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, 14 maio 2024
 
 

Zumbi dos Palmares nas eleições

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Caso você queira participar das eleições de 2020 (votar e ser eleito) considere a fábula das três “raças históricas”, ou seja, o Povo Brasileiro foi formado por três macro “raças históricas”: a Vermelha (Índios) a Negra (afrobrasileiros) e a Branca (ascendência européia).

Note-se se que os descendentes atuais destes três contingentes raciais é compõem os quase 220 milhões de brasileiros que somos. Daí, gostaria de sugerir um critério geral para que escolhêssemos, pois, os nossos mandatários.

O primeiro óbvio é se devemos ou não votar; é claro. E quem quiser votar, poderia então, seguir este critério: conferir um sentido maior para o seu voto; torná-lo um instrumento de indenização histórica, para a sua classe social ou “raça histórica”. Examinemos o exemplo recente dos negros norte-americanos, para compreender melhor.

Como sabemos, Biden venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos ancorado em grande parte nas manifestações e mobilizações dos negros norte-americanos (“VIDAS NEGRAS IMPORTAM”). A militância do Movimento Negro dos Estados Unidos não apenas ajudou a derrubar Trump como ainda contribuiu para aumentar o número de eleitores daquele país, pois, como todos sabemos na “Terra do tio Sam” o voto não é obrigatório. Enfim, os negros de lá ajudaram a obter dois objetivos históricos, desferindo uma só cajadada: aumentou-se a representação democrática da sociedade por um lado, e lutou-se pela superação de uma das formas de racismo mais truculentas na sociedade norte-americana, que é a ação policial retrógrada, violenta e de caráter racista. Para o nosso caso, o nosso Brasil, sugerimos que as três macro “raças históricas” aproveitem a oportunidade eleitoral para fazerem valer, ao menos parcialmente, a dívida histórica que o Brasil tem para com os seus cidadãos.

O “Brancos pobres” poderiam visitar a História e reconhecer que a sua desigualdade e inferiorização social teve lugar no final do século XVII, quando eles ficaram alijados das minas que descobriram (as Minas Gerais). Eles foram expulsos delas pelos “Emboabas” e se dispersaram sertão adentro. Os “Brancos pobres”, enquanto Classe Social e “Raça Histórica”, sofreram pelo menos um grande revés na História: trata-se de apoio ao latifúndio, à sua expansão verificada no início da República (República Velha), que concentrou enormemente a propriedade da terra em poucas mãos, o que se entendeu pela Era Vargas (1930-1945), e pela Redemocratização (1945-1964), Ditadura Militar (1964-1985), estendendo-se os seus efeitos da concentração fundiária até os dias de hoje. Enquanto isto, cresceu o êxodo rural, a urbanização precária, o empobrecimento geral da população já empobrecida; a favelização; o aumento dos moradores de rua dos grandes centros. E parcela desse contingente popular era “branco pobre” ou veio a tornar-se isto.

Enfim, apesar da colonização e imigração europeia (italiano, principalmente) em detrimento do negro, com o fracasso da maioria destes projetos, o “branco pobre” também foi atirado para o interior do Brasil, produzindo-se mais “brancos pobres” nas regiões Centro-Oeste e Norte, uma vez que somente uma minoria do agronegócio enriqueceu-se. A maioria dos novos “brancos pobres” também gerou um grande êxodo rural, urbanização acelerada e precária, multiplicação de problemas ecológicos, aumento desta população de “brancos pobres”.

O fracasso de planos e projetos governamentais foram muitos: dos sequestros de poupanças dos pobres até os conflitos distributivos. A partir disto tudo, “brancos pobres” em geral, compuseram com os negros afrodescendentes extratos significativos de pobreza e miséria. Sendo assim, os “Brancos pobres” bem que poderiam utilizar as eleições politico-partidárias para para escolher candidatos que lhes permitam receber indenizações pelas suas percas históricas pregressas e atuais.

Meu amigo(a) negro(a): você sabia que a condição de escravizado para o negro poderia em grande parte ter sido varrida da História uns 30 ou 50 anos antes da Abolição Oficial? Em outras palavras, o Governo Imperial brasileiro prometeu para a Inglaterra (1831), extinguir o tráfico de africanos ganhando em troca o reconhecimento de sua recente independência politica (1822). Em sendo assim, os escravizados no Brasil seriam apenas os internos, pois não entrariam mais escravizados da África para cá.

