Um olhar além do material didático

Há alguns temas que nos desafiam pela sua complexidade e nos instigam a ampliar os conhecimentos porque envolvem fatos que muitas vezes não estão muito claros. Optei realizar um estudo sobre a Maçonaria, a Revolução Farroupilha (1835-1845) e o livro didático, numa ótica pertinente ao dialogo didático como parte da pesquisa  de Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura Plena em História/UFMT sob a  orientação do Prof. Dr. Ney Iared Reynaldo.
Ressalto de forma introdutória a influência Maçônica na Revolução Farroupilha cuja análise permite afirmar que não foi um caso isolado. Segundo nossas investigações, em muitos momentos a sociedade  contou com  forte presença dos Maçons em diferentes partes do mundo. Segundo a concepção braudelina, a maçonaria é um assunto recorrente de um processo de longa duração, quando é tratada como uma instituição de marcante participação e influência na política.
O período histórico iniciado no Brasil com a Abdicação de Dom Pedro I foi de reconfiguração do Estado e de constituição de uma determinada idéia de “nação” que se pretendia propriamente brasileira. A primeira metade do século XIX foi marcada por conflitos entre grupos de elite das várias províncias que disputavam a primazia do processo político, divididos entre diferentes concepções de arranjo institucional, alem dos vínculos que determinavam maior ou menor proximidade com o governo central e a Corte carioca.  No Rio Grande do Sul, essa situação culminou na Revolução Farroupilha, evento que por dez anos assolou a província.
Neste estudo, analiso como as relações maçônicas influenciaram o movimento Farroupilha em 20 de setembro de 1835, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e de que maneira essa temática é tratada nos livros didáticos. Nessa perspectiva, o analisar o regional, significa adentrar num espaço tradicionalmente produzido pela historiografia sobre a América Platina e o Rio Grande do Sul, isto é, a Maçonaria e a Revolução Farroupilha.
Atualmente, poucos são os estados que possuem uma produção historiográfica voltada para a sua história regional. Também, muito do que é conhecido como história do Brasil são produções regionais que se autodenominam “nacionais”. Desta forma, a discussão e a reflexão sobre o regional e o nacional ainda é muito pertinente no contexto da produção historiográfica brasileira.
A pesquisa sobre a influência da Maçonaria e Revolução Farroupilha, vem ao encontro de uma problemática preocupante e muito debatida a partir de 2008, acerca dos critérios avaliativos ao PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) adotados pelo MEC. Estes envolvem as perspectivas acerca dos livros didáticos e sua funcionalidade como aporte teórico metodológico, utilizado por professores e alunos em salas de aula do ensino fundamental e médio.
Aliados à herança do controle dos conteúdos por parte do Estado, pela compactação do livro por seus agentes de produção e sua característica mercadológica, aparecem muitas lacunas. Estas muitas vezes distorcem a temática histórica, entre erros conceituais, composição e a articulação dos conteúdos, e  evidenciam a possibilidade de um ensino estereotipado por meio de leituras ideológicas, mediada pelo livro didático. O propósito deste estudo é tentar revelar aspectos sobre a revolução Farroupilha que possibilitem  uma melhor compreensão sobre a luta pela construção da nação brasileira.

(*) Edilson Luis Ferrarini, graduando do curso de Licenciatura Plena em História/UFMT/CUR/ICHS. E-mail: [email protected]