No dia 04 de junho, a Prefeitura Municipal de Rondonópolis publicou um decreto com medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus na cidade, determinando o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais no fim de semana, dias 06 e 07, pegando a população desprevenida.
Com isso, uma grande corrida aos supermercados, bancos e açougues teve início, gerando filas por toda a cidade e uma grande aglomeração, especialmente nas portas e dentro dos grandes mercados.
O A TRIBUNA fez então uma avaliação de como estavam os casos de Covid-19 e ocupação de leitos de UTI e enfermaria no dia do decreto, e o que aconteceu nos dias subsequentes ao registro das aglomerações.
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Análise e Dados
A reportagem avaliou dados referentes a data do primeiro decreto (04 de junho), oito dias depois (12 de junho) e 12 dias depois (16 de junho).
No dia 04 de junho, uma quinta-feira, a situação na cidade era a seguinte: os casos confirmados de Covid-19 estavam em 322, com 30 pessoas hospitalizadas, e os suspeitos em 354, com 13 pessoas hospitalizadas.
A taxa de ocupação de leitos de UTI públicos era de 40.0%, e privados de 45.5%. Já os leitos de enfermaria públicos estavam com 32.2% de ocupação, e os privados 37.9%.
No dia 05 de junho, sexta-feira, a cidade teve o maior registro de aglomerações. Diante disso, verificamos como estava a situação no município sete dias depois, ou seja, dia 12 de junho.
Nessa ocasião, a cidade já estava com 486 casos confirmados de Covid-19 (aumento de 51% em relação ao dia 04/junho), com 32 pessoas hospitalizadas, e 344 casos suspeitos, com 45 pessoas hospitalizadas (aumento de 246% em relação ao dia 04/junho).
A taxa de ocupação no dia 12 com relação aos leitos de UTI públicos era de 68.2%, e os privados 100%. Já as enfermarias públicas estavam com 33.9% de ocupação, e as privadas já sobrecarregadas com 6.9% a mais que os 100% de ocupação total.
Além dos números mais altos, do Boletim Epidemiológico do dia 04 para o do dia 12, percebe-se também que a curva dos casos confirmados ultrapassou a dos casos suspeitos.
No dia 15 de junho, exatamente 10 dias após a sexta-feira (05) que gerou o maior número de aglomerações na cidade, os dados tiveram um importante salto com relação aos casos positivos.
Eles já eram 637 (aumento de 98% em relação ao dia 04/junho), com 37 pessoas hospitalizadas, e 344 suspeitos, com 45 pacientes hospitalizados.
A ocupação de UTIs públicas subiu para 86.6% e privadas com sobrecarga de 18.2% a mais que os 100% da ocupação total. As enfermarias públicas estavam com 28.8%, e as particulares com 100.0%.
Vale lembrar que, nas três datas avaliadas, o número de UTIs e leitos comuns exclusivos para Covid-19 na cidade eram os mesmos.
A percepção de crescimento de casos após as aglomerações geradas no primeiro decreto não fica somente nos dados, mas também entre profissionais de saúde.
A reportagem conversou com um médico que atua no Hospital Regional de Rondonópolis e que fez a mesma avaliação, e contou ainda ter recebido pacientes que relataram terem estado em supermercados, nesses momentos de aglomerações à véspera do decreto, com sintomas da doença. Ele, o médico, explicou:
“O grande problema é que as pessoas ficaram por várias horas em filas e dentro dos mercados, que é um ambiente fechado, e todas aglomeradas”.
Com o novo decreto que começou a vigorar na última sexta-feira (19), determinando novamente o fechamento dos estabelecimentos no fim de semana, novas aglomerações semelhantes foram registradas, o que pode gerar novamente um crescimento expressivo de casos para os próximos dias.
Obviamente, para se afirmar, de fato, que a aglomeração gerada no primeiro lockdown parcial, decretado para os fins de semana, causou aumento no número de casos de Covid-19 são necessários estudos técnicos. Mas os números apontam indícios significativos para essa tese.
Além disso, com relação aos leitos de UTI, é preciso lembrar também que eles recebem pacientes não apenas de Rondonópolis, mas de toda região. Contudo, o A TRIBUNA apresenta essa breve análise dos dados, para que o leitor faça a sua própria avaliação.