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Sueli ignoti - 29-11-11– O que é natural hoje em dia?
Essa pergunta de Christine (Nora Gregor), aludindo ao comentário de sua empregada que não gosta do batom por ela escolhido para a noite, permeia o filme “A regra do jogo” do início ao fim, questionando o faz de conta social, o que deve ser dito e o que precisa ser ocultado para sustentar as relações amorosas, sociais, hierárquicas…
Filme dirigido por Jean Renoir (França, 1939), tirado dos cinemas por “desmoralizar os valores da sociedade francesa” da época, desapareceu por anos e sobrevive numa versão restaurada aprovada pelo diretor. Conquistou o Prêmio Bodil de Melhor Filme Europeu da Associação Nacional de Críticos de Cinema da Dinamarca.
A questão – sempre atual – levantada neste clássico europeu antes da Segunda Guerra Mundial nos é apresentada na clínica de todos os dias.
O que é natural? A linguagem deixa para os animais irracionais a naturalidade ditada pela genética de cada espécie. Mas, o que pode e o que não deve ser dito por aqueles privilegiados pela linguagem, para manter o jogo na relação com o outro?
Mais de 70 anos depois do cineasta ter levantado a questão, as pessoas continuam procurando a regra do jogo para o exercício da convivência diária. O que fazer com a verdade que mente? Como chegar ao saber fazer com aquilo que surpreende, com o imprevisível, com o improvável?
É possível viver “neuroticamente feliz”, como provoca Jorge Forbes?
Sobre “A regra do Jogo” Inácio Araújo escreveu na Folha de São Paulo: “Essa obra múltipla, cheia de sensualidade e leveza em todos os momentos, tem a unificá-la um olhar seguro sobre o humano. Filme após filme, Renoir parece empenhado em reescrever os lugares comuns mais comuns da sabedoria humana. Mas, em suas mãos, o tédio do já sabido, do já consentido, cede lugar à novidade: ele pode falar mil vezes sobre a simplicidade da vida. Cada vez, o espectador a sentirá como se estivesse pisando na Lua pela primeira vez”.
Penso aqui no desejo do analista que não é o desejo de um objeto específico.  É um desejo causa que implica em causar desejo no analisante. Por isso, muitas vezes é considerado caprichoso, rígido… Por mais que reitera a dificuldade de relacionamento com o outro no romance familiar e na esfera social, o que faz com que o analista ouça seu paciente com abertura para a repetição “na novidade”? Apostar na continuidade do tratamento vai muito além de desejar que o paciente volte para a próxima sessão.
Em “O mito individual do neurótico” Lacan nos mostra que o sujeito neurótico promove uma fuga ao se deparar com o objeto de seu desejo. Ao se sentir ameaçado promove esse objeto ao impossível, inalcançável.
Que medo é esse de ser feliz, alcançar objetivos, ser bom no que faz?
Ledo engano pensar que só os acontecimentos traumáticos causam estresse. O ser humano encontra dificuldades em lidar também com as coisas boas, por todo o tempo queridas para a vida.  Está sempre se debatendo em dúvidas comuns aos diferentes papeis que desempenha: qual o lugar do filho? De onde deve responder ao parceiro? Como portar-se como profissional? Em suma: qual a regra do jogo?
São tantos os jogos, bastaria uma regra? Embora seu discurso esteja permeado pelo discurso do Outro – essa referência pesada da qual não nos livramos – como descobrir o que o Outro não ensina? Como fazer bom uso do que foi apreendido ao longo da vida ao mesmo tempo em que se torna autor da própria história elucidando o que é seu nisso tudo?
Sabemos, com Lacan, que a estrutura simbólica domina o social, as relações de parentesco, a ideologia, mas também, para cada um, sua relação com o mundo, suas relações perceptíveis, seu complexo familiar.
Afinal, que lugar ocupam as referências em sua história?
A Psicanálise instiga essas e outras questões…

*CRP 18/00078
Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Consultório 66 3421 5684

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