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O pai não está!

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Sueli ignoti - 29-11-11“Sou o único de minha sala que não tem duas casas. Todos os meus amigos tem pais separados.” Assim formulava sua questão um menino de cinco anos acreditando que estava em desvantagem em relação aos amigos.

Incontestavelmente, lidamos com outros arranjos familiares. A família padrão com papai, mamãe e apenas os filhos dessa união está cada vez mais rara. No entanto, a família, com todas suas alterações, ocupa ainda o lugar de maior referência para os filhos.

Vamos considerar aqui a situação em que o pai não faz parte da vida do filho.  O que pode a mãe fazer nesse novo tempo para instituir a lei paterna numa produção propositalmente independente ou quando, por questões circunstanciais se depara com a responsabilidade de cuidar do filho sem a presença do pai?  E muitas vezes também não é a mãe biológica.
Temos com Jacques-Alain Miller: “O Pai não tem Nome próprio. Não é uma figura, é uma função. O Pai tem tantos nomes quantos suportes tem a função. Sua função? A função religiosa por excelência, a de ligar. O quê? O significante e o significado, a Lei e o desejo, o pensamento e o corpo…”

Em que consiste para a mulher, ser suporte para a função paterna?

Voltamos para “O garoto da Bicicleta”, filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne que ilustra de forma agradável e profunda nossa questão.  Cyril é um menino de 11 anos cujo pai o deixa num orfanato com a promessa de voltar para buscá-lo. Como não cumpre o prometido, o menino, por conta própria faz o que pode para localizá-lo. Nesse percurso torto conhece Samantha ao fazê-la refém de sua força física para não voltar para o orfanato.   Samantha, uma jovem administradora de um salão de cabeleireiros é solteira e mora sozinha.  O laço entre os dois acontece pela via do afeto e é Cyril que pede inicialmente para passar os finais de semana em sua casa e posteriormente para morar com ela. Samantha vai assumindo a responsabilidade até que o pai, por exigência dela deixa de iludir o garoto com promessas que não pretende cumprir e autoriza seu cuidado sendo claro com o filho: “Não me procure mais. Fique com ela. Você vai ficar bem.”

Muito válida a atitude de Samantha que ao mesmo tempo não permite que o pai continue enganando o menino, mas em sua discrição permite que Cyril preserve a imagem que tem do pai. Sabiamente, se não pode falar bem do pai para a criança, não fala mal, respeitando assim a referência paterna que Cyril sustenta como pode. Ele encontra sempre uma justificativa para as atitudes do pai e embora sofra com sua negligência não perde a esperança de ter sua atenção. Tirar isso da criança para oferecer o que em troca? Afeto não ocupa espaço. Outros laços podem ser cultivados sem que esse seja denegrido. Isso é de suma importância para o filho.

Essa jovem que nunca teve filhos e assume esse com uma história de 11 anos arca com a responsabilidade de orientá-lo conforme acontecem as coisas no dia a dia. Quando intimada pelo namorado para optar entre os dois, escolhe o menino.

Nas situações em que Cyril desobedece e precisa que alguém responda por ele é Samantha que enfrenta a justiça e assume as consequências das escolhas do menino sem julgá-lo, sem deixar de amá-lo por isso.

Muito interessante quando saem para passear e Cyril descobre que a bicicleta de Samantha tem o dobro das marchas da sua.  Pede para experimentar como quem admite que ela tem/sabe mais e ele está disposto a aprender.

Mais adiante quando param para lanchar e Samantha sugere que convidem amigos de Cyril para um churrasco, ele faz a pergunta mais espontânea: “E você, não vai convidar um amigo?” Ou seja: Samantha não precisa deixar – e é melhor que não deixe – de ser mulher para ser mãe!

*CRP 18/00078
Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Consultório 66 3421 5684

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