Fugi do meu sertão
E fui morar na cidade
Deixei aquele pedaço de chão
Encontrei outra realidade.
Para atravessar uma rua
Teria que olhar para ambos os lados
Ela não seria apenas sua
Se facilitasse poderia ser atropelado.
A calçada era muito estreita
Cheia de bancas e pedestres
Gente estranha que peita
Um indo pro norte outros para o leste.
Para comprar um pão
Pagava-se uma fortuna
Eu não via mais razão
Ficar sem forçar a coluna.
Lá no mato a gente morava
Deixava as portas abertas
Nem camiseta de dia usava
À noite, uma pequena coberta.
Aqui vivo morando atrás de grades
Com medo de ser roubado
Nem tenho um amigo, o compadre
Para prosear falar do passado.
Mas ainda dá tempo
De recuperar meu sono perdido
Decidi que esse será meu momento
Um momento que será esquecido.
(*) Francisco Assis Silva é poeta e militar – email: [email protected]