O impeachment de Dilma, os pretensiosos de plantão e o vespeiro do povo brasileiro

Nos últimos dias, muito tem se falado sobre o impeachment da atual presidente reeleita no Brasil, Dilma Rousseff. A primeira manifestação foi concentrada no dia 15 de novembro de 2014, reunindo em São Paulo em frente ao Museu da arte, mais de 6 mil pessoas fechando boa parte da formosa e movimentada Avenida Paulista. O grito era óbvio e direto: “fora PT”. Com trios elétricos, militares e autoridades políticas, o vespeiro estava armado.
O que não dá muito para entender é que havia uma minoria de manifestantes defendendo a ditadura militar e, em outro grupo pessoas que manifestavam contra a ditadura, defendia a democracia, no entanto esse mesmo grupo também pedia anulação das eleições. É meio confuso, nunca a elite de direita se uniu tanto aos esquerdistas, nasceria ali uma nova sociedade? Em cima do trio notava-se de longe o representante da Liga Cristã Mundial, padre Carlos Maria Aguiar, iniciou seu discurso pedindo o impeachment de Dilma, afirmando que os brasileiros foram “roubados e saqueados”.
O mais notório desse discurso foi quando o padre declarou ser contra a ditadura dos gays. “O movimento LGBT está querendo impor ao Brasil uma demonização do cristianismo, do catolicismo e protestantes em geral, mais nós queremos que cada pessoa seja respeitada”. Outro ponto totalmente fora de conjunção, afinal, a manifestação era pela impugnação da atual presidente ou era um ringue de Vale Tudo? Vale manifestar pela desigualdade social, pela liberdade de expressão, pela volta de uma ditadura cruel, por acordos entre grupos sociais, pelo pão, pela farinha… Ou era apenas oportunidade que os oportunistas de plantão se valiam pela força do povo. Manifesto sim, alienamento não!
Em cima de outro trio e vestindo uma camisa da Seleção Brasileira de Futebol, o deputado federal eleito Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) defendeu a saída de Dilma da presidência. “O que nos move aqui é o desgoverno do PT, esse governo tem deixado o povo indignado”. Não era muito tarde para tentarem cassar um mandato de uma mulher que um pouco mais de um ano atrás consumia no exterior uma prato no valor de 25.000 mil reais, que se diz ter sido ex-guerrilheira nos anos de chumbo no Brasil? E que mesmo assim, foi eleita com quase 52% dos votos em urna? Não seria mais fácil antes de tudo, terem se atentado mais ao golpe que o PT vem dando ao Brasil? O mensalão não foi exposto durante anos para população saber de onde vinha a verdadeira força de Lula? Antes das eleições as portas da Petrobras não foram escancaradas? Vinha à tona o maior golpe de corrupção de uma estatal no Brasil.
O brasileiro que se diz ser tão ligado à mídia não acompanhava tudo isso? No pleito disputando a presidência havia 11 candidatos, a maioria sem nenhum rastro de ficha suja, e aparentemente aptos a governarem o Brasil. Mais o alienamento brasileiro tem sido o mal do século, não se interessaram em saber mais sobre os candidatos, de tanto o povo julgar Dilma, ela acabou sendo novamente eleita pelo próprio povo. Triste realidade!
Agora se iludem por um possível impeachment parecido com o de 92, que impugnou Fernando Collor de Melo. Vale lembrar que, no caso de Collor, houve comprovação que o presidente havia cometido um crime, tanto que foi julgado na época e destituído de seus direitos políticos, sendo obrigado a ficar oito anos sem concorrer a qualquer tipo de eleição. O vice-presidente Itamar Franco assumiu a Presidência. O impeachment ocorre no poder Executivo, por exemplo, ao Presidente da Republica, Governadores e Prefeitos. Quando acontece o impeachment significa que o mandato fica impugnado ou cassado. Segundo a Constituição, os crimes de responsabilidade são considerados aqueles que atentem contra a Constituição Federal.
