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, 18 maio 2024
 
 

Mulher do pai, uma relação delicada

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Se o homem da sua vida já tem filhos, prepare-se psicologicamente. A madrasta – ou, simplesmente, a “namorada do pai” – cai numa teia de relações delicadas. Convive, pelo menos a cada 15 dias, com crianças que não são seus filhos. E pode cair em armadilhas de agir como a mãe, ser tragada pelo ciúme das crianças ou da ex-mulher. Ainda por cima, costuma sofrer com o preconceito da sociedade. Ou seja, os desafios não são nada pequenos.

[inspic=32447,right,fullscreen,200]“Nós damos banho, fazemos comida e até brigamos com o pai quando ele está sendo injusto com os filhos”, diz Carolina Silva, publicitária, de 23 anos. Há quatro meses, ela mora junto com o companheiro, que tem uma filha de 12 anos e um menino de 9. Os pequenos os visitam uma vez por semana e, a cada 15 dias, aos sábados e domingos.

Carolina já viveu na pele o preconceito social, após o caso Nardoni (assassinato da pequena Isabella Nardoni, em 29 de março de 2008, crime supostamente cometido pelo seu pai, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Peixoto Jatobá). “Quase briguei com uma mulher no salão de beleza, que dizia para minha enteada tomar cuidado com madrastas, pois todas são muito más e querem matar os enteados.”

A filósofa, professora e acadêmica Fernanda Carlos Borges, gaúcha de 41 anos, escreveu o livro A Mulher do Pai (Editora Summus). Depois de se separar, passou a ouvir comentários do filho sobre a nova namorada de seu ex-marido e, no segundo casamento, iniciou a convivência com os filhos do atual companheiro. Foi o começo da reflexão sobre esse curioso papel. “Embora você vá conviver com as crianças no ambiente íntimo da sua casa, ninguém sabe se você faz parte da família ou se é parente delas”, comenta. “A mulher do pai acaba ocupando um lugar marginal: está na família, mas não pertence à ideia de família.”

Rivalidade com a ex-esposa complica ainda mais a situação. “A relação com a ex será difícil na maioria das vezes. Ela não se conforma que o ex-marido não está mais tão disponível e entende que é a nova mulher que o afastou ainda mais. Isso provoca uma mágoa eterna”, acredita Fernanda. “E também vai exigir que a mulher do pai seja superlegal com os filhos dela, mas não perdoará se houver uma aproximação afetiva ou, pelo contrário, se ela der uma bronca nas crianças.”

DOS DOIS LADOS

A terapeuta familiar Roberta Palermo, de 39 anos, já teve madrasta e ocupa esta posição pela segunda vez. Escreveu dois livros sobre o assunto – o mais recente é 100% Madrasta (Integrare Editora) -, criou a Associação das Madrastas e Enteados (AME), é moderadora de um agitado fórum de discussões em seu site (www.robertapalermo.com.br) e promove encontros mensais entre as mulheres. “Trabalho para que as pessoas vejam esse papel com outros olhos”, justifica. Segundo a terapeuta familiar, nunca se deve falar mal da mãe das crianças, por pior que ela seja, nem cair no erro de se sentir mãe. E, nas situações em que a criança está se comportando mal, deve-se comentar com o pai de forma diplomática, para que ele a eduque.

Quando Roberta tinha 13 anos, seu pai se casou novamente. A partir daí, a relação dela com a madrasta nunca foi boa. “Ela tinha ciúmes de mim. Falava para eu sair de perto do meu pai e quis até cortar meu curso de inglês”, lembra. “Fomos nos estressando cada vez mais. Discutíamos muito e meu pai ficava no meio.”

Roberta apaixonou-se justamente por um homem recém-separado, o designer Márcio, que já tinha filhos do primeiro casamento – Lucas e Amanda, na época, crianças pequenas. “Parti do princípio de que não teria ciúmes, nem das crianças nem da ex-esposa, e que nunca as trataria mal. Também queria que soubessem o quanto eram queridas pelo pai.” Inventava passeios para os pequenos, ou atividades prazerosas em casa. Mas logo percebeu os desafios. “É muito comum as crianças falarem da mãe, e quererem validá-la.” Recorda-se de uma vez em que caprichou bastante no almoço, e Lucas logo disse que a lasanha da mãe dele era muito mais gostosa. “Temos de pensar que nós é que somos os adultos. Nessa situação, por exemplo, sorri e acrescentei: ‘ah, que bom, e o que sua mãe faz mais de gostoso?’”

Também é comum as crianças mentirem sobre fatos ocorridos enquanto estavam acompanhados do pai e da madrasta. “Pode acontecer depois de um fim de semana perfeito. Quando voltam para a casa da mãe, dizem que foi muito chato. Ou até que foram mal tratados”, explica Roberta. “No fundo, a criança sempre quer que os pais voltem. E se chegasse elogiando, seria uma espécie de traição à mãe. Isso cria mal entendidos enormes.” Ela própria já viveu essa situação na pele, mas contou com a maturidade da mãe de seus enteados, que ligou para o ex-marido e descobriu que era uma mentira do filho. “Esse procedimento é raro por parte das mães, o mais comum é validarem a versão de que o casal está mal tratando os seus filhos.” Hoje, o enteado Lucas mora com Roberta e o pai, e todos mantêm um bom relacionamento.

DISCERNIMENTO EMOCIONAL

Talvez não por coincidência, a designer gráfica Renata de Souza Martins, de 34 anos, também é uma madrasta que foi enteada. Está no quarto casamento: o segundo em que assume essa função. Também teve um relacionamento tumultuado e repleto de brigas com a mulher do seu pai. “Hoje, conversando com outras mulheres no fórum (da internet), entendo muitos dos erros cometidos por mim, meu pai e minha madrasta”, avalia. “Atualmente nos damos bem.”

Em seu casamento anterior, o ex tinha dois filhos que moravam com ele, uma moça de 17 anos e um rapaz de 14. Renata avalia: “Ele sofria de ‘culpite aguda’, como chamados no fórum, e viveu para os filhos após a separação. Satisfazia todas as vontades deles. Assumiu tudo e eles não ajudavam em nada, nem em tarefas domésticas, nem com trabalho”.

O relacionamento dela com os adolescentes era explosivo: chegava a trancar a porta de seu quarto para não ter objetos roubados, e uma briga verbal com a menina chegou quase à agressão física. “Tentamos terapia de casal, a filha foi chamada, mas não demonstrou nenhuma intenção de colaborar”, conta. Esses problemas decretaram o fim do relacionamento.

Agora, vive desde 2006 com outro companheiro, que tem uma filha de 6 anos. O relacionamento com a menina é bom, mas o casal vive em guerra com a ex-esposa do pai – a separação é litigiosa e envolve processos e boletins de ocorrência. “Desde o início, ele divide bem os papéis de pai e marido”, conta Renata, que tem um filho de 2 anos com o segundo companheiro. “Nós combinamos as regras da casa antes, não discutimos na frente dela, nem falamos mal da sua mãe.”

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