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Inimigo aliado

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Impossível ignorar o burburinho de final de ano que a todos contagia. Difícil resistir aos apelos consumistas da mídia. Quando menos espera está pensando num presentinho para aquela pessoa particularmente especial, organizando ou aceitando convite para mais uma confraternização e tentando fazer balanço daquilo que foge à competência do contabilista, sem chance de passar a limpo cada momento bem ou mal passado…
Coisas agradáveis e afazeres extras com datas marcadas a serem vencidos e as pesquisas apontando para o aumento exorbitante do estresse no final de ano. Os vilões são representados pelo trabalho, exames escolares, melancolia e até atividades que poderiam ser prazerosas, como a compra de presentes, organização de festas e preparativos para a viagem de férias. Em resumo, mais um ano que termina e não deu tempo de fazer o planejado ou, mais que isso, o desejado.
Crescemos ouvindo os comentários apaziguadores dos mais velhos diante das crises existenciais sugerindo que se dê tempo ao tempo… Por outro lado, a constante queixa de falta de tempo por parte dos mais novos. Afinal, cabe ao tempo o lugar de sujeito na vida e então basta esperar pelo ano que vem que o estresse fica para trás ou caberia a cada um a arte de lidar com ele e nesse caso operar uma mudança que possa fazer a diferença independente do que marca o calendário?
Como é de praxe, a acomodação na queixa com seu poder anestésico justificando a mesmice, acalmando as inquietações e, acima de tudo, protegendo da responsabilidade instiga para o conformismo que faz aquietar o desejo.
Desejo que vem do ser e faz vibrar… As pessoas a cada dia mais adoecem por abrir mão do próprio desejo. O que poderia ser um simples prazer como providenciar presentes aos queridos, se torna causa de estresse quando vira obrigação em função de datas ou convenções.
“Perder tempo” fazendo o que não gosta porque está comprometido com a demanda externa é complicado. E não se trata de minutos diários. São vidas que passam na cor cinza. O colorido se perdeu gradativamente, por exemplo, ao resolver fazer o curso superior só porque os pais sugeriram ou por ser economicamente viável, sem avaliar a escolha.  Anos dedicados a um trabalho que nada tem a ver com a satisfação de produzir.  Aquele relacionamento arrastado porque romper implica numa virada de mesa com suas consequências…
Nunca faltarão as justificativas acovardadas para permanecer onde está e continuar remetendo ao outro (família, chefia, necessidade financeira) a responsabilidade pela falta de entusiasmo no início, meio ou final do ano. Isso desencadeia o estresse que nada mais é que a denúncia de que o sujeito está correndo atrás de algo que não deseja alcançar.   Daí para a depressão, um passo.   Quantas vezes assistimos uma pessoa ser premiada pelo brilhantismo dos resultados em estudos ou atividades profissionais, e pasmos percebemos que o mesmo fato que é motivo de aplausos não consegue arrancar um genuíno sorriso do homenageado.
E o tempo continua passando, no mesmo ritmo de sempre. Saborear ou engolir cabe a cada um.   Chico Buarque canta Tempo e Artista: “Modelando o artista ao seu feitio/O tempo com seu lápis impreciso/Põe-lhe rugas ao redor da boca/Como contrapesos de um sorriso”. Música que vale o comentário de Jô Soares: “ela me faz pensar no tempo, que é nosso inimigo porque todo dia lembra nossa finitude. Mas também é um aliado, pois a cada dia nos transforma e nos aproxima do infinito”.
Inimigo ou aliado eleito por cada um. Nesse ano que finda, no ano que vem que está chegando, e para sempre, a questão é oportuna: o que você quer fazer do tempo que é seu?

*CRP 14/0435-0
Correspondente da Delegação Geral – MS/MT – Escola Brasileira de Psicanálise
Psicoclínica – 66 3421 5684

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