Existe uma linha de sucessão bem definida no caso do impeachment. O primeiro na linha é o vice-presidente da República. Se por algum motivo ele também não puder, quem assume é o presidente da Câmara dos Deputados, no caso desse último também está impedido, quem assume o poder é o presidente do Senado.
O impeachment é um processo longo e para que ocorra, devem ser cumpridos vários passos, entre eles a denúncia, a acusação e o julgamento, no caso da atual presidenta ha apenas denúncias, nada comprovado! Ser incompetente é crime? Não, não é.
A situação é trágica, o brasileiro anda atormentado, formando um vespeiro de lamentações, a cada dia que se passa, o pão, o arroz e o aluguel ficam mais caros, é doloroso ter que pagar tão caro naquilo que já nos foi tributado. Mas, infelizmente, o momento agora é de posição e não de imposição.
Posição como eleitor, como pai, como filho, como estudante e outros vários status sociais que a vida nos permite. Não se corromper na hora das eleições é algo que deve ser militado no Brasil, é muito fácil agora ter que ir às ruas, pintar a cara e ir fazer barulho, difícil é ser fiel ao direito que nos foi dado.
Está certo, não existe político totalmente certo e honesto, não é assim que o povo diz na hora do voto? Mais por que votar num partido que está mais sujo do que o Rio Tietê em São Paulo? Por que não optar por uma figurinha nova? Acredito eu que a geração Y, geração nova que está vindo por aí, representa perigo ao crime de corrupção, ela é o futuro.
O PMDB, partido do vice-presidente se prepara para um especial horário político no próximo mês, com a certeza que levará essa. Eles são os mais populares. Estou exausto de ler em revistas, jornais, sites, tantas notícias ruins sobre a política e a economia do Brasil. Culpa de quem? Claro, irá sobrar para dona Dilma, pobre coitada, já não sabe mais o que fazer, o povo cobra, sem saber o motivo, e para que.
Não sou contra as manifestações de esquerda, desde que sejam realizadas com respeito ao patrimônio público, com prudência aos argumentos, sem pretensão de partidos de oposição e o principal; que saibam para que estão ali.
Será que no próximo manifesto 50% dos manifestantes saberão os motivos, o que serve um impeachment? Tomara que sim, mais duvido muito. Tomara que realmente os supostos crimes que a Dilma cometeu venham à tona, mais a pergunta que não quer calar: será mesmo que o atual vice-presidente saberá conduzir esse país para as luzes? Caso isso não aconteça, ele será o culpado? Ou haverá um outro impeachment? Não seria mais fácil resolver isso nas urnas? Elegendo com respeito e dignidade? Para que voto direto? Se indiretamente o voto tem sido indireto, através de boca de urna e compras de votos?
Pra ser brasileiro, não basta pintar a cara de verde e amarelo e sambar seu grito na avenida, ir ao campo de futebol e agitar uma torcida da seleção, não basta ir às urnas e votar, não basta saber de cor o hino nacional, para ser brasileiro, é preciso ler, escrever, tentar ser honesto, proclamar a paz, não tripudiar de seus próprios direitos, não receber propina quando ninguém está vendo, não desrespeitar sociedade a qual fazemos parte, exercer direitos e deveres. Certamente, isso não dependerá de Dilma e nem de qualquer outro executivo que vir tomar posse da Presidência da República, dependerá do povo.
Afinal, não somos o poder maior? Eu ainda sonho com um Brasil mais civilizado, culto e menos marionete de um sistema. Eu não irei a nenhum manifesto. Mesmo sendo admirador de um grito pela democracia brasileira, não vivi à época das Diretas Já, manifesto que consagrou o povo desse País com um voto direto no período militar, prefiro esperar que se passe mais 4 anos para então manifestar minha indignação contra esse governo, nas urnas, com o meu voto, com o meu direito e conhecimento. Se caso até lá eu mudar de opinião, certamente terei motivos.

(*) Renan Caldas é jornalista e estudante de direito