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Rondonópolis
, 13 maio 2024
 
 

O inglês do Mion

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(*) by Jerry Mill

A primeira vez que eu vi aquele comercial do banco das quatro letrinhas (que garante que foi feito pra você), em que o apresentador Marcos Mion contracena com o astro de filmes de ação Sylvester Stallone, eu já tive a certeza de que se tratava de material da vida real a ser utilizado como um tema, no mínimo, interessante nas minhas aulas de inglês.
Minha reação foi instantânea: fiz buscas na internet à caça do vídeo do referido comercial. Para a minha frustração, naquele momento exato, ainda não havia nada na rede. Algumas horas depois, já tarde da noite, após uma infinidade de tentativas, eu finalmente consegui ter acesso ao que eu queria. Não hesitei e encaminhei o link do material na mesma hora, via WhatsApp, para algumas dezenas de alunos e alunas que, nos dias seguintes teriam English class comigo.

Dos raros students que responderam a minha mensagem, a maioria dizia (com emoji!) que tinha achado o vídeo “legal” ou “muito legal”. Poucos falaram (quero dizer ‘digitaram’) sobre a surpresa que tiveram ao ver o Stallone num comercial para o público brasileiro. Aí, sim, para a minha surpresa, um ou outro desses aprendizes comentou sobre o inglês do Mion.

Diante disso, eu decidi reservar alguns minutos das aulas da semana para tratar do assunto e mostrar, na prática, o porquê de eu afirmar com quase total convicção os motivos que levam o aluno brasileiro de inglês a ter tanta dificuldade para aprender o idioma bretão: a maioria é displicente, preguiçosa ou previsível. Ou tudo isso junto!

Durante as aulas, as perguntas iniciais (que eu adoro chamar de warm-up questions) tratavam de temas mais superficiais, como onde eles (Mion e Stallone) estão, que tipo de roupa eles estão vestindo, o que eles estão fazendo, como começa e termina o comercial e (surprise, surprise!) qual a duração do reclame publicitário.

Lógico que algumas respostas foram dadas mais rapidamente do que outras. No fim das contas, no entanto, houve mais chutes do que acertos, mas (para mim) quem soubesse me dizer qual era a duração do vídeo seria quem mais iria me surpreender. E ninguém soube responder essa indagação, porque (como de costume) prestou mais atenção nas imagens e nas legendas do que nos outros ‘detalhes’.

Aliás, ao darmos ênfase às legendas (em português), eu fui mostrando que elas não estavam de acordo com aquilo que estava sendo dito. Ou seja, havia algumas incoerências aqui ou ali entre o que estava sendo dito e o que estava transcrito na tela. Exemplo: já no primeiro segundo do vídeo, quando Mion diz “You know, Sly, you know the famous line about how hard you can get hit and keep moving forward?”, todo esse discurso é traduzido como “Sly, sabe aquela sua frase famosa sobre encarar os obstáculos da vida e continuar em frente?” Se comparadas, uma oração não é exatamente a tradução da outra, mas uma adaptação, e vice-versa. Uma forçação de barra? – quiseram saber os mais curiosos.

Independentemente de ser ou não ser (esta não é a questão), ao longo do comercial, percebe-se claramente (os alunos disseram isso, depois de verem o vídeo várias vezes) há vários cortes de áudio e o texto não soa natural, mas decorado. E mais: para eles, o inglês do Stallone era “ainda mais difícil de entender”. Foi aí que eu tive de explicar para eles sobre a paralisia facial do ator, o que explica o seu jeito peculiar de sorrir e de se comunicar verbalmente. No caso do Mion, eu me restringi ao termo “esforçado”.

Como o assunto rendeu bem mais do que eu esperava, eu recomendei aos alunos que fizessem como homework (tarefa) a transcrição do áudio em inglês daqueles poucos segundos (menos de um minuto!). Nem todos gostaram do presentinho, claro!

Na aula seguinte, além da surpresa pelo tamanho da transcrição, muitos comentaram sobre as palavras novas, os outros vídeos da série da rede bancária e também sobre uma antiga entrevista que o Mion havia feito com o astro americano há uns sete anos, quando ele fazia o programa Legendários na TV Record. Esses comentários me deixaram bastante feliz, ao ter certeza de que, pelo menos desta vez, eles se esforçaram mais do que normalmente fazem.

Nos encontros seguintes, poucos se lembraram do assunto. Nem mesmo da cativante frase “Keep going, Marcos. Keep going!” Acho que nem faziam ideia de que também há (dentre tantas coisas disponíveis na net) um making of da campanha publicitária sobre o cartão do banco. Well, como já dizia o filósofo Chico Pinheiro (há alguns anos, na tela da mesmíssima Globo) é vida que segue…

P.S.: Marcos Chaib Mion nasceu em São Paulo em 1979 e está no ar atualmente com o Caldeirão com Mion (antigo Caldeirão do Huck), na Rede Globo, bem como pode ser visto ou revisto em diversos comerciais (Mercado Livre, Chevrolet, Havaianas, TIM e Pepsi – só para citar alguns).

(*) JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis

 

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