(*) Brasilino da Silva
‘Mau malaco eu’ dizia, em altaneiro tom jocoso e ares de eterno vencedor
Acho que queria dizer que malaco sou eu, ou malakós do grego sei lá o que
55 anos depois as brumas do avalom de Marion Zimmer embaçam o tempo
Mas na escolinha rural quando ganhava uma repetia dito mantra do malakós
Joãozinho ‘do arvino’ como conhecido era criado pelo codinome claro do tio
O dete era outro primo sobrinho também criado pelo bem ditoso tio ‘arvino’
A ditinha outra preciosa da família tinha um olho vazado pelo bico do angôlo
O joãozinho com uma cicatriz no rosto de um canino que inflamou e vazou
Pois bem! Ao lado, aliás à sombra do bom homem nove rebentos cresciam
Malakar alguma coisa
Era necessário definir
Era um mundo de valentes ou malakos
Mais de cinco décadas depois e em dezembrite
aguda me perguntei ‘que malako sou eu?’
Burro demais com as vênias dos burros a quem tenho
parentesco na identidade das cargas
Nem malaco consegui ser, quiçá valente nestas décadas
de vida idiota a bem da verdade
O malaco; ou malakós em grego, etimologicamente
significa suave, mole, fraco flexível
Mas à época do joãozinho e minha falava-se
de tipos de varões feitos valentes na marra
Os desmilinguidos não tinham outro caminho senão
malakar alguma coisa ou situação
Ou vida certa era a de revólver ao alcance da mão como
primeira trucada de torna frete
Malakós desviavam-se pelas fendas da honra entre
o bem e o mal com mesclas de ambos
Muito tempo depois
Bons malacos não se expõem tanto
Nestes tempos de aldeia global
Globalizaram-se os malacos maus.
(*) Brasilino José da Silva é poeta em Rondonópolis