O Brasil não cumpriu a promessa, chamando a sua assinatura no documento de LEI ‘PARA INGLÊS VER’; resumindo, a partir de 1845, a Inglaterra, mediante o Bill Aberdeen, começou a prender, perseguir e afundar navios “negreiros” (tumbeiros), que insistiam no nefando negócio de traficar carne humana. Em poucas palavras, como o governo Imperial permitiu a continuidade do tráfico, aproximadamente 550 mil negros se tornaram escravizados até a Abolição Oficial (1888), o que deve ter contribuído não só para o aumento de escravizados, como para o prolongamento totalmente inútil da escravidão enquanto instituição. É possível mesmo que, um de nós negros de hoje ou mesmo branco pobre, teve a liberdade de nossos antepassados retardada; o que veio, indiretamente contribuir para o sofrimento deles, e para o nosso, além da extensão e profundidade da nossa pobreza e miséria; ou, pelo menos de seus prolongamentos e desdobramentos, também, inutilmente.

A Abolição Oficial (1888) feita em grande parte ‘PARA INGLÊS VER’, não retirou o negro da “Rua da Amargura”, pois foi realizada mesmo ‘PARA INGLÊS VER’, uma vez que este Mercado interessava primordialmente para a burguesia inglesa, e a burguesia brasileira se livraria assim de empatar capital na Escravidão, alçando-se a proeminência no Brasil. Passada a abolição, os ex-escravos e os negros alforriados até então, dispunham de pouco ou nenhum poder aquisitivo para consumir os produtos ingleses. Aliás, como os governos monárquicos e republicanos não indenizaram os negros, eles foram direto para a “Rua da Amargura” enfrentar a concorrência da colonização e imigração européia.

Se você por ventura é descendente de ancestrais indígenas, de Índios mais recentemente, ou mesmo há poucas gerações de nós, talvez queira votar e, ao mesmo tempo descobrir de onde se originou historicamente a pobreza, a dominação, a exploração e a miséria que se abatem sobre você. Pelo menos, podemos lhe passar algumas destas causas retumbantes, o que talvez o conduzisse a querer disponibilizar seu direito de voto para a indenização de ações contra sua “classe e raça histórica” e que foram prejudiciais nestes termos pelas classes dominantes na História, constituídas por homens e mulheres ricas. As massas indígenas foram prejudicadas na História em algumas oportunidades, das quais situaremos umas poucas. Chamamos a atenção de início para as Guerras Guaraníticas (Sete Povos das Missões) quando e onde vários povos indígenas com elevado nível de crescimento e desenvolvimento foram massacrados, tendo assim eliminadas suas possibilidades de desenvolvimento civilizatórios, de matriz jesuítica. Durante o século XVIII tiveram lugar essas atrocidades do branco colonizado contra o indígena.

Também no exemplo acima, podemos deduzir o peso da tragédia para os indígenas do passado e dos seus pequenos contingentes restantes nos dias de hoje. Enfim, a situação atual do Índio não é aleatória e nem de responsabilidade particular deles mesmos. Foram um racismo e genocídio enormes endereçados contra eles, e que não respeitaram seus direitos elementares de deterem a terra e a autodeterminação próprias, que prenunciaram e fundamentaram a tragédia indígena; qual seja, a depopulação enorme (eram aproximadamente dez milhões, e hoje menos de um milhão).

Cabe lembrar que outros elementos importantes da tragédia indígena foram o Cunhadismo, o Serviço de Proteção Indígena –SPI e a Fundação Nacional do Índio – FUNAI. Estes dois órgãos governamentais citados, em diferentes épocas históricas zelaram e conduziram os índios na perspectiva indígena de seus valores, ou elas foram dirigidas para conduzir a integração indígena na perspectiva da Sociedade Capitalista, desde Rondon?

Por fim, convidamos os descendentes das três “raças históricas” segundo a fábula encetada, a utilizarem seu voto nas eleições para conquistarem indenizações sobre ações e teorias que lhes prejudicaram em seu desenvolvimento histórico, tanto para o Passado como para os seus desdobramentos e desenvolvimentos no Presente.

Axé Motumbá. Êpa, Êpa Babá!

Por uma Segunda Abolição!

Salve Zumbi dos Palmares!

 

(*) Flavio A. da S. Nascimento é historiador e filósofo, pós-doutor aposentado da UFMT e fundador do Movimento Negro de Rondonópolis-MNR

 

 

1 – “Aqueles que vinham de fora” – principalmente de Portugal.

 

 

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