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, 14 maio 2024
 
 

SUCCESS, HIT E BEN JOR

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(*) by Jerry Mill

Para mim, sempre foi clara e cristalina a diferença existente entre algumas palavras da língua inglesa que, embora traduzidas (e usadas) de maneira ‘alternativa’ no Brazil, pouca (ou nenhuma) controvérsia despertam na English language, pois, over there, como se diz na sabedoria popular, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E ponto-final!

Recentemente, no entanto, eis que aquele mesmo banco das quatro letrinhas, que eu já mencionei em outras oportunidades, ressurge com a série Feito de Futuro, trazendo depoimentos de celebridades (literalmente) de peso como Marta e Ronaldo Nazário, ambos dando caneladas linguísticas com seus desempenhos pouco inspirados e discursos repetidíssimos, e pouco modestos.

Além deles, faz parte deste grupo seleto (que também inclui a diva americana Madonna e a atriz – e escritora – Fernanda Montenegro) o cara da vez: o autointitulado hitmaker Jorge Ben Jor. No seu comercial solo, com duração de um minuto, com voz baixa e ofegante, ele já decreta de cara: “Existe uma diferença entre o sucesso e o hit. O sucesso é passageiro. O hit atravessa os tempos.” Well, stop! Daí, se você prestou atenção ao que ele falou, dear reader, você deve estar se perguntando: “Ué, mas a tradução de ‘hit’ não é ‘sucesso’?” Hold your horses!

Natural de Madureira, na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro, ele nasceu Jorge Duílio Lima Meneses, filho de pai brasileiro e mãe etíope, lançou seus primeiros trabalhos musicais no início da década de 1960 e hoje é muito respeitado e admirado como instrumentista, compositor e cantor. Dentre as controvérsias colecionadas ao longo da sua longeva carreira está a data de nascimento do (quase?) octogenário artista nacional de renome internacional, que pode ser 1939 (mais provável) ou 1945 (segundo o próprio artista). Na seara da música, País Tropical, Fio Maravilha e W/Brasil (Chama o Síndico) estão entre as suas composições mais lembradas pelo grande público. Seus maiores sucessos, ou hits.

Aliás, aqui já podemos fazer uma distinção no uso das duas palavras em solo brasileiro: quando um artista está no topo das paradas, costuma-se dizer que ele “é sucesso” ou “faz sucesso”. Por outro lado, se a sua canção (ou ‘música’) chegou lá, no topo das paradas, ela “é um hit”, seja ele instantâneo ou fabricado. Não por acaso, poucos são os artistas que têm ou tiveram compilados os seus greatest hits (maiores sucessos), dada a complexidade da indústria do entretenimento, especialmente aquela made in Brazil.

Por falar nisso, muitos são os exemplos dos chamados one-hit wonders, aqueles artistas que lançaram uma única canção que atingiu enorme notoriedade dentro e/ou fora do país, mas não conseguiram repetir o feito ao longo da carreira. Dentre os vários exemplos existentes no Brasil e no mundo estão a banda americana Hoobastank (e sua bela canção The Reason, de 2003) e Markinhos Moura (e sua eterna Meu Mel, de 1987 – uma versão para Music, do cantor franco-tunisiano F. R. David)). Como deve ter dado para perceber, ‘hit’ se refere exclusivamente à canção/música e não ao artista/intérprete.

Em dicionários em língua inglesa, como o Longman Dictionary of English Language and Culture, o verbete ‘success’ é definido apenas como ‘a degree of succeeding; a good result’ ou ‘a person or thing that succeeds or has succeeded’. Daí recorrermos ao adjetivo ‘successful’, que pormenoriza a definição afirmando tratar-se de alguém ‘having done what one has tried to do’; ou, melhor ainda: ‘having gained a high position in life, one’s job, etc.’ – o que dá a ideia de algo que exige tempo e dedicação. Uma carreira, talvez. Já ‘hit’, como substantivo, somente na sua terceira acepção, assegura referir-se a ‘something, such as a musical or theatrical performance, which is successful’ – indicando o momento presente, de exibição ou comoção popular apenas. Não se referindo a uma pessoa.

Em outras palavras, ao contrário do que Mister Ben Jor afirma no comercial, a regra é, com o passar do tempo, o artista ser mais lembrado que os seus (muitos ou poucos) hits, e não o inverso. Embora existam exceções, claro. E talvez este seja o caso dele próprio, que esteve longe dos holofotes por um bom tempo. Por outro lado, existem casos e mais casos de artistas mais famosos pelos seus erros, escândalos e morte prematura do que propriamente pelo seu talento musical, não é mesmo?

Para finalizar, é preciso levar em conta ainda que ‘hit’ é mais comumente lembrado e usado como verbo, cuja tradução mais comum é ‘bater’ – o que nos leva a crer, mais uma vez, em uma ação ou reação que ocorre por um (curto, curtíssimo) período de tempo, cessando depois de uma necessidade, de um acidente ou de um acesso de raiva ou fúria. De modo similar, esta é a ideia que acompanha a palavra como substantivo, dando a entender algo efêmero, mesmo que ainda possa retornar em outras ocasiões, na voz de outros entertainers, mas quase sempre como fundo musical de um comercial, modismo, jogada de marketing, etc.

Como aconteceu em 2006, com o relançamento de Mas Que Nada (uma canção dele mesmo, Ben Jor, de 1963) pelo maestro brasileiro Sérgio Mendes e a banda americana Black Eyed Peas…

(*) JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.

 

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