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O cheiro do banheiro

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Sandra Campos - 22-08-14

Pode parecer esquisito, mas eu confesso: não sei o que há no banheiro de fora da minha casa, mas o cheiro do banheiro me fascina. Às vezes entro só para sentir o cheiro do banheiro. Um aroma, perfume, fragrância boa, suave e doce, que me levou a pensar para qual momento de minha vida, qual memória afetiva aquele cheiro me transportava e me fazia sentir prazer e felicidade? Seria a infância? O cheiro bom de minha avó, que usava talco no pescoço sempre após o banho da tarde? Como ela era cheirosa! Seria o cheiro das minhas bonecas? Aquele cheirinho de chiclete? Ou o cheiro do meu ursinho agarradinho, que tanto gostava? Seria o cheiro daquele livro preferido, com suas páginas amareladas pelo tempo, mas cheias de humor? Na adolescência, seria o cheiro do primeiro amor? Nossa! Eu cheirava o cheiro dele, cheiroso demais!
Nesse pensar acabei descobrindo que é significativa a minha relação com os cheiros, na verdade, alguns momentos são marcados por cheiros que ficam pra sempre na memória e vez por outra, nos fazem recordar, mesmo que inconscientemente… acho que é o meu caso. Até lembrei daquele poema de Mário Quintana, que diz, “No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento…” Não lembro qual a memória do cheiro do banheiro, de repente, é porque é uma nova memória, construída aqui no Mato Grosso, trazida pelo vento, nessa casa grande, espaçosa, cheia de amor, de vida, de sonhos e de cheiros. E um especial é o cheiro doce do banheiro.
E você? Que cheiro bom vem à sua memória agora? Como diz Jota Quest, em sua música, sentir teu cheiro de roupa limpa… só hoje, ou Natiruts, quando eu penso em você eu sinto um cheiro de flor, ou será cheiro de relva? Qualquer que seja o cheiro, que seu perfume lhe traga um cheiro de amor, cheiro de aconchego, cheiro de paz, cheiro de mel, de mato, de eucalipto, de caçutinga, cheiro de pescaria, de terra molhada, cheiro de flores.
O cheiro do meu banheiro seria o cheiro da juventude que se foi e do buquê do meu casamento? Daquelas flores copo de leite, de uma beleza verdadeira e linda como a minha mãe? Ou o cheiro da maternidade adulta, amadurecida, e do filho menor que vive a cheirar o meu cabelo? Pode ser ainda, o cheiro do calor e do abraço do meu esposo dizendo e cantando como é grande o seu amor por mim! E eu tenho tanto pra te falar, mas só com palavras não sei dizer, talvez com cheiros! Com o seu cheiro, com o meu cheiro em você… cheiro de homem, de homem e mulher juntos, cheiro de borbulhas de amor, cheiro de amor no ar. E quem sabe é esse o cheiro doce do banheiro? E você? Que cheiro te fascina?

(*) Sandra Campos é cronista e moradora em Rondonópolis

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6 COMENTÁRIOS

  1. Que cheiro de poesia! Muito bom Sandra seu texto, parabéns pela inspiração, agora sinto cheiro de calor e cansaço de uma semana dura de trabalha!
    Sucesso em sua nova empreitado e que no final, sinta o cheiro da vitória!
    Wilson

  2. Chamou minha atenção pelo título e depois fisgou-me pela leveza da linguagem e por sua carga de lirismo. Especialmente, levou-me a refletir sobre minhas próprias lembranças olfativas, sempre carregadas de sentimento… Parabéns!!!

  3. Fantástica, me levou de volta à infância e o cheiro do gado na fazenda dos meus avós, cheiro de cavalo, cheiro da relva, cheiro da chuva e das flores que minha avó plantava no seu jardim. Ai vem a adolescência e viajo para o cheiro das namoradas, dos perfumes, de roupas novas. Depois, adulto, cheiro da esposa, dos filhos, das comidas (principalmente daquela carne do sol fritando na casa do vizinho), de carro novo, de casa nova, enfim, cheiro de tudo que nos faz viver!

  4. Ótima crônica. O que nos faz sermos quem somos são as sensações. A sensação do cheirinho do pão quentinho saindo do forno, do cheirinho de terra molhada após uma chuva, do cheirinho da casa da vó, cheirinho de quem amamos. Isso tudo e muito mais nos dá lembranças, que quando formos bem velhinhos ainda vamos nos recordar dessa deliciosa sensação.

  5. Sandra, gosto da leveza dos seus textos. E me identifiquei, porque gosto de cheiros. O mais marcante para mim é o de terra molhada. Na infância corria para casa no início da chuva e ficava contemplando o cheiro de terra molhada! Que Deus continue a alimentar seu dom com as palavras!

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