Há uma centena de motivos para me sentir ‘bem brasileiro’, patriota, defender minha nação e me sentir motivado a continuar assim. Alguns deles são os que exatamente me impelem a analisar criticamente (e também de modo hilário), inconformadamente, o que acontece na nossa volta e não continuar acreditando algo assim é normal.
O desempenho de uma das áreas que me deixa mais indignado é a área de serviços. Sim, todos de um modo geral. Alguns por incompetência pura, outros por esperteza dos empresários (cobrar bem e entregar pouco) e os que a legislação impede, permite ou prejudica, dependendo do caso, para serem mais competentes.
A área de serviços é uma das que o Brasil mais precisa avançar. Mas o detalhe é que não são apenas os serviços públicos que em muitos casos definham, os privados também deixam a desejar intensamente. Como prestadores de serviços que somos na maioria, peço que avaliem diariamente, sem olhar apenas para o seu umbigo, quanto competente em termos de prazo e acabamento suas empresas são.
Mas há alguns, dos quais dependemos diuturnamente, que nos afetam com maior intensidade. Por isso, penso que posso sugerir a adaptação de alguns nomes de empresas que figuram por aí, com um sentido mais realístico.
Na opinião de uma coleguinha do Matraca do nosso o A TRIBUNA, boa parte dos serviços ainda estão na fase do Jegue. Na prática, para não generalizar os serviços, pensei de imediato nos de telefonia móvel e internet. Minha recomendação é que esses, por exemplo, com alguma rara, honrosa e momentânea exceção, poderiam se juntar e participar de um grande grupo empresarial: A JegueServices.
Que maravilha de nome. Moderno, internacional e bucólico ao mesmo tempo. Seria um estouro imediato na bolsa de valores. Sucesso garantido. Dado que retrata fielmente a qualidade e o modus operandi com que atuam no mercado. Seguindo firmemente o que recomendam os profissionais de marketing, especialmente os de branding.
Com o necessário perdão ao animal jegue (equus asinus) que muito contribuiu para o desenvolvimento do país, ainda colabora para a sobrevivência de muita gente, existindo em praticamente todo o planeta. Ele não tem culpa de nada, mas peço emprestado algumas de suas características.
Fui estudar melhor o assunto e tracei um paralelo entre a JegueServices e os serviços prestados por aquelas originais que já estão no mercado. De pronto mudaria o nome dessas operadoras de internet e celular para JegueNet e JegueCel.
Algum leitor vai dizer que seria mais apropriado TartarugaNet e TartarugaCel, mas insisto que não. O nome está adequado, dado que o jegue e a tartaruga têm características diferentes. A tartaruga vai devagar, muito devagar, mas sempre. Tem a fama de nunca parar (o coelho conhece essa história). Se essa fosse a realidade dos serviços de telefonia móvel e internet, seria uma maravilha.
Mas não é. Do modo como o jegue elas vão devagar sim, oferecem uma velocidade astronômica (de um corcel negro), mas entregam uma nanovelocidade. É a JegueNet em operação (Aliás, protegidos pela legislação). Mas, além disso, param a qualquer momento. Sem cerimônia, seu celular ou sinal de internet cessa. Empaca sem motivo aparente. Apenas não funciona mais e pronto. É a vez da JegueCel.
Assim como o animal que está andando normalmente, de repente, no meio do caminho ele resolve parar para comer um capim na beira da estrada. É uma paradinha breve e tudo volta ao normal. Naquela velocidade de jegue, claro. Mas a essa altura você já ficou fora do ar ou não conseguiu completar a conversa.
Mas, o problema mesmo é se o Jegue encontrar uma fêmea no caminho. Aí não vai mesmo. Assim como os sinais de celular e internet, tudo empaca e ninguém consegue fazer funcionar. Por algum motivo sobrenatural (e virtual, lógico). Sem motivo aparente, nada funciona e pronto. É o jegue correndo atrás do seu amor.
Por isso ainda prefiro a TartarugaServices. Boa semana e até a próxima.
(*) Eleri Hamer escreve esta coluna às terças-feiras. É professor, workshopper e palestrante – –[email protected]
