isso me fortalece, não só consola como me dá força e alegria saber que pessoas aflitas conseguiram amenizar sua dor. Quem não quer um parente, um amigo, vivo? Tenho certeza que ela [a Sara] também está feliz pela ação que tomei”, completa.
Diante da experiência, José Carlos espera que os procedimentos para doação de órgãos em Rondonópolis sejam facilitados, bem como entende que o auxílio-funeral, pago para a família dos doadores, precisa ser melhorado. Ademais, ele espera que seu gesto possa incentivar outras pessoas da cidade. “Não é uma atitude fácil. Mas Deus é generoso, deu tudo que tinha por nós, e devemos pensar nos outros. Se há possibilidade de doação, é preciso deixar o egoísmo e pensar nos outros”, externou.
O corpo de Sara Fernanda, que era estudante de Direito na Unic, foi enterrado nesta quarta-feira (1/3), no Cemitério da Vila Aurora, junto ao corpo da mãe.
SAIBA MAIS – O primeiro caso de doação de vários órgãos de um morador de Rondonópolis ocorreu em 2010. Na época, o jovem Diego de Oliveira Alencar Lima, de 26 anos de idade, morto após um tiro na cabeça, pode salvar outras vidas espalhadas em vários estados do País. As válvulas cardíacas de Diego foram transplantadas em um paciente de Curitiba (PR); um dos rins foi para um receptor de São Paulo (SP); e outro rim e o fígado para pacientes em Porto Alegre (RS).

LOGÍSTICA

Transporte de órgãos para outros estados teve operação especial

Registro da equipe da FAB e dos médicos que participaram da captação e transportes dos órgãos de Rondonópolis até Brasília (DF)
Registro da equipe da FAB e dos médicos que participaram da captação e transportes dos órgãos de Rondonópolis até Brasília (DF)

Márcio Sodré
Da Reportagem

A captação e o transporte dos órgãos da rondonopolitana Sara Fernanda Ribeiro da Silva, de 20 anos, contaram com uma logística especial. A Força Aérea Brasileira (FAB) foi acionada, utilizando de suas aeronaves para a missão de transplante dos órgãos.
O Esquadrão Guará, da FAB, mobilizou na ação uma aeronave C-97 Brasília e um C-95 Bandeirante para o deslocamento até Rondonópolis, nesta terça-feira de carnaval (28/2). O C-97 levou os 5 médicos da equipe, sendo 3 responsáveis pelo transporte e transplante do coração e 2 responsáveis pelo fígado.
Em Rondonópolis, a primeira equipe realizou, no Hospital Regional, a cirurgia de retirada do coração em cerca de três horas, retornando em seguida a Brasília. Depois de viajar mais de 700 quilômetros na aeronave da FAB, o órgão seguiu do aeroporto de Brasília para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF) em um helicóptero do Detran.
Após mais de 3 horas de cirurgia, a equipe responsável pela retirada e transporte do fígado retornou a Brasília no C-95 Bandeirante. As córneas foram recebidas por um paciente de Cuiabá. Os rins foram doados a pessoas dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Sul.
O processo de transporte de órgãos é iniciado quando a Central Nacional de Transplantes (CNT) é informada por uma central estadual sobre a existência de órgão e tecido em condições clínicas para o transplante. A CNT aciona as companhias aéreas para verificar a disponibilidade logística. Se houver voo compatível, os aviões comerciais recebem o órgão e levam ao destino. Quando não há, a Central contata a FAB, que desloca um ou mais aviões para a captação e transporte do órgão.
Segundo o informado, os pedidos chegam à Força Aérea por meio de uma estrutura montada em Brasília, onde avalia-se qual esquadrão deve ser acionado. A partir de então, é ativada uma cadeia de eventos até a decolagem da aeronave. É preciso checar as condições de pouso no aeroporto de destino, acionar a tripulação e avisar ao controle de tráfego aéreo que se trata de um transporte de órgãos – tanto no plano de voo, quanto na fonia – isso confere prioridade ao avião para procedimentos de pouso e decolagem.

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