União – sob o pálio de Xangô

Que me perdoem os torcedores dos demais clubes esportivos que ainda ‘brigam’ pelo título de campeão mato-grossense de futebol, em especial os felídeos tigrenses, cuja galera, desassombrada e apaixonada pelo Vila Aurora, conseguiu matizar de azul o meu coração, mas algo me diz que 2010 – considerado pelos espiritualistas como o Ano de Xangô, o Orixá da Justiça – será, finaaaalmente, o ano da redenção do União Esporte Clube, após 36 anos de amarga e angustiante espera.
É verdade que a cada novo ano as esperanças dos obstinados torcedores do time gujagureu (gudjágurêu = vermelho vivo, forte, no dialeto borôro) se renovam, como febres reincidentes de uma fé quase patológica, induzindo-os a acreditarem cegamente na conquista do título de campeão estadual de futebol, e a repetirem, como robots programados, “vai ser este ano”, ainda que 35 deles já tenham se passado, sem que o título tenha vindo em nenhum deles… Este ano, contudo, vislumbro um pouco de realidade nesse sonho dourado, depois do futebol de muita personalidade que o Colorado pogubense demonstrou perante a Luverdense e o próprio Tigre da Vila, nos primeiros jogos decisivos do ‘mata-mata’.
Em que pese a importante vitória do Colorado, no último Uni-Grão (1×0), e que lhe permite o luxo de se classificar com apenas um empate, na segunda partida, os apaixonados torcedores azulados, no entanto, não acreditam em superioridade técnica do seu arqui-rival: enquanto uns desdenham de tal vitória, afirmando que foi um gol “chocho”, meramente casual, e que o Tigre foi ‘muito mais time’ o tempo todo, e que só perdeu o jogo por uma ‘fatalidade’, outros, mais espirituosos, apelam para a ironia, alegando que o União só ganhou “porque a lavadeira estava dormindo”… Só não dá pra entender como é que ela conseguiu ‘dormir’ com a barulheira infernal da torcida tigrense, e da imensa galera do próprio Colorado…
Em 2010 – Ano do Justiceiro Orixá Xangô –, porém, o nosso sofrido União conta com um handcup a mais, além do bom time que possui, para a conquista do tão almejado e tardio título de campeão mato-grossense de futebol: os benéficos fluídos cósmicos de XANGÔ – poderosa divindade do culto religioso africano, muito difundido no Brasil, cuja missão espiritual é punir os desonestos, castigar os maus, e levar a força magnética e benfazeja da Justiça aos que se sentem oprimidos e injustiçados.
Ainda que muita gente não creia nessas coisas, eu fico ‘cabreiro’ quando vejo uma escola de samba modesta como a Unidos da Tijuca, do Rio de Janeiro, que nunca havia arrebatado um título de campeã, consegui-lo surpreendentemente neste ano; o Botafogo ganhar uma decisão contra o Flamengo, depois de 21 anos de ‘janela’; a inesperada prisão de ‘medalhões’ da política, e graves penalidades a membros de cúpula do próprio Poder Judiciário. O que preferem que eu diga: que “no creo em brujas, pero que las hay, las hay”; ou que “há mais coisas entre o Céu e a Terra do que um simples avião de carreira”? Pelo sim e pelo não, prefiro arriscar: que me perdoe o matizado anil do meu coração, mas 2010 será, com as bênçãos de Xangô, o ano do definitivo resgate do União Esporte Clube do longo e tenebroso inferno astral que sempre o atormentou no futebol de Mato Grosso! A conferir…

(*) Ailon do Carmo é advogado e escritor local