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Rondonópolis
, 13 junho 2024
 
 

Caroço de arroz

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(*) Hermélio Silva

Na fila da unidade de saúde, aguardando o momento para fazer o teste rápido contra a covid-19, e com muito medo, por ene motivos, e um deles era o tamanho do cotonete, se é que pode ser chamado assim, aquela haste enorme.

O atendimento no balcão foi de excelência, e fiquei do lado de fora do posto, porque estava muito cheio e onde fiquei tinha mais espaço, ventilação do ar livre e seria chamado em voz alta.

Notava os semblantes das pessoas que saiam com os resultados, entregues após 20 minutos da coleta, e dava para distinguir os positivados dos negativados. Isso fazia com que a minha angústia aflorasse, ainda mais.
Um rapaz conversador, ficava contando histórias e piadas, também aguardando ser atendido, entretanto, quando ele falou que o exame era simples, que parecia quando a gente tem um caroço de arroz cozido enfiado no nariz, quando estamos enfrentando um bom prato, e tem aquela sensação esquisita, de ardência, de incomodação e logo lacrimejamos sem querer. E, afirmava com o seu tom estridente, que todo mundo já havia passado por aquilo, dizendo sobre o grão de arroz, claro.

Fui chamado. Quando vi o tal do cotonete enorme, fino com o algodão na ponta, e a enfermeira conduzindo com maestria nariz a dentro, veio a minha vida toda, na memória, naquele relapso de tempo. Acho que qualquer homem bravo chora ali, ao passar pelo procedimento. Lacrimejei triste, mas com o dever cumprido. Agora era esperar o tal do resultado, que não demorou muito, mesmo parecendo que houve uma eternidade aquela espera.

“Vá para casa, troca de roupas, toma banho e descanse, porque o ambiente aqui é de alto grau de risco para pegar covid-19”, disse-me a enfermeira.
Foi a senha que eu queria ouvir, no entanto abri imediatamente desdobrei o papel, para ver o xis marcado em azul no quadradinho, ao lado da tão esperada palavra: negativo. Mesmo assim, o coração pulsou mais forte. Eu não sabia se ria, chorava ou dava pulos de alegria. Optei em ficar na mesma seriedade, para não desmerecer as pessoas que ali estavam. Saí sem pressa, mas querendo correr e falar aos meus, que não estava acometido pela terrível doença que assola o mundo, que nos separa, que nos faz esconder numa reclusão infame, que nos recolhe numa bolha, quando o certo era cumprimentar os amigos e parentes, com um aperto de mão e um abraço bem forte e demorado, como um ato de agradecer a Deus pelo dom da vida. Pela certeza da vida e não da dúvida.

Passei pelo novo amigo, e ele me perguntou afirmando: “Não tá com a ‘convid’! Dá pra ver na sua feição”.
Sorri, um sorriso amarelo, porque bem sei que se o resultado fosse o oposto, com certeza, meu corpo falaria a verdade, e a verdade seja dita: Valha-me Deus!

(*) Hermélio Silva é escritor e membro fundador da Academia Rondonopolitana de Letras, cadeira número 6

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